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terça, 26 setembro 2023 12:49

LAMELAS «PEGADAS NO TEMPO E NO ESPAÇO» (20)

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PENEDO DO CAVALEIRO

 Recentemente, por iniciativa das GENTES DE LAMELAS,  nomeadamente Hélio Silva, Diogo Baronete, António Pinto e outros, sempre diligentes em valorizar o património edificado e natural existente em redor, desviada que foi a água do seu curso milenar, perdido que foi, por enquanto, o espumoso e cantante caudal que, em queda livre e contínua, brilhava ao sol, para encanto e admiração do passante, água escorrida encosta abaixo, a imitar o estendal da «roupa branca» que uma moura encantada, moradora naqueles penhascos, nas manhãs de S. João, punha  ao sol, semelhantemente a tantas outras lendas que preenchiam o imaginário camponês, mouras sempre prontas a saírem do PENEDIO e a mostrarem a riqueza e poderio que os MOUROS tiveram enquanto dominaram o território, vg. PENEDO DA MOURA na Relva (freguesia de Monteiras), a ORCA DA MOURA,  (arredores de PENDILHE), a COVA  DA  MOURA, (os arredores de ALVA), a GRUTA DA MOURA, junto ao RIO PAIVA, (território de PEPIM) semelhantemente, dizia eu,  a tantos outros PENEDOS com nomes e protagonismo local,  apareceu ali o PENDEDO DO CAVALEIRO, a desafiar os tempos e a imaginação,  fim de se valorizar o espaço e a panorâmica que dali se alcança a olho nu, ou de binóculos,

 

 cavaleiroE, para atrativo turístico, essas pessoas, naturais da terra, cheias de boas intenções, com a colaboração de quem sabe do ofício de carpintaria, congeminaram e puseram ali um CAVALO DE MADEIRA, com funções de balouço. Tudo com despesas e trabalho seu, inclusive a canalização da água que andava perdida no baldio de Landes, depois de ter sido explorada, há anos, pela Câmara Municipal.

Ainda que, no princípio se pensasse encharcá-la em «covinhas» feitas nos penedos, à semelhança das que existem na serra e recebem as águas das chuvas, tudo acabou num recetáculo artificial feito pelo senhor Narciso Pinto, homem que, como já deixei amplamente provado, «está em tudo» que resulte melhoramento para a aldeia e o concelho. Um homem dos sete ofícios.

 A foto que ilustra este apontamento mostra o senhor Hélio Silva encavalitado no PENEDO DO CAVALEIRO, no dia em que gentilmente ali me conduziu e me mostrou as benfeitorias em redor, a saber, os acessos que ali levam a partir da estrada que liga Lamelas a Codessais e a colaboração dos populares, da autarquia e dos Bombeiros, na limpeza dos matos e da abertura encosta arriba.

 E, ainda que todas estas coisas de interesse coletivo, envolvendo sempre opiniões convergentes e divergentes, tenham, por vezes, períodos de estagnação ou imobilismo, o certo é que já muita gente da terra e fora dela ali foi alcandorar-se, usufruir da panorâmica natural envolvente, CORES E AROMAS, e, seguidamente,  «botar» figura nos seus «murais» do Facebook. 

 QUEIRÓ-cor lilásDigamos, por antecipação,  que o PENEDO DO CAVALEIRO virá a ser um complemento turístico do PARQUE ADVENTURE POMBEIRA, empreendimento que o atual Executivo Municipal resolveu (e muito bem)  levar a efeito no sítio das antigas CASCATAS, visando assim colmatar, artificialmente, a perdida beleza natural que a mini-barragem, feita a montante como já disse, tirou dos olhos e dos ouvidos dos passantes, da natureza amantes. E conciliar, dessa forma, o passado e o presente, desiderato nem sempre conseguido sem sacrifício de algo natural e histórico. É o caso vertente. Contudo só  futuro dirá se os dinheiros públicos ali gastos virão a ter o retorno humano esperado e tão necessário neste PORTUGAL INTERIOR  E DESERTIFICADO.

 O cronista, assumido lenhador na floresta das letras, sempre de podão em punho, a bem do seu concelho e da humanidade, espera que o empreendimento tenha sucesso e que, quando for tomar uma «bica» e dar «dois dedos de conversa» no «CAFÉ MIRA-POMBEIRA» do senhor HÉLIO SILVA se possa congratular com a iniciativa e admirar o movimento trazido à região pela «via ferrata», a «escalada», o «miradouro», as «piscinas naturais» e tudo o mais que ali converge do lado  de Lamelas e de Codessais. (topónimo escrito propositadamente com dois «SS» por entender que ele deriva de «CODESSOS» e eu me recusar a perpetuar um ERRO cometido algures no passado, por escriba desatento. Isto apesar de saber que Portugal Inteiro está polvilhado de «Codeçais» (com «ç) e também de «Codessais».)

 Este nosso interior, com erros ou sem erros toponímicos, tornou-se, há uma vintena de anos, produtor de energia hídrica e eólica. Antes, porém, já a serra era fornecedora de energia às cidades, mosteiros, solares de quintas e tendas de ferreiros . A «urgueira» atualmente em vias de extinção, era planta que dava a «torga» para fazer carvão (cf. crónica específica neste site). 

Por isso quem se passear por cá com simples espírito de passeio e de aventura, leva também um pedacinho de HISTÓRIA servida na bandeja rústica do ar puro, do oxigénio da serra,daqui, deste espaço amplo e livre do monóxido de carbono que sufoca as grandes cidades, ditas civilizadas.  Aquelas que, seguramente, são as grandes consumidoras da energia que da serra sai.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.