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quarta, 04 novembro 2020 13:12

INDÚSTRIA, TÉCNICA E CULTURA

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HOMEGAGEM AOS MESTRES DO MALHO E BIGORNA

 Nas CINCO crónicas que escrevi e publiquei, NESTE SITE, sobre a ARTE FORJADA, em “HOMENAGEM AOS MESTRES DA FORJA, DO MALHO E DA BIGORNA”, arte que ainda resta nas janelas e varandas do casario que se estende ao longo da ESTRADA NACIONAL Nº 2, no troço urbano da nossa vila, pode ler-se numa delas:

 

A - Cópia1- “Grades assentes em pequenos suportes de chumbo, muitos deles moldados à maneira das bases das colunas jónicas ou toscanas, pontas das espirais unidas e rematadas por flores-de-lis, também fundidas em chumbo, cada grade de janela ou de varanda é uma obra de arte e condensa em si um mundo de ciência, de matemática, de geometria, de desenho, de técnica e de cultura, espelhos de vida e de morte.

Filigranas não saídas da banca de um ourives, dedos tão sensíveis quanto as ferramentas leves usadas na sua manufatura, mas de uma forja de ferreiro, mãos tão calejadas quanto o peso do malho usado na moldagem das espirais que, paradoxalmente, fazem inveja a certas rendas de toalhas de altar, feitas pelas mãos de uma avozinha de outros tempos que, rosto enrugado, lunetas caídas na ponta do nariz pingante de idade, maneja diligentemente as piedosas agulhas e, sem olhar ao peso dos anos que lhe põe a coluna vergada como a aduela de uma pipa, morre a ensinar e a aprender. Hoje já não há avozinhas dessas. Nem são precisas. Netas e netos encontram todo o tipo de "rendilhados" na CHINATOWN da esquina”.

torno-3 - Cópia - CópiaVolto ao assunto depois da entrevista que fiz, em vídeo, o senhor Vasco Alves, junto de um velho TORNO que, segundo a explicação técnica e a lição de HISTÓRIA que ele me deu ao vivo, se tratar de uma peça indispensável nessa ARTE, pois não havendo, ao tempo, solda, necessário era furar as peças e, “cravejadas” umas nas outras, formarem o rendilhado de que falo acima, das varandas e janelas.

O senhor Vasco Alves, iniciando a sua arte numa oficina onde, desse torno, só existiam as BROCAS, (o torno já tinha ido pregar a outra freguesia) adquiriu e assentou um desses tornos frente à sua morada. É uma autêntica RELÍQUIA HISTÓRICA da nossa ARQUEOLOGIA INDUSTRIAL. e, por isso, aqui se mostra.

Imobilizado e calcinado, inerte, preso a uma base sólida, mostra-se a quem passa na estrada 225 e isso já não é pouco. Mas bem andaria o nosso VEREADOR DO PELOURO DA CULTURA do Município de Castro Daire se envidasse esforços junto do prprietário no sentido de ele poder ser recuperado, restaurado e posto em movimento.

É que, segundo o senhor Vasco,este torno,  tomado o balanço iniciado com a manivela ainda visível, graças ao volante que lhe serve de coroa,  funcionava e furava pela FORÇA DA INÉRCIA, poupando, assim, a energia humana em tal tarefa.

Certo. Certo. Bom seria, pois, que alterássemos o seu atual ESTADO DE INÉRCIA.

SOALHEIRA2- Quem é que, por ventura, sabe do fim da máquina a vapor, cuja fotografia aqui deixo, tal como deixei a sua rocambolesca e desenvolvida história no livro «Castro Daire, Indústria, Técnica e Cultura», publicado em 1995? 

Muitos anos antes, ainda a laborar, um neto do fabricante inglês, quis adquiri-la para o Museu de Família, na Inglaterra . Fazê-la retornar às origens. Mas, o então proprietário, Acácio Cereeiro, regateando o negócio sem fazer preço, muito à maneira da «esperteza serrana» nem atava nem desatava e a máuina acabou no estado em que se encontra, cujo  fiminguém sabe. E eu também não.

E para que o torno que acima deixei fotografado, não apodreça ali calcinado e INERTE, depois da laboriosa e útil função que desempenhoU, é que eu traga essa máquina à colação.

Destes tornos de VOLANTE HORIZONTAL conheci três no concelho de Castro Daire. Um, na antiga Forja dos Veriatos. Outro, na antiga Forja dos «Ferreiros» de Cimo de Vila. Outro, nas oficinas da Empresa Guedes e outro, vejam só, em CUJÓ, na tenda (forja) do tio Simplício Camelo. Que será feito deste último? Dos outros nem sombra.

Digam-me, pois, se tenho ou não razão para alertar o Vereador do Pelouro da Cultura, suscitando-lhe uma «conversinha» com o actual proprietário, senhor Vasco Alves, no sentido de o arrancaram do ESTADO DE INÉRCIA em que se encontra.

OXALÁ! 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.