FONTE DOS PEIXES - MONOGRAMA E COISAS MAIS
Pare, olhe e veja.
PRIMEIRA PARTE
Parece que virou moda na nossa vila e aldeias que «REQUALIFICAR» o PATRIMÓNIO é lavar-lhe o rosto, pô-lo bonito e limpá-lo da patine dos tempos. Às vezes à força de água saída à pressão de esguicho . Isso foi feito na esfera que coroa a «FONTE DOS PEIXES» e daí resultou a danificação clara do MONOGRAMA «CM», todo ele feito com peixes entrelaçados que presumo serem TRUTAS. Uma autêntica OBRA DE ARTE a atirar para o GÓTICO. Qual o artista castrense que, de «ponteiro e maceta», é capaz de reconstituir essa peça, em defesa do nosso PATRIMÓNIO? O desafio aqui fica.
SEGUNDA PARTE
No ano de 2016 alojei no meu mural do FACEBOOK e no meu site TRILHOS SERRANOS (como aqui se vê) o TEXTO E AS IMAGENS que acabaram de ler e ver.
Como administrador que sou desse espaço online, onde entro e saio quando quero e me apetece, volto ao assunto neste ano de 2021, por força de um TEXTO que o meu amigo LINO MENEZES colocou no seu mural do FACEBOOK, chamando a atenção para o CENTENÁRIO DA FONTE DOS PEIXES, (tão badalada no mundo “facebookiano”, quanto ESQUECIDA pelos nossas responsáveis autárquicos), ainda que louvavelmente fotografada, “cozida” e divulgada em louça vária como ÍCONE do nosso concelho, vendida pela firma MARIA DO ROSÁRIO, com sede na vila de Castro Daire.
LINO MENEZES, empresário local, homem de TEATRO e de ação, com pertinência, seriedade e HUMOR, lembrou-se do CENTENÁRIO desta nossa OBRA PÚBLICA, deixando no seu mural o seguinte texto:
Lino Menezes 24 de julho às 22:44
“Fala-se tanto da N2 pelos seus 75 anos e a fonte dos peixes que faz este ano 100 anos não tem direito a bolo? Amigo João e D. Natália do Forno da Serra, mãos à massa, reduza só no açúcar se não lá se vai a minha dieta…eu ofereço uma garrafa gasificada”.
Seguiram-se uma série de COMENTÁRIOS favoráveis, louvando a lembrança, uns deles expressos em LETRAS, outros nos eloquentes e abundantes “EMOGES” da moda.
Com respeito por todos eles, todos oportunos e bem-vindos, retive o que fez MARIA DA TRINDADE CASTRO, o que muito agradeço, pois gosto de levar a sério o que por cá temos de HISTÓRIA, com história. Fazendo uso do “copy/paste”, para evitar equívocos, eis o COMENTÁRIO do meu apreço:
“Maria da Trindade Castro:
Parabéns à centenária Fonte dos Peixes - uma fonte do princípio do século XX (1921), revivalista, com espaldar revestido por painel de azulejos, a exibir duas cartelas profusamente decoradas, centradas por elementos paisagísticos. A estrutura é em granito, apresenta um tanque trilobado para onde convergem, em alto-relevo, duas bicas em figura de peixes a jorrar água, integradas numa coluna encimada por “capitel” em forma de taça coroado por dois elementos sobrepostos, sendo o primeiro de secções planas e o segundo esférico. Esta fonte faz parte da heráldica da freguesia de Castro Daire, sendo a sua imagem o elemento central do brasão”.
Seguiram-se mais uns tantos COMENTÁRIOS e só depois veio o meu que também transcrevo igualmente “copy/paste”:
“Abílio Pereira de Carvalho:
Excelente OBSERVAÇÃO, amigo Lino. E aproveito a ocasião para dizer uma coisa simples. A ESFERA DE GRANITO que serve de CABEÇA à FONTE tem DUAS LETRAS lavradas a escopro e maceta por um IGNORADO ARTISTA DA PEDRA. PERGUNTEI a várias pessoas que ali foram à água e TODAS desconheciam tais letras. Nunca tinham reparado. Só uma delas me soube dizer. Foi o SENHOR CARLOS, sapateiro. Mas também ele não sabia que ELEMENTOS formavam ESSAS LETRAS. Chamei lá os RESPONSÁVEIS pela CULTURA, para mandarem AVIVAR esses ELEMENTOS, por forma a dar DESTAQUE a essa OBRA DE CANTARIA e NADA FIZERAM. Cheguei a pôr isso no FACEBOOK. Pela minha parte, já fiz TUDO. O resto é com o EXECUTIVO. E pergunto? Quem sabe, quais e quantos ELEMENTOS FORMAM essas DUAS LETRAS? E que LETRAS SÃO? Uma AUTÊNTICA OBRA DE ARTE. Reparem e digam. Só depois acredito”.
Vejamos o que disse ANTÓNIO GONÇALVES:
«António Gonçalves:
Dr. Abílio Pereira de Carvalho penso serem as letras C e M, a letra M parece ser composta por 2 peixes. Já agora, outra curiosidade da fonte dos Peixes. Existe um azulejo que não está corretamente colocado, distração do artista, alguém sabe qual é?”.
E porque, a partir destes DOIS CoMENTÁRIOS, tudo se calou, acrescentei:
Abílio Pereira de Carvalho:
Passadas que foram todas estas horas, parece que o meu COMENTÁRIO, mais o de ANTÓNIO GONÇALVES secaram a FONTE DE OPINIÕES e de EMOGES, tantos foram eles. Quer dizer, quando se entra a falar em ASSUNTOS SÉRIOS, os castrenses ficam MUDOS E QUEDOS, QUE NEM PENEDOS. Hei de voltar ao assunto, no meu SITE TRILHOS SERRANOS”, onde o tratei em 2016.
TERCEIRA PARTE
Cá estou eu. E dito isto, relido o COMENTÁRIO que fiz acima, em 2016, e os que resultaram da OBSERVAÇÃO de LINO MENESES (com todo o respeito pelos restantes que ficam onde estão) constatei que na DESCRIÇÃO da FONTE feita por MARIA DA TRINDADE CASTRO, não figura uma PALAVRA sobre o MONOGRAMA existente na ESFERA que lhe serve de REMATE. E tão excelente DESCRIÇÃO também não referiu a diferença assinalável que mostram os materiais líticos (granito) que lhe dão CORPO, omitindo claramente, que parece ter havido ali um CASAMENTO entre uma FONTE mais ANTIGA e aquela que assumiu a IDENTIDADE e data de nascimento, em 1921. E também, aludindo ao espaldar de azulejos, deixou ficar no ar a ideia que se trata de obras contemporâneas, v.g. que são da mesma data, quando, na verdade, o espaldar é muito mais tardio, pois data de 1957, feito na Cerâmica ALELUIA DE AVEIRO.
E a tudo isso, o meu amigo ANTÓNIO GONÇALVES acrescentou a CURIOSIDADE de haver ali um AZULEJO colocado ao contrário, curiosidade essa que nem aquenta, nem arrefenta para esclarecimento do caso. É uma curiosidade que se presta a um demorado jogo de ENTRETENIMENTO, mas que nada elucida sobre os dois ICONES CASTRENSES ali representados, que são as CASCATAS DA POMBEIRA (lado direito) e a CARVALHA DO PRESÉPIO (lado esquerdo) e se esse azulejo, colocado ao contrário, empobrece o conjunto iconográfico que ali ficou registado e fez HISTÓRIA.
E, nenhum COMENTÁRIO, entre tantos, foi feito sobre o estado DEGRADADO em que esses painéis se encontram na base. É que, a prosseguir tal demazelo, esses apinéis parecem ter ali o PRINCÍCIO DO SEU FIM.
Pois bem. Eu não quero criar polémica nem intrometer-me na DESCRIÇÃO TÉCNICA das peças arquitetónicas/escultóricas de ARTE PÚBLICA CONCELHIA (coisa que deixo para os ESPECIALISTAS), mas gostaria de contribuir com algumas reflexões para o seu esclarecimento, colando aqui o fruto da minha investigação sobre a HISTÓRIA LOCAL, seja debruçado sobre manuscritos, textos impressos, ensaios, ou, simplesmente, IMAGENS, como sejam POSTAIS ANTIGOS.
No caso vertente, boto mão a duas IMAGENS ANTIGAS que me ajudam a presumir que a atual FONTE DOS PEIXES, resultou da fusão dos elementos da FONTE PRIMITIVA que, com tanque TRIBOLADO, existia à desbanda da atual loja de ferragens de JORGE FERNANDES PINTO.
a) A primeira IMAGEM foi publicada na “Ilustração Portuguesa”, por António Correia de Oliveira, em 1907. Nela vemos no canto direito a casa que veio a ser de JORGE FERNANDES PINTO e a seu lado uma obra de arte, tipo varandim térreo. De notar que essa casa não tem escadas exteriores de acesso ao primeiro andar, como veremos na imagem seguinte, posterior a ela e, também que, à sua frente, ainda não existia a casa a que aludirei de seguida.
b) Na segunda IMAGEM, vemos já a casa que veio a ser do Dr. JORGE FERREIRA PINTO, que foi de Joaquim António Morgado e ostenta na grade da varanda a data de 1914, por isso não podia figurar na fotografia de 1907. À sua frente, e ao lado da casa de JORGE FERNANDES PINTO, vemos agora umas escadas exteriores de acesso ao primeiro andar e, ao seu lado, desaparecido o resguardo do varandim térreo, vemos um TANQUE que presumo ser o mesmo (TRIBOLADO) que recebe a água das bicas da atual FONTE DOS PEIXES.
É pois se supor que essa fonte e todos os seus elementos líticos constitutivos de base incorporem a atual FONTE DOS PEIXES distinguindo-se, pela textura do granito, daqueles que foram acrescentados em 1921. Basta atentar na secção dos DOIS PEIXES tornados bicas e na peça colocada sobre a TAÇA onde assenta a ESFERA na qual foi lavrado, a cinzel e maceta o MONOGRAMA de feição GÓTICA, da CÂMARA MUNICIPAL que me levou a alertar todos os responsáveis locais ligados à CULTURA a fim de mandarem AVIVAR os PEIXES que lhe dão corpo. Os tais que estão a desaparecer e apagar uma BELA E IMAGINATIVA OBRA DE CANTARIA. E é tudo, por agora.