Trilhos Serranos

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sábado, 24 setembro 2016 13:00

ARQUEOLOGIA 3

Escrito por 

FONTE DOS PEIXES - MONOGRAMA E COISAS MAIS

Pare, olhe e veja.

 

 PRIMEIRA PARTE

Parece que virou moda na nossa vila e aldeias que «REQUALIFICAR» o PATRIMÓNIO é lavar-lhe o rosto, pô-lo bonito e limpá-lo da patine dos tempos. Às vezes à força de água saída à pressão de esguicho . Isso foi feito na esfera que coroa a «FONTE DOS PEIXES» e daí resultou a danificação clara do MONOGRAMA «CM», todo ele feito com peixes entrelaçados que presumo serem TRUTAS. Uma autêntica OBRA DE ARTE a atirar para o GÓTICO. Qual o artista castrense que, de «ponteiro e maceta», é capaz de reconstituir essa peça, em defesa do nosso PATRIMÓNIO? O desafio aqui fica.

ONOGRAMA

 

 

 

 

 

SEGUNDA PARTE


No ano de 2016 alojei no meu mural do FACEBOOK e no meu site TRILHOS SERRANOS (como aqui se vê) o TEXTO E AS IMAGENS que acabaram de ler e ver.

Como administrador que sou desse espaço online, onde entro e saio quando quero e me apetece,  volto ao assunto neste ano de 2021, por força de um TEXTO que o meu amigo LINO MENEZES colocou no seu mural do FACEBOOK, chamando a atenção para o CENTENÁRIO DA FONTE DOS PEIXES, (tão badalada no mundo “facebookiano”, quanto ESQUECIDA pelos nossas responsáveis autárquicos), ainda que louvavelmente fotografada, “cozida” e divulgada em louça vária como ÍCONE do nosso concelho, vendida pela firma MARIA DO ROSÁRIO, com sede na vila de Castro Daire.

LINO MENEZES, empresário local, homem de TEATRO e de ação, com pertinência, seriedade e HUMOR, lembrou-se do CENTENÁRIO desta nossa OBRA PÚBLICA, deixando no seu mural o seguinte texto:

Lino Menezes 24 de julho às 22:44

Fala-se tanto da N2 pelos seus 75 anos e a fonte dos peixes que faz este ano 100 anos não tem direito a bolo? Amigo João e D. Natália do Forno da Serra, mãos à massa, reduza só no açúcar se não lá se vai a minha dieta…eu ofereço uma garrafa gasificada”.

Seguiram-se uma série de COMENTÁRIOS favoráveis, louvando a lembrança, uns deles expressos em LETRAS, outros nos eloquentes e abundantes “EMOGES” da moda.

Com respeito por todos eles, todos oportunos e bem-vindos, retive o que fez MARIA DA TRINDADE CASTRO, o que muito agradeço, pois gosto de levar a sério o que por cá temos de HISTÓRIA, com história. Fazendo uso do “copy/paste”, para evitar equívocos, eis o COMENTÁRIO do meu apreço:

“Maria da Trindade Castro:

Parabéns à centenária Fonte dos Peixes - uma fonte do princípio do século XX (1921), revivalista, com espaldar revestido por painel de azulejos, a exibir duas cartelas profusamente decoradas, centradas por elementos paisagísticos. A estrutura é em granito, apresenta um tanque trilobado para onde convergem, em alto-relevo, duas bicas em figura de peixes a jorrar água, integradas numa coluna encimada por “capitel” em forma de taça coroado por dois elementos sobrepostos, sendo o primeiro de secções planas e o segundo esférico. Esta fonte faz parte da heráldica da freguesia de Castro Daire, sendo a sua imagem o elemento central do brasão”.

Seguiram-se mais uns tantos COMENTÁRIOS e só depois veio o meu que também transcrevo igualmente “copy/paste”:

“Abílio Pereira de Carvalho:

Excelente OBSERVAÇÃO, amigo Lino. E aproveito a ocasião para dizer uma coisa simples. A ESFERA DE GRANITO que serve de CABEÇA à FONTE tem DUAS LETRAS lavradas a escopro e maceta por um IGNORADO ARTISTA DA PEDRA. PERGUNTEI a várias pessoas que ali foram à água e TODAS desconheciam tais letras. Nunca tinham reparado. Só uma delas me soube dizer. Foi o SENHOR CARLOS, sapateiro. Mas também ele não sabia que ELEMENTOS formavam ESSAS LETRAS. Chamei lá os RESPONSÁVEIS pela CULTURA, para mandarem AVIVAR esses ELEMENTOS, por forma a dar DESTAQUE a essa OBRA DE CANTARIA e NADA FIZERAM. Cheguei a pôr isso no FACEBOOK. Pela minha parte, já fiz TUDO. O resto é com o EXECUTIVO. E pergunto? Quem sabe, quais e quantos ELEMENTOS FORMAM essas DUAS LETRAS? E que LETRAS SÃO? Uma AUTÊNTICA OBRA DE ARTE. Reparem e digam. Só depois acredito”.

Vejamos o que disse ANTÓNIO GONÇALVES:

«António Gonçalves:

Dr. Abílio Pereira de Carvalho penso serem as letras C e M, a letra M parece ser composta por 2 peixes. Já agora, outra curiosidade da fonte dos Peixes. Existe um azulejo que não está corretamente colocado, distração do artista, alguém sabe qual é?”.

E porque, a partir destes DOIS CoMENTÁRIOS, tudo se calou, acrescentei:

Abílio Pereira de Carvalho:

Passadas que foram todas estas horas, parece que o meu COMENTÁRIO, mais o de ANTÓNIO GONÇALVES secaram a FONTE DE OPINIÕES e de EMOGES, tantos foram eles. Quer dizer, quando se entra a falar em ASSUNTOS SÉRIOS, os castrenses ficam MUDOS E QUEDOS, QUE NEM PENEDOS. Hei de voltar ao assunto, no meu SITE TRILHOS SERRANOS”, onde o tratei em 2016.

TERCEIRA PARTE

AZULEJO-DARTA.REDUZCá estou eu. E dito isto, relido o COMENTÁRIO que fiz acima, em 2016, e os que resultaram da OBSERVAÇÃO de LINO MENESES (com todo o respeito pelos restantes que ficam onde estão) constatei que na DESCRIÇÃO da FONTE feita por MARIA DA TRINDADE CASTRO, não figura uma PALAVRA sobre o MONOGRAMA existente na ESFERA que lhe serve de REMATE. E tão excelente DESCRIÇÃO também não referiu a diferença assinalável que mostram os materiais líticos (granito) que lhe dão CORPO, omitindo claramente, que parece ter havido ali um CASAMENTO entre uma FONTE mais ANTIGA  e aquela que assumiu a IDENTIDADE e data de nascimento, em 1921. E também, aludindo ao espaldar de azulejos, deixou ficar no ar a ideia que se trata de obras contemporâneas, v.g. que são da mesma data, quando, na verdade, o espaldar é muito mais tardio, pois data de 1957, feito na Cerâmica ALELUIA DE AVEIRO.

AZULEJO-DEGRADADO-REDUZE a tudo isso, o meu amigo ANTÓNIO GONÇALVES acrescentou a CURIOSIDADE de haver ali um AZULEJO colocado ao contrário, curiosidade essa que nem aquenta, nem arrefenta para esclarecimento do caso. É uma curiosidade que se presta a um demorado jogo de ENTRETENIMENTO,  mas que nada elucida sobre os dois ICONES CASTRENSES ali representados, que são as CASCATAS DA POMBEIRA (lado direito) e a CARVALHA DO PRESÉPIO (lado esquerdo) e se esse azulejo, colocado ao contrário, empobrece o conjunto iconográfico que ali ficou registado e fez HISTÓRIA.

E, nenhum COMENTÁRIO, entre tantosfoi feito sobre o estado DEGRADADO em que esses painéis se encontram na base. É que, a prosseguir tal demazelo, esses apinéis  parecem ter ali o PRINCÍCIO DO SEU FIM.

Pois bem. Eu não quero criar polémica nem intrometer-me na DESCRIÇÃO TÉCNICA  das peças arquitetónicas/escultóricas de ARTE  PÚBLICA CONCELHIA (coisa que deixo para os ESPECIALISTAS), mas gostaria de contribuir com algumas reflexões para o seu esclarecimento, colando aqui o fruto da minha investigação sobre a HISTÓRIA LOCAL, seja debruçado sobre manuscritos, textos impressos, ensaios, ou, simplesmente, IMAGENS, como sejam POSTAIS ANTIGOS.

No caso vertente, boto mão a duas IMAGENS ANTIGAS que me ajudam a presumir que a atual FONTE DOS PEIXES, resultou da fusão dos elementos da FONTE PRIMITIVA que, com tanque TRIBOLADO, existia à desbanda da atual loja de ferragens de JORGE FERNANDES PINTO.

FONTE VELHA-REDUZ--1a) A primeira IMAGEM foi publicada na “Ilustração Portuguesa”, por António Correia de Oliveira, em 1907. Nela vemos no canto direito a casa que veio a ser de JORGE FERNANDES PINTO e a seu lado uma obra de arte, tipo varandim térreo. De notar que essa casa não tem escadas exteriores de acesso ao primeiro andar, como veremos na imagem seguinte, posterior a ela e, também que, à sua frente, ainda não existia a casa a que aludirei de seguida.

FONTE VELHA-REDUZ-2b) Na segunda IMAGEM, vemos já a casa que veio a ser do Dr. JORGE FERREIRA PINTO, que foi de Joaquim António Morgado e ostenta na grade da varanda a data de 1914, por isso não podia figurar na fotografia de 1907. À sua frente, e ao lado da casa de JORGE FERNANDES PINTO, vemos agora umas escadas exteriores de acesso ao primeiro andar e, ao seu lado, desaparecido o resguardo do varandim térreo, vemos um TANQUE que presumo ser o mesmo (TRIBOLADO) que recebe a água das bicas da atual FONTE DOS PEIXES.

É pois se supor que essa fonte e todos os seus elementos líticos constitutivos de base incorporem a atual FONTE DOS PEIXES distinguindo-se, pela textura do granito, daqueles que foram acrescentados em 1921. Basta atentar na secção dos DOIS PEIXES tornados bicas e na peça colocada sobre a TAÇA onde assenta a ESFERA na qual foi lavrado, a cinzel e maceta o MONOGRAMA de feição GÓTICA, da CÂMARA MUNICIPAL que me levou a alertar todos os responsáveis locais ligados à CULTURA a fim de mandarem AVIVAR os PEIXES que lhe dão corpo. Os tais que estão a desaparecer e apagar uma BELA E IMAGINATIVA OBRA DE CANTARIA. E é tudo, por agora.

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.