PRIMEIRA PARTE
Reportei-me já ao “menino” JOAQUIM DE SOUSA ALMEIDA em crónica anterior, e hoje, suportado no “RELATÓRIO E CONTAS” da “ASSOCIAÇÃO DOS A,IGOS DA ESCOLA”, de 1962, posso acrescentar, transcrevendo:
“Como o prémio era individual e atribuído ao aluno ou aluna mais pobre de qualquer das escolas do concelho que fizesse o melhor exame da 4. classe, surgiram dificuldades por serem 7 os júris examinadores. De acordo com a mesma importante Empresa, foi resolvido que o prémio fosse sorteado entre os alunos escolhidos por todos os júris e esses alunos foram:
-
Maria dos anjos de Sul Costa, do Posto Escolar de Portela, Mões.
- Maria de Fátima de Almeida Monteiro, da Escola de Castro Daire.
-
Maria Laurinda Ferreira Lemos, da escola de Farejinhas.
-
Agostinho de Almeida, do Posto Escolar de Savariz.
-
António José Morgado de Almeida, do Posto Escolar do Vilar.
-
Joaquim Morais Vicente, sa Escola de Castro Daire,
Somente SEIS alunos porque o QUINTO júri não indicou ninguém.
E finalmente houve uma houve na Escola uma sessão que se realizou em 22-12-1962.
Constituiu-se uma Mesa a que presidiu o Presidente desta Direção (Dr. Pio Figueiredo) ladeado pelo representante da Empresa, Sr. ALCIDES FERREIRA GUEDES e pelo Delegado Escolar, Sr. Prof. MANUEL MARADO.
O Presidente da Mesa e o senhor Delegado escolar, agradeceram o simpático e útil gesto da Empresa e dirigindo-se às crianças presentes, tendo o mesmo senhor Delegado produzido fluentes e oportunas considerações.
Feito o sorteio, couberam os 1.000$00 à aluna MARIA DE FÁTIMA que bem contente ficou com o dinheiro e com as palavras com que foi brindada, ela e os seus pequenos competidores”.
A Direção era constituída pelos seguintes cidadãos:
Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo
Júlio Alexandre Pinto
Amadeu Miranda Poças.
O Relatório começa com a necessidade de se fazerem algumas restrições nas despesas, mas explica que “nem por isso a miudagem ficou sem nada, pois, mercê das generosidades anónimas estranhas à nossa terra, foi possível entregar-lhe:
12 capas de burel para rapazes; 8 casacos de burel para raparigas; 32 camisolas de lã; 30 pares de socos.
E algumas dezenas de pentes e lenços de algibeira, coisas estas, todas, que ficaram em cerca de 3 contos e meio, não contando o valor do trabalho das camisolas que foi graciosamente executado por algumas senhoras desta vila.
E em dinheiro da mesma proveniência, também foi adquirida uma caixa de sabão que as crianças irão levando para casa em pequenos bocados que desejamos sirvam de estímulo às mães para lhes lavarem os corpos e as roupas..
É que à necessidade absoluta de incutir HABITOS DE HIGIENE utilizando para isso todos os meios aproveitáveis. Não basta que na Escola se ensine a escrever o nome e a fazer umas contas. Isso é bom, mas não chega. Há que educar, que melhorar e, nesse sentido, todos deve empregar os nossos esforços e, mais que todos, a Escola.
O bom nome, o progresso de Portugal de amanhã está na pequenada que hoje anda nas PRIMEIRAS LETRAS.
Neste ano foram à praia 21 crianças, sendo as despesas de uma delas inteiramente pagas por usa família, como consta nas contas que vão adiante. Vê-se na RECEITA que recebemos da Senhora D. Jane Serrado, 12.640$30 dinheiro destinado às despesas da praia e que presentemente representa, em moeda brasileira, muito mais que 300 contos. A grande amiga da pequenada não deixa de cuidar carinhosamente da saúde dos seus “afilhados”.
(…)
Está a ser fornecida a refeição do meio-dia às crianças em condições muito lastimáveis, impróprias.
SEGUNDA PARTE
Pelo que deixo transcrito do RELATÓRIO e CONTAS de 1962, relativamente aos HABITOS HIGIÉNICOS melhor se compreende a atitude do Senhor EDUARDO PINTO CARVALHO, conhecido comerciante com porta aberta na vila de Castro Daire, ao “arrebanhar” a garotada castrense e, a pretexto de os “ensinar a nadar”, os levar a “tomar banho” no Rio Paiva, ali, no PENEDO DA ARGOLA (rio dos homens) como amplamente demonstrei, quer em crónica escrita, quer em vídeo.
Posto o que pode perguntar-se o que tem tudo isto a ver com as “COMEMORAÇÕES DOS CINQUENTA ANOS DE 25 DE ABRIL DE 1974?”
Claro que não vou dar nenhuma resposta. A matéria histórica que tenho “pescado” e “repescado” no RIO PAIVA e fora dele, é matéria bastante, para, qualquer pessoa inteligente (como presumo serem todos os meus seguidores), dispensar EXPLICAÇÃO.
CONCLUSÃO
Retornando ao princípio, com vista a sublinhar a peugada material e imaterial que GENTE DA TERRA deixou marcada no solo castrense, diferentemente daqueles que passam e não deixam rasto digno de NOTA, vimos que, em representação da Empresa instituidora do PRÉMIO ESCOLAR, estava o senhor ALCIDES FERREIRA GUEDES, cidadão que eu ainda conheci e com quem privei algumas vezes nos CAFÉS e espaços livres desta vila. Não sendo propriamente “amigos” de longa data (só o conheci a partir do meu retorno ao concelho de origem no ano letivo de 1983/1984) tivemos uma relação social sadia, agradável e muito proveitosa para mim, pois, foi ele, a par de outros castrenses do seu tempo, que me transmitiram alguns episódios relacionados com o 25 de abril de 1974, por eles vividos, aqui, no «CRASTO» , como já referi, em devido tempo.
Entretanto falecido, poderei dizer que ele era um “gentleman” de corpo inteiro. Um SENHOR muito respeitado e respeitador. Era marido da minha colega, professora LÚCIA GUEDES, na Escola Preparatória de Castro Daire, senhora de esmerado trato, a quem estou muito agradecido pelos documentos que ela me forneceu sobre o SOLAR DA SOENGA (Rezende) e seus proprietários, no século XVIII, a saber, D. Joaquim de Carvalho Cabral de Azevedo Menezes, que foi casado com D. Maria Antónia de Faro e Noronha Manuel Tovar e Menezes, casal que pôs no mundo uma prole de 8 filhos, 4 raparigas e 4 rapazes, entre os quais, o mais novo, foi D. Henrique de Azevedo Faro Noronha e Menezes, nascido em 10.12.1801 e que, por via do casamento, se ligaria a MÕES (C. Daire), terra onde faleceu em 2 de Janeiro de 1876 (cf. “NOBREZA DE MÕES”, neste SITE)
Ora, fazendo eu ver a essa minha colega que pretendia lançar luz nos tempos atuais sobre a história apagada do património edificado e humano desses tempos longínquos, ligados a essa nobre FAMÍLIA, ela não regateou esforços no sentido de eu levar a “carta a Garcia”. E levei. Cotejando os dados fornecidos com outros provenientes da minha investigação, produzi a peça que publiquei, há alguns anos no meu SITE, para a qual remeto mais acima. Na parte que lhe toca a ela, aqui lhe deixo os meus sinceros agradecimentos.