Trilhos Serranos

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domingo, 21 junho 2015 17:30

RELVA - MOLDE CÉLTICO-CRISTÃO

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O senhor Agostinho Miguel, natural da povoação da Relva, freguesia de Monteiras, concelho de Castro Daire, no ano de 2007, andando a cavar o seu quintal, junto da sua residência, no sítio do «Oradouro», encontrou um achado curioso.

 

 Peça em xisto macio moscado, partida ao meio, com cerca de 25 cm de comprimento, tem lavrados nas duas faces, em baixo relevo, três moldes para fundição de ornamentos, como sejam

Oradouro-1

«torques», «broches», «cabeças de anéis» e de «alfinetes» – e, também uma «cruz latina» e o respectivo «Cristo» em posição de braçosRECONSTITUIÇÃO - Cópia abertos e pernas cruzadas. Moldes de fundição de ourivesaria artesanal, eis uma peça onde o amuleto pagão se funde com o amuleto cristão. Eis uma peça onde o artesão tanto podia fundir ornamentos ligados à beleza física, como ornamentos de atestar a crença e a fé dos seus utentes.
E chegado a este ponto, se o molde da «cruz latina» e respectivo «Cristo» não deixa dúvida quanto ao valor simbólico do amuleto nele fundido, seja em prata, ouro, chumbo ou estanho, acerca dos restantes, pergunto-me que valor simbólico ou místico incorporam as figuras geométricas de raios, de esferas e círculos concêntricos dos restantes moldes? E a resposta surge pronta, vinda de Plotino, na sequência de outra pergunta: «porque é que o céu se move em movimento circular? Porque imita a Inteligência».

O leitor, para melhor se aproximar destes últimos moldes, imagine três berlindes de tamanho diferente com desenhos feitos em relevo. Imagine uma peça de gesso maleável na sua secretária. Comprima, sobre o gesso, essa esfera até ao meio. Retire-a com cuidado. Aprecie o resultado.

Feito isso, e apanhada a ideia, resta dizer que nenhuma das gravuras foi feita por decalque. Foram, isso sim, lavradas com punção do tamanho de uma agulha, dada a delicadeza do trabalho «artístico» que ali foi gravado. Mais perfeito o molde geométrico do que o molde humano. Digamos que são moldes em filigrana.

Quando tomei conhecimento e fotografei esse artefacto, sugeri ao proprietário, senhor Agostinho Miguel, que o cedesse à «Associação Recreativa e Cultural Relvense», ou, através de um protocolo assinado com os seus dirigentes, permitisse que ele fosse ali exposto, a fim de todos os moradores da aldeia e não só, poderem apreciá-lo.

Ele não atendeu o meu pedido e está no seu pleno direito. Mas isso não impede que eu aqui dê conhecimento público desse achado, levando-o ao conhecimento generalizado dos caminheiros de «trilhos serranos» através da fotografia e descrição. 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.