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Na crónica anterior coloquei a hipótese de o livro «Nova Floresta, ou Sylva de vários apophthegmas» da autoria do Padre Manuel Bernardes da Congregação do Oratório, autorizado a ser impresso pela Mesa Censória do Santo Oficio, em 20 de Julho de 1706, ter sido pertença do Padre João Duarte, natural de Cujó, Reitor do Touro, em 1817. Referi que na margem de uma das suas folhas se encontrava uma anotação manuscrita a lápis a dizer que o livro pertencia «aos herdeiros de João Duarte» e refiro agora que noutra página, em rodapé, aparece também manuscrito o nome de «José Morais».
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Creio que foi o meu irmão António, capitão do exército na reserva, e a sua esposa, Isabel Pereirinha, que me ofereceram um livro, velhinho de muitos anos, quase a desfazer-se, sem a página de rosto onde eu pudesse identificar o autor, a oficina de impressão e o ano de edição.
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DA FÁBULA À HISTÓRIA
Há embustes, alguns dos quais com eco na RTP, que me causam uma incomodativa urticária. Sobre um deles já escrevi extenso texto publicado, há uns anos, no meu velho site «www.trilhos-serranos.com» e refere-se ao Programa da RTP2, feito em Castro Daire por José Hermano Saraiva. É só ir ler. Mas recordo aqui e agora que, estando ele junto a uma árvore - a Carvalha do Presépio - que não tinha mais de 10 anos de vida, dirigiu-se ao telespectador e disse: «estou aqui, junto de um monumento que tem cerca de mil anos de idade». Ignorava que árvore a que aludia tinha caído com um vendaval em 1987 e no seu lugar tinha-se plantado outra, que era aquela a televisão mostrava.
PARA CÁ DO MARÃO...MANDAM OS QUE CÁ ESTÃO »
Independentemente das reflexões que outros autores tenham feito sobre tão carismática e badalada expressão - «para cá do Marão, mandam os que cá estão» - entendemos ser oportuno discorrer sobre ela no livro cujo protagonista nasceu no concelho de Santa Marta de Penaguião. E não cometeremos nenhum erro de lesa-pátria, se dissermos que foi nesse reduto geográfico, como vermos já a seguir, que ela teve a sua origem.
CUJÓ - A ORIGEM DOS «FRANCESES» - 2
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No artigo anterior, no sentido de lançar alguma luz histórica (não estórica) sobre a provável ascendências dos moradores de Cujó conhecidos pela alcunha de «franceses», citando G. da Costa, disse que, no último quartel do século XVIII, mais precisamente em Abril de 1774, «faleceu em Cujó Manuel Monteiro de Carvalho, sepultado na capela local e que seu contemopâneo, na paróquia, era o «cirurgião licenciado António Pereira de Morais, casado com Ana Morais, de Cujó, que ainda vivia em 1785 e baptizou um neto em 1789».
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CUJÓ - A ORIGEM DOS «FRANCESES» - 1
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O historiador quando escalpeliza os testamentos não o faz conduzido pela mão da necrodulia, mas antes ciente de que é através deles que mais seguramente penetra nas profundezas da mente humana, no pensamento escatológico de uma época, do pensar, sentir e agir dos testadores que, às portas da morte, procuram dar sossego às suas almas e comprar o céu espiritual do outro mundo a troco dos bens materiais de que se gozaram neste e não podem levar consigo. Tudo através dos testamenteiros, advogados e tabeliães.
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PEDAGOGIA
De há uns anos a esta parte, tornou-se moda, em Portugal, mergulhar na Idade Média em diversas localidades do país com a realização das já famigeradas "Feiras Medievais", atempadamente divulgadas, quer através de cartazes e rádios locais, quer através de órgãos de comunicação social de mais ampla difusão.
Há muitos anos, estava tal moda somente no seu estado embrionário, corri à cidade de Viseu, ao Largo da Sé, onde tinha lugar um desses eventos.
Passei-me por ali com muito gosto, apesar de fazer isso mais numa postura de aprendizagem do que numa postura de entretenimento, ainda que, em simultâneo, pudesse fazer, como fiz, as duas coisas.
NA ROTA DO ROMÂNICO
A Ermida do Paiva, no concelho de Castro Daire, é um templo cristão construído em estilo românico, dado a conhecer ao mundo por Arão de Lacerda, em 1919, no seu livro "O Templo das Siglas".
Eu, em 2001, longe de adivinhar o interesse que o estilo românico, patente em muitas igrejas medievais, viria a despertar nestes últimos anos, culminando em visitas de estudo integradas no programa ROTA DO ROMÂNICO, com placas de sinalização nas estradas das freguesias e concelhos que dão acesso a tais monumentos e que aderiram a tal programa, em 2001, dizia eu, longe de adivinhar isso tudo, simplesmente levado pelo império do saber, conhecer e divulgar a HISTÓRIA LOCAL, de identificar o nosso património histórico, material, imaterial, natural ou construído, levei a cabo uma investigação sobre aquele templo medieval e o resultado dela foi a publicação do livro "Mosteiro da Ermida" (há muito esgotado) onde mostrei aquilo que Arão de Lacerda, condicionado pela sua postura canónica, silenciou e jamais poderia ter mostrado.
CASTRO DAIRE
Disse no apontamento anterior que o livro de Arão de Lacerda «O Templo das Siglas» fez escola entre os estudiosos da Ermida do Paiva, aqueles para quem esse trabalho se tornou a pedra angular de uma porta aberta aos saberes e às interrogações posteriores sobre tal monumento.
Não fora o artigo online publicado na Revista da Faculdade de Letras de Universidade do Porto, assinado por três docentes (identificados nos apontamentos precedentes) longe estava eu de pensar que voltaria a ocupar-me com a Ermida do Paiva, depois do meu livro "Mosteiro da Ermida", editado em 2001, na peugada de Aarão de Lacerda que revelou o monumento ao mundo estudioso com o seu livro "O Templo das Siglas".
CASTRO DAIRE
Voltando à questão suscitada pelo artigo online publicado na Revista da Faculdade de Letras do Porto, com o título "Ermida do Paiva, reflexões e problemáticas», assinado pelos docentes Lúcia Maria ROSAS, Maria Leonor BOTELHO e Nuno RESENDE, a fim de ficar tudo muito explicadinho, assim ao modo do ENSINO BÁSICO, devo colar aqui mais duas fotos insertas nos ANEXOS do meu livro "Mosteiro da Ermida" , editado em 2001. Reportam-se estas fotos à pedra alojada no painel-sul da capela-mor com uma inscrição gravada alusiva ao óbito do Padre Roberto, a quem, alegadamente, se atribui a fundação do ERMITÉRIO.
Na minha abordagem anterior sobre a «Ermida do Paiva» e a inscrição pintada a ocre no tímpano da porta lateral-sul, por mim fotografada e incluída nos ANEXOS do meu livro «Mosteiro da Ermida» editado em 2001, para que não restem dúvidas da seriedade que ponho nestas coisas da investigação e divulgação do nosso património histórico, aqui reponho as duas fotografias referidas: a primeira, com rigoroso respeito pelo original fotografado, com a «data bastante delida»; a segunda, respeitando rigorosamente os sinais existentes e VISÍVEIS, com decalque meu, por forma a melhor se proceder à sua leitura, v.g. «E.MCC2II», sendo que o «2», precedido do duplo «CC», tem o valor de 50, tal como o diz Viterbo no Elucidário e também Alexandre Alves no artigo que deixou no livro «Castro Daire», editado em 1986, pp- 236. Vejamos:
CASTRO DAIRE
Aprendi com o Historiador Oliveira Marques, no seu livro «Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa» aquilo que para aqui transpus em fotografia, não fosse alguém suspeitar da seriedade dos trabalhos que tenho levado a cabo na investigação da História Local, como parecem fazer alguns investigadores que vão fazendo currículo académico como HISTORIADORES lá pela Universidade do Porto.
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AS SIGLAS DA ERMIDA DO PAIVA - CASTRO DAIRE
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As siglas têm sido consideradas as assinaturas dos canteiros, visto estes trabalharem à peça e, assim, evitarem que camaradas de ofício facturassem trabalho alheio. (...)
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Esta é a clássica explicação aplicada à generalidade dos sinais existentes em muitas construções por essa Europa fora, partindo da ideia de que o pedreiro, chegada a fase de assentar a pedra, lhe gravava a sua «marca particular, geralmente um desenho simples e geométrico, como uma estrela ou uma cruz. Um bloco acabado levava normalmente três marcas diferentes, mostrando quem o cortara, de que pedreira viera e onde devia ser colocado». (Allen et al, 1993:146).
MASSANGANO-MOÇAMBIQUE
Sobre este tema sigo a CRONOLOGIA de que disponho graças ao laborioso trabalho de M. Simões Alberto e Francisco A. Toscano, deixada no livro «O Oriente Africano Português", editado em 1942, em Beja, nas oficinas da Minerva Comercial de Carlos Marques & cª Ldª. É uma CRONOLOGIA dos acontecimentos históricos que tiveram lugar em Moçambique, com o rigor de quem manuseou os documentos citados.
COLONIZAÇÃO
Graças ao laborioso trabalho de M. Simões Alberto e Francisco A. Toscano, podemos dispor do livro «O Oriente Africano Português», editado em 1942, em Beja, nas oficinas da Minerva Comercial de Carlos Marques & cª Ldª e nele acompanharmos a metódica CRONOLOGIA dos acontecimentos históricos que tiveram lugar em Moçambique. É de lá que extraímos os seguintes dados, alguns seguidos de explicações complementares, como seja, onde foram publicados os documentos consultados.
O NURO
Da cultura clássica ficou-me para sempre aquela expressão lapidar de Horácio: "a Grécia conquistada conquistou Roma conquistadora". E ficou-me para sempre porque, no estudo da formação e queda de impérios, ela me vinha sempre à mente, associada ao conhecido adágio popular: "não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe", acrescendo a isso e à minha sensibilidade, as mil vezes que ouvi os guarda-fios negros, meus subalternos em Tete e em Lourenço Marques, em momento de desânimo, proclamarem: "Alá é grande!". Todas as vezes que tal ouvia, vinha-me à mente o que eu tinha lido no livro "Usos e Costumes dos Bantos", do missionário/antropólogo Henri A. Junod, sobre o conceito de "nuro" que, de certo modo, se liga a tudo o que acabo de dizer. Ora vejam:
«NO MINÉRIO TRABALHAVA, TRABALHAVA...»
Nestas minhas andanças nos trilhos serranos, digo, nos trilhos da vida, dei por mim nas Minas da Queiriga, concelho de Vila Nova de paiva.
O meu primo Manuel Carvalho Soares, sabendo-me interessado em tudo o que respeita à História e à vida, levou-me até lá, até aquele outeiro esventrado, esburacado, de portas abertas, abandonado. Aquele outeiro que, em meados do século XX, foi um formigueiro humano de trabalho e de sonhos.
Em 1258 Santa Margarida chamava-se «COVELINHAS»
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Nas inquirições de D. Afonso III, com data de 1258, lê-se que Mauro Pelágio jurou que "(...) Linares et Faregia et Baltar et Faregias, Felgosa, Felgosia, Moastium, Os Braços, Covelias et Lamelas et Barrial de Homicio tote iste aldeole sunt de Castro et de suo termino"(1)
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Póvoa do Montemuro: «Villa de Gondivao» no século XIII» ?
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"Os comissários régios enviados pelo reino chamavam a cada freguesia os homens mais antigos ou mais conhecedores da situação e história dos diversos herdamentos ou propriedades e, deferindo-lhes juramento, inquiriam as tradições de cada uma dessas propriedades."
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Lê-se no livro "Castro Daire", editado pela Câmara Municipal em 1986, que a vila de Gondivao, referida nas Inquirições de 1258, «desapareceu completamente» e que nem a sua «localização sabemos» (1).
Estas afirmações acicataram a minha curiosidade. Sem notícia histórica de qualquer abalo telúrico que fosse por isso responsável, uma povoação não se afunda assim nas entranhas da Terra sem deixar rasto. E convencido que a aldeia de Gondivao, ou sinais dela, deviam existir algures, (as ruínas do Bugalhão, povoação contemporânea de Gondivao, lá estão a atestar a sua existência), comecei por reler as Inquirições (2) levando em conta os aspectos formais e intencionais que rodeavam esse tipo de inquéritos, vistos assim por Alexandre Herculano:
"Os comissários régios enviados pelo reino chamavam a cada freguesia oshomens mais antigos ou mais conhecedores da situação e história dos diversos herdamentos ou propriedades e, deferindo-lhes juramento, inquiriam as tradições de cada uma dessas propriedades."(3)
Assim sendo, e na convicção de que as informações sobre os foros régios de Gondivao seriam prestadas por pessoas idóneas naturais da própria povoação ou das povoações vizinhas, por serem as mais conhecedoras do meio, atentei na referência feita à identidade e naturalidade das testemunhas. É o que mostra o seguinte quadro:
NOME DAS TESTEMUNHAS NATURALIDADE
Petrus Dominici - Gondivao
Stephanus Johannis - Juiz de Moção
Petrus Martini ?
Egeas Johannis ?
D. Johannis ?
Dominicus Robertiz ?
Johannes Veegas - Cetos
Garsea Pelagi - Cetos
O quadro mostra que os comissários régios, no tocante a Gondivao, das oito testemunhas identificadas, só referiram a naturalidade de quatro: uma era de Gondivao, outra de Moção e duas de Cetos. Assim sendo, e partindo do princípio que os inquiridores recorriam aos «homens mais antigos ou mais conhecedores da situação e história dos diversos herdamentos ou propriedades», admiti, com toda a probabilidade, que Gondivao não estaria longe de Cetos. Além disso constatei que a vila «desaparecida» não era, no universo das povoações inquiridas, das menos importantes, pois, três povoações que se lhe seguiram na ordem do inquérito, isto é, Bugalhão, Picão e Cetos a tomaram por modelo, relativamente a alguns foros devidos ao monarca.
Ora veja-se.
Bugalhão: «...debent dare Regi in festo Nahtalis Domini corazil de porco vel gallinam cum una taliga de centeno, sicut dant de villa de Gondivao».
Picão: «...dant de quolibet focare corazil vel gallinam et una taligam de centeno, sicut dant de Gondivao». Cetos: «...dant per usum de unoquoque focare in festo Nahtalis Domini corazil vel gallinam et una taligam de centeno, sicut dant de villa de Gondivao».
A partir desta constatação atentei nos topónimos Seara e Piornais, referidos nas Inquirições, identificando terrenos situados no termo de Gondivao. De facto, o Bispo de Lamego tinha no "termino de Gondivao unam bonam bauzam que vocatur Seara", e que esta era, ao tempo, trabalhada por pessoas de Faifa. Que os frades da Ermida tinham "unam bonam hereditatem de termino de Gondivao in loco dicitur Piornaes".
Perante isto necessário se tornava saber se os topónimos Seara e Piornais tinham resistido à voracidade do tempo e saber, também, onde se situavam as terras que designavam. Em caso afirmativo, a sua localização ajudaria a confirmar a minha suposição. As investigações de campo revelaram que os topónimos tinham resistido. Tinham chegado até aos nossos dias. E as terras que designavam (e designam) situam-se a norte de Cetos e Póvoa do Montemuro, tendo Faifa a Oeste e Carvalhosa a Este. Os Piornais, para o lado da Carvalhosa. E a Seara, (hoje Vale da Seara) para o lado de Faifa, exatamente a povoação de onde era o casal que explorava essa propriedade em 1258. Gondivao não estaria longe, por certo. Mais: uma levada nascida no Chão dos Frades, terrenos contíguos dos Piornais, descia, em tempos idos, a água utilizada pelos frades da Ermida, tal como o poeta popular Mestre Zé de Cetos, em 1950, referiu numa das suas décimas.
Dela transcrevo os seguintes versos:
Chamavam chão dos frades
Donde o rego deu saída
Para o Passal da Ermida
Regalia dos Abades.
(...)
Fora direito perdido
Pela grande feitoria
E agora pertencia
à limação da terra
Com água vinda da serra.
Tendo presente o conteúdo das Inquirições e as afirmações do poeta calcorreei a Serra do Montemuro e cada vez mais me convenci que Gondivao estaria, algures, perto de Cetos. Fixado nestas congeminações fui investigar os Arquivos. E eis que encontrei dois testamentos feitos nos meados do século passado. Eram (são) dois documentos de especial importância para o caso vertente.
O primeiro é de José Duarte Trulho, da Póvoa do Montemuro, freguesia de Pinheiro. Assinado em 27 de Maio de 1852 ali se diz que sendo ele testador o "cabecel de hum Prazo do Ilustríssimo Cabido de Lamego o nomeio à mesma minha irmã Luisa e ella será a senhora de o nomear por sua morte em quem quiser"(4).
O segundo é exatamente o da citada irmã, Luisa Duarte Trulha, também do lugar da Póvoa do Montemuro, assinado aos 26 de Março de 1853. Deste último transcrevo o seguinte:
«E (...) deixo à minha sobrinha Margarida a minha ametade da terra do Carvalhal a que parte com o pai e a minha ametade da terra do peorneiro (...) e deixo a meu sobrinho Manoel, filho do meu irmão Manoel a minha amettade do porto do teixo e do gandivao (...) bem como lhe deixo ao dito meu marido o meu Prazo do Cabido de Lamego» (5)
Retomei as Inquirições do século XIII para relacionar o que nelas se diz com o que dizem os testamentos do século XIX: elas referem que o Bispo de Lamego tinha no termo de Gondivao "unam bonam bauzam", trabalhada, ao tempo, por um casal de Faifa. Os dois irmãos, ambos da Póvoa do Montemuro, englobam nas suas deixas o "Prazo do Cabido de Lamego". A interrogação impunha-se: a «bona bauzam» que o «Episcopus de Lameco» tinha «in termino de Gondivao» e o «Prazo do Cabido de Lamego», no termo da Póvoa, não seriam a mesma propriedade? A sê-lo, os topónimos Gondivao e Póvoa não designariam, também, a mesma realidade?
Admitindo ser isso verosímil, quedei-me no topónimo Gandivao referido no testamento de Luisa Duarte Trulha. De facto, deixando ao seu sobrinho «amettade do porto do teixo e do gandivao», e tendo já especificado, linhas antes, que o que deixava no porto do Teixo era «a moita por cima do lameiro» e no gandivao «é o que parte com elle» ela, natural da Póvoa do Montemuro, proprietária de terras no Gandivao, mostrava, sem dar por isso, um «gato escondido com o rabo de fora».
Em face disso, acompanhado dos senhores Manuel J. G. Araújo e Gama, ex-director de Finanças de Castro Daire, e de Manuel A. Duarte Pinto, natural de Cetos, mais conhecedor da geografia e toponína locais que qualquer catedrático, corri em demanda das terras que o topónimo designava. E lá estavam elas. Ali, na bacia formada pelas linhas de água que, descendo da serra, confluem no rio Teixeira (ver mapa). Ali, ao lado da Póvoa do Montemuro e nas costas do outeiro que deu guarida a Cetos. Ali, num covão de acesso difícil, onde, admitir, em qualquer tempo, o berço de uma povoação, seria uma afronta à inteligência humana. Bem ao contrário do local onde está implantada a Póvoa do Montemuro (ver foto).
Em face de tudo isto impõe-se a conclusão: até que a arqueologia prove o contrário, tem de admitir-se que a povoação de Gondivao não desapareceu. Esta povoação, aquela que em 1103 recebeu carta de foro passada por Hermígio Moniz, carta que os comissários régios viram, v.g. que «nos vero inquisitores vidimus», mudara simplesmente de nome. Algures no tempo, passou a chamar-se Póvoa do Montemuro. E o nome de batismo - o nome Gondivao (com o) que figura nas Inquirições do século XIII e Gandivao (com a) no testamento do século XIX - tal como cão escorraçado pelo dono, aninhou-se nos arredores, à espera que o chamassem a terreiro. Sem dignidade bastante para se manter como nome de povoação, passou a designar bouças, moitas e lameiros.
Dizem-no os documentos. Dizem-no os habitantes da Póvoa e de Cetos que herdaram, que possuem, que vendem e/ou compram terras naquele sítio e com o nome desse sítio matriciadas nas Finanças. Dizem-no «os homens mais antigos e mais conhecedores da situação e história dos diversos herdamentos ou propriedades», aqueles que, tal como no século XIII, conhecem, no século XX, a geografia e a toponímia locais melhor que ninguém. E dizem-no as conclusões a que cheguei depois de toda esta minha pesquisa de campo e de arquivo. Os arqueólogos que façam o resto. Gandivao espera por eles. E, já agora, pelos filólogos também.
NOTAS:
in NCD nº 171 de 10 de Março de 1998
(1) VAZ, João Inês, "Castro Daire", edição da Câmara Municipal, 1986, pp. 43
(2) Versão impressa no livro "Castro Daire", Edição da Câmara Municipal, 1986, pp. 343-379
(3) HERCULANO, Alexandre, "História de Portugal", Liv. Bertrand, s/d, tomo IV, pp. 142
(4) in Livro II (ms) das "Copias dos Testamentos de 1852 e 1853", fls. 13r, Arquivo da Câmara Municipal de Castro Daire recuperado da fogueira onde desapareceram outros após a deslocação feita para a cadeia comarcâ duarnete as obras de acrecento no edifício municipal.
(5) Idem, fls. 46 r/v
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CASTRO DAIRE - RETALHOS DE HISTÓRIA -3
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Decorria o ano de 1932 quando, através do Dr. Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo, que mantinha correspondência com uma senhora viúva (?) o nome é omitido, vá lá saber-se porquê - residente no Brasil, se soube em Castro Daire que essa senhora desejava construir uma Escola Primária, em Castro Daire, com o nome do seu falecido marido e para a qual «oferecia a importância de 100 contos».
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Em face disso, são tomadas as primeiras diligências no sentido da aquisição do espaço para a sua construção. Previsto, inicialmente, expropriar-se um terreno no sítio dos Linhares, onde hoje se encontra a Escola Secundária, uma notícia publicada em «O Castrense», de 8 de Maio de 1932, diz que a «Câmara resolveu adquirir e oferecer para a construção um terreno junto ao depósito das águas, de harmonia com o parecer dos Técnicos do Ministério da Instrução que há semanas aqui estiveram abrindo as ruas de acesso à Escola que pelos mesmos técnicos foram indicadas. E foi já há dias anunciado ao Sr. Dr. Pio Cerdeira de Oliveira Figueiredo que se está à espera de autorização do Governo Brasileiro para lhe serem remetidos os 100 contos para a Escola».
CEREJA EM CIMA DO BOLO
Passados dez anos, depois de eu ter sido tão enxovalhado no «Notícias de Castro Daire» (em 2006) com o aval do seu Director (ainda é o mesmo e está a tempo de dizer o que na altura calou) pelo, então, Presidente da Direcção dos Bombeiros (cujo nome omito para não sujar este meu espaço digital, já que ele anda por aí difundido em televisões e jornais de grande tiragem), passados dez anos, dizia, eu bem podia orgulhar-me com a cereja que faltava em cima do bolo. Mas não digo, nem orgulho tenho. Até lamento o que aconteceu e, se calhar, isso podia ter sido evitado se, nessa altura, os restantes membros da Direcção e o público, levasse em conta a chamada de atenção para a «gestão danosa» que se fazia notar claramente naquela casa.
EX-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE CASTRO DAIRE EM JULGAMENTO POR PECULATO.
Custa-me abrir as portas do armário e tirar de lá os esqueletos de defuntos que para mim morreram há muito. Mas, no momento em que o ex-presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros de Castro Daire (cujo nome omito para não sujar este meu espaço digital. Ele anda divulgado nos jornais e na televisãol) está sentado no banco dos réus por ter desviado cerca de 80.000€ dos cofres da Associação para uso particular, dez anos depois da polémica pública travada no jornal «Notícias de Castro Daire» (2006), em crónicas sucessivas, por mim assinadas, com o título «Prós & Contras» sobre o livro que então escrevi «Castro Daire, Os Nossos Bombeiros, A Nossa Música», oferecendo os meus direitos de autor (então avaliados em 8.000 contos), não ficaria de bem comigo mesmo, se o não fizesse. Não para «bater mais no ceguinho» (pois esse vai pagar na Justiça, com língua de palmo, os erros que cometeu), mas sobretudo para lembrar A MINHA RAZÃO a todos os que COBARDEMENTE se acomodaram no silêncio, pactuando assim, com quem claramente procedia à «administração danosa» de da Associação Humanitária dos Bombeiros. A todos os que não tiveram o estofo moral de se rebelarem a favor da dignidade e probidade que me assistia. E assiste. Eles devem-me um pedido de desculpas. Felizmente nem todos optaram pelo silêncio pactuante. No mesmo jornal tomaram voz dois cidadãos de corpo inteiro, de cujas palavras deixo os seguintes excertos:
Num diálogo que resolvi travar com uma divindade desconhecida sobre o vinho, ela, como que adivinhando o que eu lhe ia perguntar, antecipou-se:
- E antes que me perguntes algo sobre o lagar e lugar do vinho ao longo da história humana, digo-te já que quem conhece a tosca e pesada prensa do azeite, conhece a tosca e pesada prensa antiga do vinho: uma vara de madeira com uma das extremidades metida numa abertura da parede com folga bastante para poder ter um movimento vertical e apertar, de cima para baixo o bagaço obrigada pelo fuso que nela entronca em cujo extremidade inferior se encontra um enorme peso de pedra.
O Conde Ferreira, de seu nome Joaquim Ferreira dos Santos, nasceu em Vila Meã, Campanhã, arredores do Porto, em 04 de outubro de 1786. Tendo ido para o Brasil em 1800 onde onseguiu assinalável fortuna no comércio negreiro entre Angola e Brasil, regressado que foi a Portugal dedicou-se à política e à filantropia, virada para a EDUCAÇÃO e SAÚDE.
1 . CULTO DE HRÓIS E SANTOS
Uma leitura minuciosa das «Inquirições de 1258» no que respeita às terras que hoje estão integradas no concelho de Castro Daire, diz-nos muito sobre a História Local sobre a identidade dos seus protagonistas, sua categoria social e relações que eles tinham com os bens materiais e espirituais.
Por razões que me são alheias, não vi referida até hoje, em parte alguma, inclusive nesta página, a MENSAGEM que dirigi ao senhor Ilidio Bonifácio Magueja, aquando da INAUGURAÇÃO DO MUSEU NA RELVA, mensagem que ele leu na alocução que fez na oportunidade, segundo me comunicou pessoalmente. Ora, para que ela não fique mergulhada na espuma das cachoeiras deste caudaloso rio facebookiano, onde se fala do evento, dando a ideia de que eu estive e estou desatento a tudo o que de histórico e cultural se passa no concelho, resolvi, por minha conta e risco, "postá-la" nesta página, no convencimento de que as minhas palavras simples não desprestigiarão e iniciativa e o que muito dela se tem dito. Foi assim:
Quando em 1991 publiquei o meu livro «MÕES, TERRA QUE JÁ FOI CONCELHO», editado pela Junta de Freguesia, logo um «amigo» meu, morador em Vila Boa, me fez chegar o seu desconsolo por eu não ter deixado ali uma palavra sobre o «topónimo». Que, quando foi estudante em Coimbra, tinha feito algumas pesquisas a propósito e concluíra que esse nome derivava do latim «mons, montis» e que era, da minha parte, um lapso imperdoável.
O meu apelido CARVALHO foi herdado do meu pai, Salvador de Carvalho, que, por sua vez o herdou da minha avó, sua mãe, Florinda de Carvalho. O mesmo sucedeu com outros tios meus e uma dessas tias, cujo nome de registo era MARIA DE CARVALHO, conhecida se tornou em toda a aldeia por "TIA CARVALHA".
CUJÓ - OBRAS DE ARTE
Vindo de tempos imemoriais, feito por ignoto artista, oriundo não se sabe donde, eis o cruzeiro do Sr. da Livração no interior da Ermida, lá no alto da Serra da Lestra, a caminho da Mourisca, do Corgo Forninho e de Almofala, creio que levado e levantado naquele ermo, naquele caminho (disso não há gente, nem livro que fala) antes do templo que hoje lhe serve de guarida, a ermida que, em 1886, estava a ser ampliada, como nos diz a data no seu teto colocada.
O proprietário e fundador do «Museu na Relva», Ilídio Bonifácio Magueja, interessado em colocar o nome da povoação no fio cronológico da História, isto é, colocar numa das paredes do Museu uma data que remontasse a tempos recuados, atestando a certidão de nascimento da povoação, depois de correr «Seca e Meca», sem encontrar resposta entre os voluntariosos conterrâneos que se entretêm com as coisas da "estória", diferentemente das coisas da HISTÓRIA, solicitou a minha colaboração, dizendo-me que, por sugestão de uma pessoa amiga empenhada, tanto quanto ele, na implantação do Museu, eu era o último recurso, dado ter conhecimento das investigações que tenho levado a efeito no concelho de Castro Daire, relacionadas com a HISTÓRIA LOCAL.. Que agradecia o meu empenho nesse sentido por forma a que, na data da inauguração, essa informação pudesse ser afixada numa das paredes.
OSSOS DO OFÍCIO
- Ainda bem que cá está. Vim aqui de propósito para saber quando tem disponibilidade para ir comigo ver um penedo com números e letras, lá arriba na serra da Lapa. Eu estava à espera do almoço, sentado à mesa e, num repente, aparece-me o senhor Narciso, industrial de padaria (Lamelas/Castro Daire) que, passando já da meia idade, gosta de rever, a cavalo, os sítios que, na infância, calcorreou a pé, nas cercanias de Lamelas.
HISTÓRIA COM GENTE DENTRO
Em agosto de 2015, publiquei aqui, neste meu espaço, um texto ilustrado com documentos manuscritos, dando conta de um «diferendo» existente, em 1888, entre os moradores da freguesia de Monteiras e de São Joaninho, que, então incluía a povoação de Cujó.
É o texto que constitui a PRIMEIRA PARTE da crónica que se segue, à qual adicionei uma SEGUNDA PARTE, feita neste ano de 2022, por força dos elementos que fui acumulando nos meus arquivos, ao longo do tempo. Assim:
Com estes dois «desdobráveis» (acabados de sair do «prelo»), de seis faces cada um, dei por terminado o trabalho de que me incumbiu o vereador a tempo inteiro do Executivo Municipal de Castro Daire, Leonel Marques Ferreira. Fi-lo de bom gosto e «graciosamente» em benefício do conhecimento e divulgação do nosso património histórico.
As fotos que ilustram este texto são os rostos da «transumância» da Serra da Estrela para o Montemuro, em 1990. Eles são os protagonistas de uma narrativa de trabalho e sacrifício com data certa. Olhem bem as suas idades e feições!
Em 1990 era presidente da Associação Recreativa e Cultural de Fareja, Joaquim Almeida Ferreira da Silva e presidente da Assembleia Geral, vários mandatos seguidos, a pessoa que escreve e assina esta crónica. Grande parte da correspondência trocada com as entidades oficiais ligada à construção da sede saiu das teclas do meu computador. Foi o ano em que, pela primeira vez, se filmou e gravou, em cassete VHS, a "costumeira" ligada ao Pinheiro de São João, com o objetivo de, por essa via, se dar a conhecer ao mundo, uma das nossas tradições mais falada em todo concelho, pelo volume e peso da árvore. Não é exclusivo desta aldeia, mas nas restantes onde antigamente se punha o «pau a pino» (nalgumas delas ainda hoje se faz, por e exemplo em Cujó e Relva) o protagonista não passa de um «estadulho» de amieiro, comparado com o de Fareja, sempre PINHEIRO.
FORNO DAS PIMPONAS/ CORETO
No tempo em que toda a gente (adultos e crianças) anda por aí de câmaras fotográficas e de filmar na mão, a fazer pontaria a tudo e a nada, tempo de Ipads, telemóveis, Internet e Facebook, depositório a granel de fotos que são autênticos documentos (todo o historiador e estudioso agradece tais fotos) e outras divulgando futilidades sem importância nenhuma, lembrei-me de postar aqui este texto já publicado em 2012. As fotos que o ilustram são bem a prova do que afirmo: fotos que é preciso LER e INTERPRETAR. A foto nº 1, com os protagonistas cuja razão de estarem ali explico em devido tempo, ajuda-nos a interpretar o grito das crianças a correrem pelas ruas da vila, anunciando a chegada dos rebanhos da Serra da Estrela. «aí vem o rebanho, aí vem o rebanho!» Ajuda-nos a perceber a razão por que o «povo» corria à Feira das Vacas com panelas, tachos e tachinhos, de alumínio, latão ou barro, em busca de leite. Ajuda-nos a perceber a razão por que, na década de QUARENTA do século vinte, o «povo», corria à Feira das Vacas a pedir, para comer, a ALFARROBA que o Corpo montado da Guarda Republicana trazia para alimentar os cavalos. Ajuda-nos a perceber a razão por que, quando, por esse mesmo tempo, a Legião Portuguesa fazia ajuntamento da Feira das Vacas o «povo» corria para ali, com panelas, tachos e tachinhos para levarem para casa parte do «rancho». E a pedinchice não incluia somente os mais necessitados. Até «pessoas de sociedade» para usar a terminologia dos meus informantes idónios, mandavam lá as suas «criadas»buscar «rancho». Quem se predispõe a fazer a HISTÓRIA da nossa terra, a falar do PSSADO E DO PRESENTE necessário é que se informe e fundamente primeiro. De contrário em vez de HISTÓRIA escreve «ESTÓRIA». Vende «gato por lebre». E mal informado anda quem patrocina, quem promove e quem compra essas patranhas.. E mais não digo. Mas eis o que disse em 2'012:
Fruto da minha persistente investigação e permanente contacto com pessoas que conheciam Castro Daire noutros tempos, cedidos por elas, vieram-me à mão diversos espólios documentais e fotográficos (fotos e negativos delas) de que me tenho valido para, em muitos caos, fundamentar e ilustrar alguns dos livros que dei à estampa sobre a História Local.
O senhor Agostinho Miguel, natural da povoação da Relva, freguesia de Monteiras, concelho de Castro Daire, no ano de 2007, andando a cavar o seu quintal, junto da sua residência, no sítio do «Oradouro», encontrou um achado curioso.
Podia começar assim: «no tempo em que os animais falavam...», mas não, vou começar...«no tempo em que os telefones eram de manivela» como aqueles que hoje se veem somente nos filmes antigos, a preto e branco, eu tive a profissão de montá-los, repará-los e mantê-los num estado de saúde capazes de duas pessoas poderem comunicar à distância, através de uma só linha aérea, pois a segunda linha fazia-se de «retorno pela terra». Querem saber como? Eu sei o que as tecnologias da comunicação evoluíram muito desde então e sei que estamos no tempo dos telemóveis, dos computadores, da Internet, por isso, meus amigos, se estão interessados e quiserem saber, pesquisem, pois está tudo ao vosso alcance, seus felizardos.
HISTÓRIA COM GENTE DENTRO
Colocado que fui, como professor, na Escola Preparatória de Castro Daire, no ano letivo de 1983/84, casado e com dois filhos em idade escolar, procurei não residir longe da Escola e acabei por radicar-me na aldeia de Fareja, sita 2 quilómetros a nascente da sede do concelho.
Ora, conciliando eu a docência com a investigação da HISTÓRIA LOCAL, mal ficaria não deixar neste meu apontamento alguma informação sobre o passado longínquo da terra que escolhi para morada e onde os meus filhos herdarão um pedaço de chão a que possam chamar seu quando chegar o tempo disso.
Direi assim que esta aldeia remonta aos primórdios da nacionalidade portuguesa, pois constatei que mais do que uma dúzia de testemunhas desta terra, como veremos a seguir, fizeram o seu depoimento nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258, acerca dos caminhos e descaminhos que levavam os foros rei, fossem eles do seu tempo ou dos seus antecessores. Remetemo-nos para o texto (com a grafia atualizada) e vejamos os termos das Inquirições:
POSFÁCIO-OLHAR E VER
Dos muitos prelos cujas fotografias estão disponíveis na Internet, do prelo mais simples ao prelo mais sofisticado, do prelo restaurado e embelezado com cores douradas, ao prelo moribundo e enferrujado, do prelo que atravessou a linha do tempo intacto, tal como foi concebido pelo seu criador, presumo eu, ao prelo que se apresenta amputado, qual soldado regressado das fileiras da guerra sem alguns membros, em todos, independentemente do seu estado e aparência, eu vi centenas de obras de arte, nas vertentes funcionais, ornamentais e decorativas. Eles me transportaram não apenas ao tempo de Gutenberg, ao tempo dos enciclopedistas, do iluminismo, ao tempo da Revolução Industrial, ao império do ferro e da metalurgia, mas também à Antiguidade Clássica através dos elementos artísticos, literários e míticos que incorporam.
TETE - NÓ GÓRDIO (5)
Uma expedição daquela envergadura não se fazia sem mantimentos, sem um número significativo de carregadores, muitos deles escravos fiéis e obedientes como os cães são aos seus donos, ao contrário de outros que se a esgueiravam na primeira oportunidade, abandonando cargas e encargos. Uma expedição dessas, dizia eu, não se fazia sem guias experimentados, conhecedores dos dialetos e costumes, conhecimentos advindos, sabe-se lá como, mas, seguramente, relacionados com o livro do comércio de ouro, marfim, escravos e tudo o mais que, no comércio, relaciona terras e gentes e interesses comuns. E também soldados como já vimos acima.
TETE - NÓ GÓRDIO (1)
Prometi voltar a esta página para dar continuação à matéria histórica relacionada com Tete, matéria tratada. em 1950, por Manuel Simões Alberto, na revista «Moçambique, Documentário Trimestral, 1950, nº 63, (pp 89 a 100), cujo autor segui de perto. Disse que iria basear-me nos mesmos factos e nas mesmas personagens, mas agora, segundo o meu estilo de escrita e conhecimentos advindos de outras fontes e saberes. E que aquilo que eu escreveria teria por título «O Nó Górdio», por tal expressão ser muito conhecida pelos membros e leitores da página «Picadas de Tete"
GRAVURAS RUPESTRES NO MONTEMURO SÃO UM EMBUSTE
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17-08-2007 20:55:09
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No meu livro «Julgamento», editado no ano 2000, e, posteriormente, em artigo de imprensa (Lamego Hoje) disse que «na serra do Montemuro, ao lado do velho e desactualizado caminho que liga a povoação de Picão à Cruz do Rossão, mais ou menos a meio do percurso, no sítio designado «Fonte da Pedra», está um complexo de penedos com «gravuras» que alguns arqueólogos, entre os quais Domingos Cruz e Raquel Vilaça, «baseando-se nos estudos de C.T. Silva, publicados nas «Actas das III Jornadas Arqueológicas (1977), vol. I», com o título «Gravuras rupestres inéditas na Beira Alta», dizem pertencer às «estações de arte rupestre».*
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Indústria Madeireira
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A história que aqui reponho, neste meu novo site, foi publicada em 1995 no meu livro "Castro Daire, Indústria Técnica e Cultura" e, em 2004, coloquei-a online no meu velho site. É de lá que a transcrevo agora. Assim:
A indústria mais representativa no concelho de Castro Daire foi, e é, a que está ligada à serração de madeiras. Mas não se pense que ela ultrapassou a fase artesanal do «serrão», da «burra» da «serra braçal» e do «traçador» há muito tempo.
HISTÓRIA VIVA
JOAQUIM JOSÉ ÁLVARES, nasceu em Alvações do Corgo, concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, em 1792. Em 11 de Agosto de 1808, com 16 anos de idade, assentou praça como «soldado» voluntário no Regimento de Caçadores 3, onde se tornou «furriel» em 22 de Julho de 1809, «2º sargento» em 27 de Novembro do mesmo ano e «1º sargento» em 1 de Julho de 1811. No dia 1 de Agosto deste mesmo ano passou ao Batalhão de Caçadores nº 11, onde, em 5 do mesmo mês, subiu ao posto de «sargento quartel mestre». Em 11 de Setembro de 1814, a requerimento seu, «baixou de posto» e, em 29 de Maio de 1818, tornou-se «cadete». Transitou para o Batalhão de Caçadores nº 7, em 17 de Fevereiro de 1820, com posto de «alferes» e, por decreto de 22 de Agosto de 1822, passou a «ajudante». No ano seguinte, por razões de ordem política, foi desligado do serviço, sendo reintegrado em 1826.
UM PROJECTO SEMPRE ADIADO (I)
Do muito que já investiguei sobre as Termas do Carvalhal, cansado de as ter visto, ao longo da história, sempre como bandeira política partidária em tempos de eleições autárquicas, tal como acontece neste ano de 2013, depois de muitos textos publicados e vídeos colocados no Youtube, não resisto a trazer a público o projecto de um cidadão que, interessado naquilo que é nosso, passou as suas ideias a escrito e deixou para a História (distinta do «foguetório, flauta e pífaro») o seguinte texto, datado de 1912:
POLÍTICA E JUSTIÇA (3)
Mas a promiscuidade da POLÍTICA e da JUSTIÇA, com as esposas dos políticos e cunhados Desembargadores metidos numa e noutra até ao tutano, vê-se bem na carta da viscondessa de Samodães, com data de 8 de Junho, sem referência ao ano, mas que, pelo conteúdo, estamos seguro ter sido escrita antes de 1840, já que o irmão do Padre Bizarro, a quem se refere a viscondessa, foi assassinado em Maio desse mesmo ano.
POLÍTICA E JUSTIÇA (2)
Ontem publiquei no meu mural do Facebook uma Carta datada de 1841, assinada por um, então, Desembargador do Tribunal da Relação do Porto, de seu nome encurtado Bernardo de Lemos, membro de uma nobre família de Castro Daire, onde ele mostrava o seu empenho na eleição de um DEPUTADO seu amigo, por este círculo e nessa eleição envolvia o Administrador dos seus TERES e HAVERES nesta vila, o Abade António Bizarro de Almeida, seu companheiro nas lutas políticas que nessa altura de travavam no país. Da sua leitura e minha experiência de vida inferi que POLÍTICA e JUSTIÇA são duas PUTAS do mesmo BORDEL e não duas SANTINHAS do mesmo PANTEÃO adoradas em altares separados, como INTELIGENTEMENTE nos querem fazer crer os nossos POLÍTICOS e os nossos JURISTAS e COMENTADORES encartados.
POLÍTICA E JUSTIÇA (1)
Que coisas tão distintas elas são. E vem de longe essa distinção. Nada de promiscuidade entre elas.. Isso bem nos mostra a CARTA manuscrita, assinada pelo Meritíssimo Desembargador Bernardo de Lemos, dirigida ao seu amigo Abade António Bizarro de Almeida, de Castro Daire, a propósito da eleição de um deputado por «este círculo». Assim, tal qual se transcreve na ortografia da época e respectivas abreviaturas:
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