Para que a teia de lã possa ser transformada em manta ou vestuário terá de ser pisoada e, para isso, lá existe um engenho, o pisão, cujas origens, para não destoar do tear a que anda associado, também não é fácil de situar historicamente no espaço e no tempo.
ORGULHO E FORÇA DAS ORIGENS
O conhecimento das comunidades rurais, das suas formas de viver, usos e costumes, carências e adversidades da vida, nem sempre advêm dos livros e da palavra escrita.
Nos meados do século XX, a maioria da população portuguesa era analfabeta e muitos dos contratos e negócios dos camponeses assentava na palavra dada. Na «PALAVRA DE HONRA». Em casa, nas feiras ou nas romarias.
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ESTRADA ROMANA À ILHARGA DE CASTRO DAIRE
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Menino ainda, não tinha desculpa possível para me recusar a ir onde quer que fosse mandado, alegando desconhecer o sítio: «quem tem boca, vai a Roma», «todos os caminhos vão dar a Roma» eram as frases que sucediam à minha hesitação e confirmavam, depois, o sucesso do recado cumprido. Mas, se cedo aprendi o significado de tão «sábias» expressões, tarde soube que elas eram o fruto de muitos séculos do Império Romano, onde se incluía o território que viria a ser Portugal.
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REALIDADE E FANTASIA
No dia 23 de julho, todo o dia, a RTP assentou arraiais no Jardim Municipal de Castro Daire para emitir daqui o programa “7 MARAVILHAS DA CULTURA POPULAR”.
Avisado antecipadamente e precavido, peguei no comando MEO e cliquei no botãozinho encarnado, não fosse eu perder o oferecido PITÉU. Quanto custou? Quantos ZEROS teve o cheque ou a ordem de transferência bancária?
PONTE DE CABAÇOS
No afastado ano de 1995, no gozo da minha «LICENÇA SABÁTICA», enquanto professor da Escola Preparatória de Castro Daire, pés a caminho, e toca a pôr em prática o “PROJETO DE INVESTIGAÇÃO APLICADA” que me propus levar a cabo, com o aval do Ministério da Educação e do Professor Universitário Jorge Custódio. Assunto: ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL adentro do território concelhio.
Acabado o projeto, passado para o papel grande parte do produto investigado, propus ao EXECUTIVO MUNICIPAL, presidido, então, pelo senhor João Matias, a sua primeira edição, em livro, proposta que foi aceite, ficando a cargo do Município, exclusivamente, os custos da impressão.
A VERDADE E A MENTIRA
Não, não e não!
Um HISTORIADOR não deturpa a HISTÓRIA, nem confunde FACTOS REAIS de trabalho, a forma de ganhar a vida dos PASTORES DA SERRA DA ESTRELA, com RECREAÇÕES FOLCLÓRICAS LOCAIS de ENTRETENIMENTO e de CONVENIÊNCIA, a coberto dos nossos “usos e costumes”.
CRUZADOS, PATACOS E REIS
Iniciado nos estudos da ARQUEOLOGIA pelo Professor António Cavaleiro Paixão, na Faculdade de Letras de Lourenço Marques, durante as exploração que fizemos numa estação PALEOTÍTICA no sítio do MASSINGIR, que ficaria submerso logo que enchesse a barragem que então ali se estava a construir, ficaram-me na memória as técnicas dessa “ciência” e os artefactos que enriquecem o espólio pré-histórico daquela Universidade. E também os quilómetros de estrada que separam aquele sítio de Lourenço Marques, percorridos destemidamente sozinho, durante a noite, metido no meu carro IZUZU BELET. Zona de fauna selvagem e estradas de terra batida, ao ponto do carro ter mudado de cor ao fim do percurso. Os quilómetros andados, deixo-os para os curiosos e aventureiros que se metam a corrê-los nos mapas da Internet. Isto para memória dos meus filhos e netos, quando um dia, puserem os olhos naquele território e poderem dizer: “o meu avô esteve e passou por aqui”.
O VALOR DA HISTÓRIA
Ontem, um programa que vi na televisão, cerca das 21 horas (já não sei em que canal, nem estou para ir confirmar), levou-me até TRESMINAS (Trás-os-Montes), sítio de exploração de ouro levada a cabopelos romanos durante o seu domínio territorial.
ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL
No meu livro “CUJÓ, UMA TERRA DE RIBA-PAIVA” existe um capítulo sobre a indústria moageira tradicional, com referência a todos os moinhos hidráulicos existentes ao longo dos rios Calvo e do rio Mau, mas também a referência à MOAGEM que, por falta de água nos rios, levou o meu pai, Salvador de Carvalho, de parceria com os Tibérios (os Teixeiras) a instalá-la por forma a que nela os cereais fossem transformados em farinha. O meu pai fornecia as instalações, as mós, o correame e mais apetrechos e os Tibérios o motor da sua malhadeira, primeira e única na povoação, nessa altura.
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IINDÚSTRIA DE TECIDOS - O PISÃO
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Para que a teia de lã seja transformada em manta ou vestuário terá de ser pisoada e, para isso, lá existe um engenho, o pisão, cujas origens, para não destoar do tear a que anda associado, também não é fácil saber.
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Engenho movido a energia hidráulica (ver figura) o seu equipamento é constituído essencialmente por uma «roda motriz», exterior ao edifício. Girando à força da água, o «eixo» que nela entronca, atravessado por duas «esperas», «dobadoiras» ou «levas» que nele são colocadas, em cruz, a pouca distância uma da outra, constituindo como que os cotovelos de uma cambota, transmite o movimento aos «maços» que, alternadamente, são forçados a levantarem-se e a caírem soltos sobre a teia colocada na «masseira», ou «caldeadoiro».
Construído com materiais existentes na região, este tipo de engenho bem pode ser considerado um dinossauro no reino da técnica. Troncos e barrotes de madeira, geralmente carvalho e castanho, adquirem a forma e os nomes próprios dados pelo traçador, pela serra braçal, pelo machado e pela enxó. São os nomes que lhe advêm da função e do lugar que cada peça toma no corpo do «maquinismo» : roda motriz, eixo, esperas (levas), rabadilhas, maços (ou malhos), chavelhas, merendos, barelas, entroncas, masseira (ou gastalho/caldeadoiro) etc.
Só a «caldeira» é de cobre. Só a caldeira não é de fabrico doméstico. Suspensa sobre a «fornalha» tem por função enviar permanentemente água quente para a masseira e manter a teia humedecida para facilitar o aperto do tecido.
O pisoeiro vela por isso. De tantas em tantas horas, utilizando o «pejadoiro» (tábua que, atravessando a parede, foi colocada a jeito de desviar a água da roda motriz, sem se sair do interior das instalações) imobiliza o engenho e, agarrando uma ponta da teia, enrola-a no «orgão» de madeira (tipo rodízio de tirar água ou terra de poços), colocado mesmo ao lado, a fim de aferir o aperto e a textura do tecido. Se está capaz, vai colocá-lo ao sol, estendido nos lameiros circundantes. Se não está, devolve-o à masseira (uma espécie de gamela cavada num tronco de árvore) e recomeça o processo.
Dos pisões que ainda laboravam nos meados deste século no concelho de Castro Daire, só restam três e um deles arrancado ao seu habitáculo de origem a fim de não levar o destino dos outros. Todo o engenho, já em franca degradação, deixou a Ponte da Ermida, ali, onde se juntam os ribeiros de Mouramorta e da Carvalhosa, e foi levado para o Mezio, em 1987, onde foi recuperado e montado a coberto de novas instalações construídas de granito.
O outros dois situam-se na freguesia de Pinheiro, no ribeiro da Carvalhosa, a uns escassos 500 metros da arruinada e medieval povoação do Bugalhão. Um, situa-se na Fonte Branca, e o outro, na Ruínha, este a escassos 100 metros a montante daquele.
O da Fonte Branca era, nos fins do século passado, propriedade de João da Costa Pinto, de Cetos. Passado aos herdeiros, acabou nas mãos de António da Costa e deste passou a Celestino Inácio de Paiva, do Sobradinho, que casou com uma filha daquele que, em meados deste século, havia-de ser conhecido nas redondezas por «António Pisoeiro».
O da Ruinha pertence actualmente a Guilherme da Costa, de Picão.
NOTA: A DESCRIÇÃO DO FUNCIONAMENTO DO «PISÃO» CONSTA DO MEU LIVRO «CUJÓ, UMA TERRA DE RIBA-PAIVA» PUBLICADO EM 1993 E TAMBÉM NO MEU LIVRO «CASTRO DAIRE, INDÚSTRIA, TÉCNICA E CULTURA» PUBLICADO EM 1995. FIZ A TRANSCRIÇÃO PARA ESTE MEU SITE, HOJE MESMO, A FIM DE PARTILHÁ-LA NO MURAL DO FACEBOOK, FACE À PERGUNTA DE UM CONTERRÂNEO MEU, QUERENDO SABER PARA QUE SERVIA O PISÃO.
É O QUE VOU FAZER DE SEGUIDA.
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RESTAUROS DE VIDA
Nascido em 1939, criado numa aldeia serrana - CUJÓ - com características vincadamente medievais no viver coletivo, desde a economia agro-pastoril, às habitações cobertas de colmo, técnicas agrícolas e indústrias artesanais a condizer, o uso das energias animal, humana e hidráulica nas tarefas necessárias, a tal forma de viver se ligavam os equipamentos destinados à iluminação, também eles a remeterem para esses tempos longínquos, básicos e primários, v.g. a agulha de pinheiro, a pinha, a vela, a candeia e lanterna alimentadas a petróleo.
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