Trilhos Serranos

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sexta, 24 julho 2015 08:28

TRANSUMÂNCIA 2

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As fotos que ilustram este texto são os rostos da «transumância» da Serra da Estrela para o Montemuro, em 1990. Eles são os protagonistas de uma narrativa de trabalho e sacrifício com data certa. Olhem bem as suas idades e feições!

 

pastoresTransformar a sua vida num FESTIVAL FOLCLÓRICO é não apenas adulterar a HISTÓRIA, mas gozar com a cara deles. Só «pseudo-pastores e historiadores» de secretária, a congeminarem no teclado e no monitor de computadores da última geração,  programas «ditos» de «desenvolvimento local» (parece que o tema virou moda por tudo quanto é serra), a «arregimentar» pastores subsidiados pelo Estado, se lembrariam disso. Eles, os transumantes, "pedibus calcantibus", ganhavam a vida trabalhando, suando o pão que o diabo amassou, atravessando quilómetros de "canadas, piso irregular, bermas cheias de silvas. Estes, os novos pseudo-pastores, folcloricamente ajaezados, querem ganhá-la divertindo-se à sua e nossa custa, sem saberem, nem sentirem na pele a ferroada de um moscardo que tanto incomoda gente como gado. Alimenta-se se sangue alheio, não importa a vítima. Mas sem denúncia pública não ficarão. Com fotos, textos e vídeos. Nós vemos ouvimos e lemos. Nenhum cidadão deve eximir-se a fechar as portas às TROIKAS e BALDROIKAS domésticas que nos levam os impostos e as reformas, por mais engalanadas que se apresentem. 

De resto basta ter presente outros PROGRAMAS ditos de DESENVOLVIMENTO, que se implantaram no concelho de Castro Daire com vista à atração TURÍSTICA. Esqueceram-se? Eu vos lembro.

a) Quanto custaram as três CABINES com equipamento de ligação à INTERNET que nunca funionaram: uma, colocada junto da Repartição de Finanças, outra, junto à Feira das Vacas e outra no Jardim Público, onde permanece. As outras duas  foram retiradas, mas esta lá permanece para exemplo de um SONHO AUTÁRQUICO, sem resultado algum. Quanto custou? 

b) E a colocação dos MONÓCULOS  de longo alcance, postos como estacas de feijoeiro, na Vitoreira, a ver Castro Daire, no Cimal, a ver não sei o quê (ambos roubados em pouco tempo), outro, no dito Miradouro de Cetos (inoperante por embaciamento), outro nas Postras do Montemuro, a mirar Faifa e outro junto à capela de Santa Bárbara, em Almofala? Quanto custaram? Para quê? 

c) Serrá que todos os intervenientes na implantação destes PROGRAMAS (ASSOCIAÇÕES credenciadas, com sede localizada, fundos comunitários atribuídos) se sentem orgulhosos da forma como aplicaram os dinheiros públicos? Será que nenhuma INSTITUIÇÃO do ESTADO "chama a contas" quem desperdiça assim inutilmente os nossos impostos? Será que, por MAGIA, tudo desaparece sem haver RESPONSÁVEIS? Há PROJECTOS ditos de DESENVOLVIMENTO REGIONAL que estão a pedir FISCALIZAÇÃO desde a sua CONCEPÇÃO à sua EXECUÇÃO. E então a história da Nau Catrineta Terá muito que contar.

Claro que eu sei muito bem que querer fazer da TRANSUMÂNCIA um FESTIVAL FOLCLÓRICO tem subjacente a ideia, habilidosamente reacionária, muito espalhada nos CONSERVADORES, de quererem branquerar o passado e berrar, por tudo quanto é canto e em eventos deste génro de que ANTIGAMENTE É QUE ERA BOM. Mas enquanto eu puder mostrar como era esse PASSADO, com fotos, vídeos e textos escritos, não deixarei de fazê-lo. Deturpar a HISTÓRIA, manipular os factos por conveniência de momento, evocar eventos com peso e significado histórico na economia rural e organização social, com vista a meter neles SUBSÍDIOS, dinheiro de todos nós, é um EMBUSTE. Antigamente era TRABALHO, POBREZA E MISÉRIA. Os pastores transumantes ganhavam HONESTAMENTE o SEU para poderem viver.  E as imagens são como o algodão: não enganam. Diferente é  deixar que "pseudo-pastores" congeminem sê-lo, sentados atrás de uma secretária a ganharem  o NOSSO e depois passearem-se  pelas ruas de Castro Daire folcloricamnete ajaezados. Esses nunca receberão os meus aplausos. 

Chamem a tudo isso FESTA DE HOMENAGEM AOS PASTORES (os trransumantes e não transumantes), FESTA de todos os que, nas nossas serras, escreveram uma narrariva de vida e de sacrifício na luta pela sobrevivência. Eles TODOS merecem essa FESTA DE HOMENAGEM, mas chamar-lhe RECONSTITUIÇÃO DA ROTA DA TRANSUMÂNCIA jamais. Não se pode BERRAR por falta de VALORES que a sociedade atravessa e serem as próprias instituições e pessoas públicas esvaziar de sentido as palavras. IRRREVOGÁVEL já não é IRREVOGÁVEL e TRRANSUMÂNCIA (trabalho, cajados,  suor e calos nos pés) virou FOLCLORE com pífaros e gaita de foles. 

Abílio/julho/2015

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.