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sexta, 06 setembro 2024 12:28

25 DE ABRIL DE 1974 “CINQUENTA ANOS DEPOIS” 2024 (5)

Escrito por 

GENTE DA TERRA - JOAQUIM GUEDES

Mexer nos ARQUIVOS onde constam os nomes das NOSSAS TERRAS e das NOSSAS GENTES, é o mesmo que dar substância à expressão popular “as palavras são como as cerejas”, ou, na versão moderna muito bem escolhida e integrada no título de um livro seu, pelo meu amigo e Dr. Paulo Andrade, as palavras e as memórias são como um “Molho de Vides”, puxa-se uma e vem pegada logo outra.

O mesmo sucedeu com esta série de APONTAMENTOS ligados à “COMEMERAÇÃO DOS 50 ANOS DO 25 DE ABRIL”.

 

PRIMEIRA PARTE

J.GUEDESComecei com a questão dos PARTIDOS MÉDICOS, discorri sobre a postura dos nossos concidadãos da época, passei ao  ProfessoJOÃO SEVIVAS, referi o seu papel na comunidade castrense ao nível da EDUCAÇÃO, e, sem sair do opúsculo “RELATÓRIO E CONTAS” da ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DA ESCOLA de que ele era sócio, passei a JOAQUIM GUEDES, pois a isso me levou a atitude dos responsáveis pela EMPRESA GUEDES, que, em homenagem do seu fundador, instituiram um PRÉMIO de 1.000$00 para os alunos do ensino primário do concelho que o merecessem. Devo a fotografia que ilustra este apontamento ao seu bisneto e meu colega Dr. João Manuel Guedes Oliveira, que gentilmente atendeu o meu pedido. (foto ao lado). 

E como os responsáveis da ASSOCIAÇÃO consideraram este cidadão «um empresário de sucesso» em Castro Daire, vou pedir de emprestado a mim próprio, vejam lá,  parte do que já escrevi sobre ele, no meu livro “Castro Daire, Indústria , Técnica e Cultura”,  reportando-me à firma “Joaquim Guedes, Filhos e Genros; Lda» que criou em 1933. Assim:

 

 

AB-Capa-8Foi nos negócios dos azeites, mercearias, lãs em rama e peles, zelando pelos seus interesses e pelos interesses daqueles que o constituíram seu procurador, emprestando dinheiro a juros, adquirindo terras por compras e por insolvência de dívidas não satisfeitas que, Joaquim Guedes arranjou lastro patrimonial para, em 1933, no escritório do Dr. Alexandre de Lucena e Vale, da Comarca de Viseu, a 3 de Novembro, poder constituir, em sociedade com João Augusto Guedes, seu filho, Grumecindo dos Santos Costa e António Clemente da Costa, seus genros, uma empresa de «comércio de camionagem e compra e venda de peles em bruto, denominada «Joaquim Guedes, Filhos e Genros; Lda» com o capital social de cem mil escudos (100.000$00). Empresa que, alargando cada vez mais o seu raio de ação e apetrechando-se tecnicamente segundo as exigências dos clientes e dos tempos, se projetaria no futuro (...) Em 1969 o capital social da empresa foi aumentado para um milhão de escudos (1.000.000$00) por escritura de 21 de Julho, tornando-se gerente-social o sócio Alcides Guedes, função que há de desempenhar até à sua morte em 1990”.

GUEDESDito isto, diga-se que foi graças ao PRÉMIO instituído por JOAQUIM GUEDES, que alguns alunos viram recompensada a sua aplicação aos estudos, entre os quais foi o “menino” JOAQUIM DE SOUSA ALMEIDA que preservou até hoje o livro que recebeu integrado no PRÉMIO, cuja CAPA,  e AUTÓGRAFO manuscrito a justificar o PRÉMIO ilustram este APONTAMENTO, e bem assim, parte da NOTA PRÉVIA que o autor do livro “APRENDER A BRINCAR”, Irondino Teixeira de Aguilar, professor efetivo do ensino técnico e profissional, da Porto Editora, Lda. escreveu no ano de 1955 (primeira edição) e 1961, 2ª Edição.

Com esta sua obra, o autor visa levar os alunos a aprender bem a gramática, a escrever sem erros ortográficos e, em composições poéticas, exemplifica o uso correto das letras do alfabeto. Veja-se o seguinte excerto:

LIVRO-CAPA-PRÉMIO“Os nossos rapazes, em regra, saem da Instrução Primária sem o perfeito domínio da correção ortográfica; entram nos cursos secundários - onde tal aprendizado vai sendo cada vez mais difícil, devido a causas várias e suficientemente conhecidas - e saem deles da caminhar inseguramente neste campo pedregoso; ingressam a manquejar nos Cursos Superiores e, em muitos casos, saem destes mesmos sem que o tal domínio completo da questão ortográfica tenha sido adquirida”.

Leram bem? Isto dizia este professor e autor deste livro em 1955/1961. E alude somente aos “rapazes” tal qual eu deixei dito na “conversa” que tive no auditório do Centro Municipal de Cultura, onde estive integrado, por CONVITE,  nas COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL neste ano de 2024.

Sim, foi isso e não há muito tempo que, no meu site TRILHOS SERRANOS e  MURAL DO FACEBOOK, referi dilema existente entre os atuais POLÍTICOS, nossos governantes, e os PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS. Os primeiros a dizerem que estamos  perante a “geração mais qualificada de sempre” e os segundos a dizerem que os “alunos chegam aos Cursos Superiores, sem saberem ler e escrever e assim saem deles”.

Seja como for, retirando o eventual exagero das duas partes, sem nos perdermos em generalizações, alguns “técnicos” dessa citada GERAÇÃO conheço eu, cujos procedimentos, no verbo e na ação, provam   assentar-lhes bem na cabeça, que nem “carapuça de Alvite”, as opiniões proferidas pelos professores do ENSINO SUPERIOR.

TERCEIRA PARTE

Como levar, pois, essa GERAÇÃO a escrever sem ERROS ORTOGRÁFICOS? Temos de ver o que nos propõs, em 1955/1961, o autor do livro APRENDER A BRINCAR, que começa com FERNANDO PESSOA. Para melhor acomodação do texto destribui as páginas por colunas, assim: PRÉMIO-TEXTO

PRIMEIRA COLUNA

SEGUNDA COLUNA

“O poeta é um fingidor 

Finge tão completamente 

Que chega a fingir que é dor 

a dor que deveras sente” 

 

Esta quadra, tão correta 

Em que a verdade ressoa 

Deve-se ao grande poeta 

Que foi Fernando Pessoa. 

 

E, fingindo sem cautelas 

Outro poeta disse, um dia: 

“São mais lindos que as estrelas 

Teus erros de ortografia”. 

  

Se tais erros, é bem certo, 

Podem não matar paixões 

Todos nós vemos decerto, 

Que causam reprovações. 

 

Deixem falar os poetas 

Que, nisto da ortografia, 

São fraquíssimos profetas, 

Cheios de vã fantasia. 

 

As palavras às direitas 

Às mulheres são comparadas: 

Só se encontram satisfeitas 

Quando bem ataviadas. 

 

Demais, é nosso dever 

Lutar com toda a coragem 

Com o fim de defender 

A nossa casta linguagem 

 

Quem destas quadras tirar 

 Um pouco de resultado 

Desde já pode contar 

Com o meu: muito obrigado. 

Redondinho como um ovo 

O senhor O grita e berra 

Julgando-se o rei do povo 

E senhor de toda a terra. 

 

Mas o U, que é mais aberto, 

Embora menos bem-posto 

Com ar simples, mas esperto,  

Tais falas lhe lançam no rosto: 

 

Para quê tanta vaidade 

Tanta prosápia, Senhor! 

Se, afinal, é bem verdade 

Termos o mesmo valor! 

 

Se te sentes orgulhoso 

Em ter local para estar 

Eu, que sou menos vaidoso 

Também tenho o meu lugar. 

 

És cobiçoso, sem mágoa, 

Tens nódoas, para polir; 

Eu não dou tréguas à agua 

E sei subir e curtir 

 

Se fazes parte dos verbos 

Polir, cobrir, engolir 

Também tenho como servos 

Bulir, luzir, entupir. 

 

Se te cobres, também cubro 

Aquilo que é muito meu; 

E escusas de ficar rubro 

Que se cospes, cuspo eu! 

 

Se tu destróis, eu destruo 

Se dormes, durmo igualmente. 

Se tu constróis, eu construo, 

Se sobes, subo na frente. 

 

Se descobres, eu descubro 

Se tu boles, também bulo 

Quando encobres, eu encubro, 

Quando engoles, eu engulo 

 

E não fiques magoado 

Por só eu estar em curtume 

Pois andamos lado a lado 

Em costumar e costume. 

 

E também aparecemos 

Em costurar e costura 

E, lado a lado, nos vemos 

Em postular ou postura. 

E o autor termina o livro com um agradecimento, assim:

AGRADECIMENTO

 

«Se desta brincalhotice 

Tiraste algum resultado 

Mereces, como te disse, 

O meu sincero - Obrigado! 

 

Falando deste ladino 

Sempre te quero afirmar 

Que só vai no masculino 

Se for homem a falar. 

 

Sendo mulher, como vês 

Ficaria obra asseada, 

Se dissesse, em português 

O meu sincero -obrigada!

 

Quem de tal palavra usar 

Logo verá, com razão, 

Que só a deve empregar 

Quem fica em obrigação. 

 

Pois se obrigado costuma 

De grato ter sentido, 

Decerto mulher nenhuma 

Diz ficar agradecido. 

 

Seja, porém, como for, 

Vou mostrar-te o meu agrado: 

Se já escreves melhor 

Muito - mas muito - obrigado!

 

Como podia eu deixar omisso  o nome de JOAQUIM GUEDES nesta série de APONTAMENTOS sobre a NOSSA TERRA e a NOSSA GENTE, «50 ANOS DEPOIS DO 25 DE ABRIL DE 1974»? a conviver do a «GERAÇÃO MAIS QUALIFICADA SE SEMPRE»?

MOICANO-1

E.GUEDES

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.