Uma deidade inquilina da eternidade que, na prática, aninha as GLÓRIAS E AS MISÉRIAS da humanidade. E o homem, dia após dia, graças à invenção da câmara fotográfica, da máquina da fotografia, conseguiu reter na imagem a preto e branco e a cores. E mais, valores éticos e morais.
NÓS E AS COISAS. O VERBO, O VERSO, A IMAGEM. E a voragem do tempo que passa, visto, aqui, nestas câmaras, filmado por mim em diálogo com os conhecidos e desconhecidos os inventores, com os conhecidos e desconhecidos proprietários e utilizadores.
“NÓS E AS COISAS”. Por onde andaram elas? Como chegaram aqui? Eu as preservo assim como relíquias de museu. Cada uma delas, da mais simples à mais sufisticada, comporta um rasgo da inteligência humana. E dialogar com elas (tal como faço eu) não importam os séculos, não importam os anos, é ver e ouvir o que cada uma delas, inerte e sem vida, fora de uso, nos transmite de humano, a nós humanos. Elas são a extensão humana.
Não importa o tamanho, o feitio, o custo. Importa é o documento, é o objeto retentor da imagem, retentor da memória, o documento aue nenhum historiador dispensa se quiser fazer luz sobre a HISTÓRIA, com juízo assente no espaço e no tempo.
História universal, regional, local e até pessoal. E cá está a Minolta integrada nesta escolta, desde o simples Kodak, de passagem pelas câmaras com fole ou sem fole extensivo, foi a minha primeira câmara fotográfica, comprada em África, no Malavi, em 1965.
Estava eu rem Milange, Zambézia, Moçambique e para que registada fique esta referência àparte, aqui a destaco com os afetos que merece.
Acompanhou-me em solteiro, acompanhou-me em casado e fotografou os melhos filhos,a mãe deles, a minha mulher Mafalda, na estrada, na serra e na praia. Não fora esta câmara e os slides e as fotos que dão corpo aos álbuns domésticos, nunca existiriam. Rolos de 35 mm, a preto e branco e a cores, manuseá-la era um regalo, por carreiros e caminhos, mira sempre apontada aos meus amores, objetos dos meus afetos e carinhos. E o refletor? Coisa exótica, aberto em leque em círculo, prenúncio da parabólica das televisões. Num simples clic …záz…um relâmpago, e eu retinha o tempo e a imagem enquadrada. E nada, mesmo nada na vida podia voltar atrás, até mesmo a lâmpada fundida. Momentos. Paisagens, sítios, cidades, aldeias, pessoas, ideias, olhares, cores, sentimentos, emoções. Neste meu pensar e sentir jocundo - historiador que ainda pensa e sente - retinha um bocadinho do mundo, uma multidão de gente. Certo estou de não faltar por aí quem mostre as fotografias, as imagens. Eu mostro aqui os equipamentos que as fazem, perdão, que as fizeram, pois elas, sendo o que eram, nos tempos aue lá vão, j mais não são do que as MARCAS da mudança e as próprias MARCAS da fabricança.
Cada equipamento destes, com marcas e origens diferentes permitiram que nos seus ventres, cada uma de per si, se gerassem, em tempos próximos ou distantes, protagonistas de narrativas vivas, hoje mortas e ignoradas, mas interpelantes. Rostos, sorrisos, esgares, caretas, trejeitos, profundos olhares, poses andantes, pensantes, que, sem grande ousadia, bem podiam ser contadas em prosa, ou cantadas em poesia.
E um aparte merecem duas miniaturas deste meu recheio. Uma é vista nos filmes de James Bond e outros espiões congéneres. A primeira, analógica, quer dizer, de rolo, de película. A segunda é digital, com USB e tudo, destinada a ligar ao computador. Ver fotos mais abaixo.
A bem dizer e ver, esta segunda é um pingo de gente: 6 cm de comprimento, 4 de altura e 1,5 de espessura. Com visor e tudo. A aplicação prática da gigantesca inteligência humana posta numa miniatura.
Dois poemas heróicos. Duas invulgares invenções. Prórias para espião ou espia, eu diria (ousada ideia) a «Odisseia» de Homero e «Os Lusíades» de Camões, onde não faltavam também guerras, intrigas e espiões.
A evolução técnica, pôs de lado as mais antigas, pelas mais novas substituídas. Todas de película fotográfica, a minha Minolta foi reformada e outro remédio não teve senão enfileirar na escolta das demais câmaras fora de uso.
Nós e as coisas. Produtos da invenção humana, reformadas, inúteis, por elas dobram os sinos e também pela morte civilização de que testemunhas são, neste século XXI, com o retorno da GUERRA e da barbárie na Ucrânica e na Palestina. Ali, na terra santa, onde morrem meninos inocentes, velhos, novos. Gente tanta!
E ela, a guerra, esse tormento, afoga-nos os afetos, o pensamento, todos dias a entrar-nos pela casa dentro. E bem andou Câmara Pereira, ao colocar na sobrecapa do livro de HEMINGWAI “Por quem os sinos dobram” o quadro da GUERNICA de Picasso.
(ver vídeo) https://www.youtube.com/watch?v=Sjn5771eQE8