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sábado, 07 setembro 2024 13:06

25 DE ABRIL DE 1974 “CINQUENTA ANOS DEPOIS” 2024 (6)

Escrito por 

GENTE DA TERRA - JOÃO AUGUSTO MATIAS PEREIRA

Para dar corpo ao apontamento anterior, relativo a JOAQUIM GUEDES, fui buscar parte do conteúdo ao meu livro “Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura”, obra que resultou da minha “licença sabática” concedida pelo MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO para eu levar a cabo, como levei, um “Projeto de Investigação Aplicada”, subordinado a esse título.

Sem prejuízo de retomar os APONTAMENTOS relativos ao “25 DE ABRIL DE 1974” tem cabimento lembrar aqui a boa vontade do EXECUTIVO MUNICIPAL em dar à luz do conhecimento o produto da minha investigação.

 PRIMEIRA PARTE

1-MATIASDe facto, executado o trabalho, por relatar assuntos da HISTÓRIA LOCAL, de interesse concelhio, solicitei ao Executivo Municipal, então presidido pelo senhor JOÃO AUGUSTO MATIAS PEREIRA, que assumisse os custos da sua publicação, cedendo-lhe eu os “direitos de autor” da PRIMEIRA EDIÇÃO (reservando-me o direito das seguintes) o que foi imediatamente aceite. 

Coube assim ao EXECUTIVO MUNICIPAL assumir os custos da impressão e bem assim a organização da cerimónia de lançamentovenda e detribuição por livrarias e bibliotecas.

Veio a constatar-se, posteriormente, ser o livro mais solicitado e consultado nas bibliotecas escolares e na Biblioteca Municipal.

São do, então, PRESIDENTE DA CÂMARA, JOÃO AUGUSTO MATIAS PEREIRA , as palavras que se seguem, quer retiradas da NOTA PRÉVIA quer ditas na “cerimónia de lançamento”, que teve lugar no salão nobre das PAÇOS DO CONCELHO, em 14.11.95.

 

I

2-MATIAS«(...) Imprescindível se torna avaliar costumes, danças, cantares, atitudes, crenças, ferramentas, utensílios e tudo o que constitui uma praxis específica. O concelho de Castro Daire é, neste aspeto, uma fonte que jorra abundantemente para o amante da nobre tarefa de investigar. É um atrativo para aquele que, não se contentando com meras aparências, pesquisa o que, vulgarmente, pode parecer desprezível e sem valor. O que é iluminado e orientado pelo saber académico e pela experiência nestas andanças não menospreza a observação das transformações culturais e procura, com subtileza, identificar os elementos que unem ou separam o dia-a-dia menos recente dos tempos hodiernos. Tem sido esta a atitude desse insigne investigador da História Local - Dr. Abílio Pereira de Carvalho, também bem patente em «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura». (...) Ao autor e a todas as pessoas que, de algum modo, contribuíram para a realização deste trabalho manifestam o concelho e a Câmara Municipal a sua gratidão».

 (…) 

 «Castro Daire - Indústria, Técnica e Cultura» é uma obra do Dr. Abílio Pereira de Carvalho, um autor já consagrado em virtude de muito que tem dado de si, do seu tempo e da sua competência ao estudo aturado de múltiplos aspetos histórico-culturais do concelho.


Para além de inúmeros artigos em diversos órgãos da imprensa regional, o Dr. Abílio já deu à estampa diversas obras (...) Nos últimos tempos, o autor, aproveitando a licença sabática, lançou-se a um grande empreendimento que é um autêntico inventário da indústria e da técnica que deu à nossa cultura uma identidade própria.


CLIVRO-aracterizado por um visualismo muito próprio do investigador, o Dr. Abílio viveu, nos últimos tempos, um nomadismo característico de quem, não se poupando a esforços, percorre montes e vales para elaborar um trabalho de índole científica e proporcionar (...) uma tradução fiel do mundo que nos rodeia. Foi desta procura incessante dos factos e do intento de conhecer «in loco» a realidade, que resultou o conhecimento do saber e do saber-fazer retratado em «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura».
(...)
Pela minúcia revelada, pelo conjunto de atividades tratadas e porque cremos que constitui um valioso testemunho tanto para o presente como para as gerações vindouras, em boa hora deliberou a Câmara Municipal responsabilizar-se financeiramente por esta primeira edição.

(...) 
Aos senhores professores peço que utilizem este rico inventário do património espalhado pelo concelho para que as nossas crianças e jovens conheçam este elo de ligação entre o presente e o passado.

(...)
Agradeço-lhe esta obra em nome do concelho e fique ciente que a Câmara nada mais fez que, dentro da política cultural adotada, apoiar uma obra de um castrense acerca do que é nosso e que é para nós».

II

Seguiu-se no uso da palavra o SENHOR PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPALDr. JOÃO DUARTE DE OLIVEIRA, advogado, que  disse:

DUARTE OLIVEIRA-1« (...)  Sou um amante da cultura, admiro aqueles que tem capacidade e valor para produzir saber. O Dr. Abílio é um construtor de arte, um fazedor de cultura, um trabalhador da inteligência, um proletário da mente. Ele tem espalhado conhecimentos, cultura e saber pelo concelho e pelo país. Muito do que nós somos ele tem dado a conhecer pelo País inteiro. É merecedor da nossa gratidão, do nosso reconhecimento e da nossa estima. Os seus livros e opúsculos são o retrato do concelho e o testemunho da sua personalidade e da sua cultura. Nós estamos aqui não só para o lançamento do seu livro, mas para lhe prestar uma homenagem. O nosso jornal «Notícias de Castro Daire» já o pôs na primeira página, que é o lugar que ele merece. E já o considerou o homem da Cultura do concelho. É a sua consagração como homem de saber, como proletário da mente. Ele é, efetivamente, como está na moda dizer-se, um proletário da mente, pois não enriquece com os seus livros. Ele investiga mais com o espírito de colaboração e solidariedade, de amor à arte e ao saber do que por razões económicas. Tem por isso a nossa consideração, o nosso respeito e a nossa amizade (...)».



SEGUNDA  PARTE

DUARTE OLIVEIRA-2Leram e entenderam? Claro que sim. E leram e entenderam bem. Esta série de APONTAMENTOS versou e versa  sobre o “25 DE ABRIL DE 1974, CINQUENTA ANOS DEPOIS” e, assim sendo, eu mais não fiz, do que lembrar que o Dr. João Duarte de Oliveira era, à data da “REVOLUÇÃO DOS CRAVOS”, o Presidente da Câmara de Castro Daire, cidadão que só não foi preso pelo COPCON, graças à intervenção do POVO que, amotinado, com o sino a rebate, acorreu em sua defesa, cercando a sua casa e pondo em apuros os militares portadores do conveniente  mandato de captura. Ele que, como se viu acima, muitos anos depois, na situação de PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL, reportando-se a um adversário político, reconheceu ele ser  “um construtor de arte, um fazedor de cultura, um trabalhador da inteligência, um proletário da mente”. 

De notar que, na circunstância, não houve uma palavra escrita ou falada vinda do, então, VEREADOR DO PELOURO DA CULTURA, eleito nas listas do PARTIDO SOCIALISTA. Omito aqui, intencionalmente, o seu nome para não borrar uma crónica que pretendo seja de transparência, de lisura política e de assunção de cidadania, vacina anti-partidarite, anti-compadrio, anti-amiguismo, já que o tema se prende com os “50 ANOS APÓS O 25 DE ABRIL”, revolução que agitou a bandeira da LIBERDADE, da DEMOCRACIA e acesso ao CONHECIMENTO. 

PARTIDO SOCIALISTAEis, pois, as atitudes cívicas e políticas destes dois cidadãos,  eleitos nas listas do PSD, com responsabilidades no concelho que provam como todas as REVOLUÇÕES que tomam assento na HISTÓRIA UNIVERSAL passada a hora das PURGAS  e  SANEAMENTOS  (feitos ou não) dos elementos afetos ou suspeitos de serem escoras dos edifícios políticos esboroados, as águas revoltosas da enxurrada vencedora, acalmam, voltam ao leito do rio, retornam o seu curso natural e a vida soma e segue entre GOVERNANTES E GOVERNADOS. 

Mas nada fica igual e, para acolhermos, com simpatia, no seu verdadeiro significado, a expressão “tudo como dantes, no quartel-general de Abrantes”, direi que não. Nada ficou como dantes. Instituiu-se a DEMOCRACIA e o POVO passou a ter voto na matéria autárquica, nacional e europeia. E no caso vertente provada ficou a coragem de dois cidadãos eleitos nas listas do PARTIDO SOCIAL-DEMOCRATA, ambos reconhecendo, publicamente,  o MÉRITO ACADÉMICO de um concidadão de ideário político diferente - PARTIDO SOCIALISTA - resultando  dessa assunção de CIDADANIA, que o MÉRITO   reconhecido reverta, cívica e eticamente, para quem o reconheceu.

CONCLUSÃO

São as ironias da HISTÓRIA e, também, a prova de que nas margens sinuosas do GRANDE RIO HUMANO só os verdadeiros rochedos resistem à erosão  das águas, ventos e marés do SANEAMENTO e da PARTIDARITE,  senão mesmo do ESQUECIMENTO, mau grado o serviço que, certos cidadãos, em vida, fervorosamente, prestaram aos seus partidos, a BEM ou MAL do concelho e do país. 

Acabado o seu trabalho (é a atávica ingratidão humana)   não demora a  serem cartas fora do baralho. Que vão para o....  raio que os parta. Só que há figuras, nomes e atos públicos que nem a HISTÓRIA, nem o historiador DESCARTA

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.