INTRODUÇÃO
E também cedo aprendi, em família, durante os serões de inverno, ou em convívio com outras crianças, nos montes ou no recreio da escola, o trava-línguas “o rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia”, destinado, não só a treinar a memória, mas também a “destravar” a oralidade da criança que tinha dificuldade em pronunciar o “r”, trocando-o frequentemente por “l”.
Por isso, sem ter estudado ainda a “evolução fonética” das palavras, cedo me apercebi que o referente linguístico que para mim era uma “lameira” para outros era uma “lameila”, o que para mim era uma «urgueira» para outros era uma «ulgueila». A correção e o estudo viria com o tempo, com a experiência do falante, mas, chegado aqui, sem me intrometer no campo linguístico, deixo aos especialistas da gramática as “palatizações”, “assimilações”, “sincopes” etc. eventualmente verificadas, na evolução fonética de LAMAS>LAMEIRAS>LAMEILAS>LAMELAS, que, de terras de cultivo e pastoreio, virou TOPÓNIMO de uma povoação do concelho de Castro Daire, bem perto daquele lugar que foi a “QUINTA DAS LAMAS”, a mesma onde foi construída a ESCOLA PREPARATÓRIA DE CASTRO DAIRE, onde eu passei alguns anos de vida, vejam só, a lecionar as disciplinas de HISTÓRIA e de PORTUGUÊS.
Deixo, pois, aos gramáticos e linguistas, sim senhores, essa explicação, mas não sem ter esquecido a advertência deixada por Moisés Espírito Santo, no seu “ENSAIO SOBRE TOPONÍMIA ANTIGA”, onde, defendendo que os TOPÓNIMOS devem ser lidos em «constelação local» e não isoladamente, questiona a opção de alguns especialistas, dizendo: "o nome de rio de Lamas", terras de regadio, exclui a explicação "Rivulus Merdaram", expressão adotada pelos latinistas, agarrados que estavam ao étimo, fazendo crer que «Lamas procede daquele termo». (Moisés Espírito Santo, «Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa seguido de Ensaio sobre Toponímia Antiga” (1988), Lisboa: Assírio & Alvim, Coleção Lusitânia nº1, 1988:271)
Dito isto, tendo por assente, até prova em contrário, que o topónimo LAMELAS está associado a “lamas” terras de regadio, e, consequentemente, a lameiras e lameiros, terras agrícolas e de pastoreio, é minha obrigação recuar ao passado e explorar todas as fontes de conhecimento que nos possam elucidar sobre a posse e exploração desses terrenos, antes e/ou nos primórdios da nossa nacionalidade. Sempre ciente de que o almocreve das letras, no rio das experiências e do conhecimento, sempre encontra as poldras necessárias, para não deixar, em qualquer das margens, os conteúdos que carrega nos seus alforges.
E difícil é a tarefa para o historiador reconstituir o passado histórico de TERRAS e GENTES cuja primordial precocupação, então como hoje, passados que são séculos de vida, era a sua sobrevivência e desenvolverem as artes TÉCNICAS E mecânicas indispensáveis às suas tarefas quotidianas. Gentes na sua maioria analfabeta, pouco ou nada se importava com o património, eram pessoas tornadas bibliotecas ambulantes, catórios notariais falantes que transmitiam oralmente os seus saberes, teres e haveres, de geração em geração. E até capazes de legarem a terceiros o que, em sua consciência, lhes pertencia, não pertencendo. É o que vamos demonstrar daqui para a frente. Para já temos o vídeo cujo link se anexa em rodapé.
VER VÍDEO https://www.youtube.com/watch?v=qkqHP9fwaq0&t=317s