Desconfortado com a ignorância que grassava em redor de mim sobre o conhecimento da HISTÓRIA concelhia - excluída dos compêndios escolares - concelho donde, aos 20 anos, saí pastor/lavrador e aonde, aos 40, regressei professor com título universitário, por dever de cidadania e de ofício, no sentido de preencher essa lacuna de saber, procurei conciliar a atividade docente com a investigação da HISTÓRIA LOCAL por forma a poder cerzi-la com a HISTÓRIA NACIONA/UNIVERSAL e, por esse meio, levar os alunos a terem consciência do valor da disciplina estudada e da a sua ação formativa integrada no corpo das CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS. E, como aqui dou provas, agora mesmo, prossigo essa tarefa já na situação de aposentado, na certeza de que ninguém me encomendou e/ou me vai pagar o sermão.
E faço-o não sem recorrer à mítica personagem do ABOMIVÁVEL HOMENS DAS NEVES, esse gigante fantástico que vagueia no imaginário da curiosidade e do saber, para justificar a cancha de quase 100 anos de tempo, ainda que cancha se ligue mais a espaço. Isto porque se, em matéria anterior, assentei pé no ano de 1758, para falar da CAPELA SDE S. LOURENÇO e outras, obrigado sou a alargar a perna e a assentar o pé em 1850, para falar da atual IGREJA DA SENHORA DOS REMÉDIOS desta localidade.
E faço tudo isso de borla, sem esperar, sequer, um agradecimento seja de quem for. E, porque assim é vou transferir para aqui, sem mais trabalho, o texto que já publiquei anteriormente, depois de muitas leituras e pesquisas. Assim:
1858 – LAMELAS, OS SEUS TEMPLOS E MILAGRES
Pois bem, dar nota da PEGADA referente à existência de mais um templo na aldeia de Lamelas, depois de termos falado da CAPELA DE S.. L0URENÇÕ, obriga-nos a saber algo sobre a «cristianização» das terras que viriam a ser integradas no concelho de Castro Daire, entre as quais esta localidade.
E se começarmos pela vila, diremos, com Gonçalves da Costa, que «em vista dos santos invocados na região, somos obrigados a admitir a formação de núcleos cristãos pré-nacionais, alguns à raiz mesmo da fundação da diocese. A primeira organizou-se no Castelo, à volta de uma ermida ereta em honra de S. Salvador, seguindo-se o de S. Pedro que viria a impor-se como centro paroquial visigótico. A par destas surgiram as invocações de S. João Baptista, S. Sebastião, Santa Bárbara, S. Lourenço, em Lamelas, São Tiago, em Baltar, São Martinho, em Farejinhas, o medieval S. Pelaio, em vila Pouca, e outras».
Aqui temos a primeira surpresa. O primeiro núcleo terá aparecido «no castelo, à volta de uma ermida ereta em honra de S. Salvador». O autor baseou-se no testamento de Maria Valéria, feito em 19 de Novembro de 1686, que deixou legados para missas semanais e, portanto é considerada a «sua fundadora». Só depois veio S. Pedro, que hoje é o Padroeiro. A segunda surpresa é que o primeiro templo em Lamelas, era de invocação a s. Lourenço.
Ora, como não há culto sem gente, o censo mais antigo que se conhece sobre Lamelas, como aliás sobre o país inteiro, é de 1527, e por este se vê, como já referimos anteriormente, que existiam na povoação 29 moradores.
Uma das fontes sobre o estado dos templos nas paróquias e o exercício dos seus párocos são os textos que os «visitadores» deixavam escritos no chamado «Livro de Visitações».
Numa dessas visitas, feita em 1666, como também já refri anteriormente, o visitador mandou aos moradores de Lamelas que «testelhem» a capela de S. Lourenço. Encontrou-a, certamente, com a cobertura em mau estado e daí a necessidade de deixar tal orientação. Telhas para cima.
Outra visita, feita em 8 de Abril de 1700, D. António de Vasconcelos, «achando que a capela de S. Lourenço, de Lamelas se encontrava em lugar ermo, sujeito á inclemência dos tempos, com teto de forma alongada, mandou que os moradores a transferissem para lugar mais acomodado». (Costa, G. «História do Bispado e Cidade de Lamego»)
Um texto mais exaustivo sobre a atual igreja de Lamelas, devemo-lo ao Padre Anselmo Fernandes Freitas, publicado, em 1955, na «Revista Catequística». Para que tenha a divulgação merecida eu o arranco da velha Revista e aqui o deixo «digitalizado» na íntegra:
«Em Lamelas tem Nossa Senhora um templo grandioso. É uma quase igreja sob o título de Nossa Senhora dos Remédios, podendo ser uma paroquial pelo seu tamanho. Tem nove altares convenientemente preparados e limpos que as mãos ordenadas e delicadas do Sr. padre Tavares, capelão dessa Santuário, carinhosamente tratam.
O culto é exercido com toda a pompa litúrgica chamando a ele crentes de toda a região. As Quarenta Horas de Lamelas têm nessa terra um sabor especial. Pelo seu púlpito têm passado os melhores oradores sagrados do país. É a sede de uma associação Mariana de que fazem parte filiados até mesmo de fora do concelho, à qual o Sr. Pasrfe4 Tavares empresta o melhor dos seus esforços. Tem a capela dois torreões com sinos de relógio. Anexo á capela e fazendo parte da sua mole tem dependências que seriam na sua instituição primitiva s instalações para educação de crianças ou mesmo um orfanato.
A capela é moderna e deve-se a sua construção a um pobre operário de nome José Lopes que, sendo contuso em uma obra de pedreiro, prometeu, no caso de ficar sem defeito, mandar celebrar uma festa a Nossa Senhora e em todos os sábados mandar celebrar uma missa. O infortunado José Lopes é submetido a outra prova: um castanheiro na queda esmagou-lhe as costelas e ele promete uma missa diária e a construção de uma capela. Como não tinha rendimentos pessoais, percorre o país de lés a lés, angariando esmolas para a construção da capela de Nossa Senhora dos Remédios da Divina Providência. Nunca deixou atrasar o pagamento de salários aos operários que trabalhavam na construção. A Rainha D. Maria II ofereceu-lhe, além de dinheiro, o seu vestido de casamento. Celebrou-se aí a primeira missa em 30 de Janeiro de 1858».
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