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sábado, 11 fevereiro 2023 15:59

RERIZ - DO EXECUTIVO VILÃO AO EXECUTIVO FIFALGO

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A QUINTA DE RABAELO NA HISTÓRIA

Em crónicas anteriores verificamos que, não podendo os «ricos-homens» fixar-se no concelho de Castro Daire, João Pereira, alcaide-mor de Guimarães e fidalgo da casa Real, conseguiu a carta de privilégio para sancionar as JUSTIÇAS DA TERRA neste concelho, v.g. os «oficiais da Câmara» que tinham nas mãos a gestão do município. Digamos que era o atual EXECUTIVO MUNICIPAL. Foi a forma enviesada da classe «nobre» interferir no poder local. E até que, de forma direta, isso viesse a acontecer, ainda passaria muito tempo. Não é, propriamente, por acaso, que as «casas brasonadas» dentro dos limites do concelho se remetem para o século XVIII.

 

Mas, bem próximo, nos arredores de Reriz, já temos «cavaleiros» residentes, ali «in situ dicitur» Rabaelo, tal como nos dizem as inquirições de 1258. Com efeito,  os inquiridores, incumbidos de saberem o caminho ou descaminho que levavam as terras e foros devidos ao rei, certificaram-se, pela boca de Estéfano Mendes, prelado da Igreja de São Martinho de Reriz, que a Igreja estava situada nas terras regalengas e o que o monarca era «de jure» o seu patrono.

E interrogado sobre quem «apresentava» a igreja, ele disse que «Pedro Rabaelo e seus filhos e Pedro Velasques e Rui Velasques e Martinho João e Gonçalves Joanes de Venial e outros cavaleiros de Rabaelo fizeram-se patronos e herdeiros e apresentam a Igreja».

Mas disso não havia qualquer testamento. E a mesma testemunha disse ainda que estando a Igreja construída em terras do rei, estas estavam separadas das terras dos cavaleiros Rabaelo pelo rio «Pongidi, quoomodo venit ipse rivulus de fine de monte, qui dicitur Cimal, contra Alvam et intrat in Paviam, et eclesia stat inter villam de Reryz, que est tota regalenga, et inter ipsum rivulum de Pongidi». 

Dadas as referências que aqui vemos relativas ao rio que serve de linha divisória entre as terras de Reriz e as terras de Rabaelo, as primeiras pertencentes ao Rei, as segundas aos cavaleiros desse apelido, estamos na presença do ribeiro atualmente conhecido pelo nome de Aziboso, o mesmo que nasce no monte Cimal, lá para os lados de Alva e vai desaguar no rio Paiva.

Todas estas afirmações são corroboradas por outras testemunhas, entre as quais João Pedro que, na altura, desempenhava as funções de juiz de Reriz e bem assim João de Rabaelo.

            E «inquirindo» tudo e todos, os «vero inquiridores» sobre a questão do Mosteiro da Ermida possuir, por testamento, dois moinhos no rio Paiva em terras regalengas, termo de Reriz, moinhos que, segundo o depoimento das testemunhas ouvidas, teriam sido, um, do Casal de Fernando João, de Reriz e outro do casal Egas Martins, também se pronunciaram João Rabaelo e Martinho Pelágio, de Rabaelo, os quais corroborarem as afirmações feitas.

Por aqui ficamos a saber que em 1258 a família de apelido Rabaelo, uma família da alta nobreza portuguesa, com o estatuto de cavaleiros, era possuidora de terras confinantes com Reriz, certamente em torno da quinta de Rabaelo, cujo nome chegou aos nossos dias E devemos lembrar que os membros dessa família  «fizeram-se patronos e herdeiros e apresentam a Igreja».

 Digo nome e não as moradias e as alpendradas. Pois a fazer fé na data de 1766 que foi lavrada na padieira do portão principal, por baixo do brasão de armas, cuja foto ilustra esta página, sabemos que a Idade Média, em termos do friso cronológico adotado por académicos e assumido nos compêndios escolares, já esta ficava muito lá para trás. Não tanto a vida, a indústria artesanal, as ferramentas e técnicas agrícolas, as habitações e formas de viver, pois essas bem se estenderam até meados do século XX.

            E curioso é anotar que o nome da QUINTA e dos seus remotos proprietários mantém, nos dias de hoje, não a grafia, mas pronúncia medievais. Esta jamais evolui para Rebelo, uma das famílias mais antigas da fidalguia portuguesa, originária do «senhorio do couto de Rebelo, no julgado de Roriz (extinto concelho de Negrelos) Santo Tirso, dos quais era senhor em finais do século XII um Afonso Martins. Foi neto deste, filho de seu filho Vasco, Rui Vasques Rebelo, que do seu casamento com D. Teresa Soares de Gusmão, teve descendência que lhes continuou o apelido». (SOUSA, Manuel de «As Origens dos Apelidos das Famílias Portuguesas», Sporpress,  Sociedade Editorial e Distribuidora, Lda., Mem Marrtins, 2001, pp. 213) 

Rabelo-1-2

E é para os especialistas na heráldica que deixo a leitura dos dois brasões esquartelados que ornamentam os portões da entrada da casa. Um deles fica por cima de uma padieira com a data de 1766. E tudo indica tratar-se de um portão destinado a servir a parte da casa que foi ampliada de encosto à primitiva construção. O outro sobre o portão principal, hoje relegado para segundo plano em termos de serventia. 

Este portão abre para um amplo pátio fechado e dele sobem para o primeiro patamar da moradia umas escadas com bela balaustrada granítica. À direita de quem entra, nesse pátio, a capela privativa de evocação a Senhora da Guia, mandada fazer por Carlos José de Sequeira Leitão, casado com D. Luísa Teresa Pereira Pinto e Vasconcelos, que recebeu licença para a sua bênção em 28 de Agosto de 1870. (Alexante Alves, Castro Daire», 1986, pp 299)

Neste princípio do século XXI, os proprietários da Casa de Rabaelo são  os senhores António José de Almeida Dias e irmãos, que a herdaram do seu pai Manuel Paiva Dias que juntamente com José Paiva Carneiro a adquiriam, em 1910, a um senhor  da Nespereira Alta, S. Pedro do Sul, ligada à linhagem dos Malafaias

Nos dois brasões, ainda que distribuídos de forma diferente, vemos elementos das famílias dos Rebelos, dos Pereiras, dos Pintos e dos Sampaios, sendo que um ostenta no timbre um leão e outro um faisão.   

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.