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terça, 12 abril 2016 14:07

ERMIDA DO PAIVA - 3

Escrito por 

 

CASTRO DAIRE


Voltando à questão suscitada pelo artigo online publicado na Revista da Faculdade de Letras do Porto, com o título "Ermida do Paiva, reflexões e problemáticas», assinado pelos docentes Lúcia Maria ROSAS, Maria Leonor BOTELHO e Nuno RESENDE, a fim de ficar tudo muito explicadinho, assim ao modo do ENSINO BÁSICO, devo colar aqui mais duas fotos insertas nos ANEXOS do meu livro "Mosteiro da Ermida" , editado em 2001.
Reportam-se estas fotos à pedra alojada no painel-sul da capela-mor com uma inscrição gravada alusiva ao óbito do Padre Roberto, a quem, alegadamente, se atribui a fundação do ERMITÉRIO.

Lápide funenária - RedzSegui o método utilizado nas fotos relativas ao tímpano da porta lateral, do mesmo lado e a poucos metros de distância: a PRIMEIRA foi publicada tal qual a câmara fotográfica a captou e a SEGUNDA com as letras da inscrição destacadas a encarnado, por mim,, a fim de melhor leitura.
Destaco que nessa inscrição rasgada na pedra, à força de escopro e maceta, distinta da existente no tímpano, consta o mesmíssimo «2» com o valor de 50. E mal se entende que na inscrição pintada, ele tenha sido substituído por «:» (dois pontos) e não já na inscrição lavrada em cantaria onde mantém a forma e o valor.

Mas sobre isso, chega. Os investigadores, os historiadores, os estudiosos ou simplesmente os curiosos que tirem as suas conclusões.

Cumpre-me, na sequência, dizer algo mais sobre o artigo de página inteira, publicado no jornal «O Castrense», nº  82,  de 20 de Novembro de 1915, antes, portanto de Aarão de Lacerda, ter vindo à Ermida para produzir o seu famoso «Templo das Siglas».

Diz-nos ele, a páginas tantas:

«A Igreja, uma relíquia e um padrão de arte medieva, ao vê-la pela primeira vez há vinte e cinco anos, deixou-nos a impressão de que estávamos contemplando um histórico monumento  que muito tem que estudar para a historia da arte nacional.

Mas hoje, que o governo da República tanto tem feito para conservar alguns monumentos que ainda nos restam, protegendo-os das barbaridades e vandalismos, de toda a justiça era que a Igreja da Ermida fosse considerada monumento nacional.

Em 1888, segundo nos disseram, foram apeadas algumas arcadas dos claustros por ameaçarem ruína e que dizem ser coisas de valor e merecimento.

É propriedade da Igreja uma mitra e um báculo, objetos de muito valor artísticos e antiquíssimos que foram para Lisboa (por ordem de D. António, bispo desta Diocese) figurar na exposição de arte ornamental, em 1889. Por várias vezes os têm pedido, mas ainda não foram restituídos (...)».

         Nesse seu trabalho, teve o cuidado de copiar, com esmero, a inscrição alusiva ao óbito do Padre Roberto e, como não podia deixar de ser. não fez «eclipsar» o «2» gravado na pedra, substituindo-o  por «dois pontos».

         Ficámos a saber que ele tinha visitado o monumento, pela primeira vez, havia já 25 anos , que remete para o ano de 1890. Admitindo que já fosse adulto, constata-se o grande interesse deste homem pela História Pátria. Apelando, neste artigo,  à intervenção da República,  isso me faz dizer que ele integrou a primeira Comissão Administrativa do Município, após a implantação da República e a primeira Mesa eleita da Santa Casa da Misericórdia, após a queda da Monarquia.Castrense-1915-1 - Cópia - Cópia

Deixando este registo sério, devidamente fundamentado, permita-se-me especular um pouco sobre este cidadão, com respaldo em alguma informação oral e outra escrita.

Aires Pinto Marcelino era maçon. E se o ligarmos à «loja 31» sita em Castro Daire,  desativada algures no tempo do Estado Novo, talvez ganhe sentido aquele texto que publiquei e se mantem online sobre  «jogo do 31», referido na carta remetida de Montalegre pelo Dr. José Manuel de Moura Pires Machado, Delegado do Ministério Público, que, tendo  passando por Castro Daire, cá deixou alguns amigos e a eles se dirige lembrando  «Consílio dos Deuses», ou o «Consílio do 31».  onde todos tomaram parte.

A carta a que me refiro integra o espólio de trouxe, com autorização do filho, médico a residir nas Canárias, dos arquivos de um conhecido comerciante que foi nesta vila, de seu nome Eduardo Pinto Carvalho. Ela é um bom exemplo de humor e da amizade que existia entre os elementos que num  auto de reunião de designavam «consílio dos semideus», ou «consílio do trinta e um».  Está datada de 1959. Eis o conteúdo, cifrado quanto baste:  

«Ata da reunião preparatória do Magno Consílio dos Semideuses

Aos vinte e três dias do mês de Outubro de mil novecentos e cinquenta e nove, esticando a coisa de modo a chegar aos vinte e quatro dias do mesmo mês, e recolhendo a dita coisa, de modo a não chegar aos vinte e cinco (que bronca), reuniu-se o consílio do trinta e um, formado pelos signatários abaixo assinados, Dr. José Manuel de Moura Pires Machado, Dr. José Gonçalves Monteiro, Manuel Jorge Gonçalves Araújo e Gama, Ângelo Fausto Moita, Fernando dos Anjos Cardoso, comigo José Joaquim da Costa Matos e contigo, Eduardo Pinto Carvalho, escrivães e «jogões» que o subscrevemos. Foi solenemente deliberado coisa que ninguém mais saberá, mas que todos nós sabemos, com a convicção de no dia vinte e três de Outubro de mil novecentos e sessenta e cinco (1965), esteja lá quem estiver e suceda o que suceder, seja a hora que for, reunirmo-nos neste mesmo local, sob pena de um dois, três ou mais tiros em qualquer parte do organismo, de modo a dar morte lenta.

E eu, José Joaquim da Costa Matos e Eduardo Pinto de Carvalho, escrivães o subscrevemos.

Deste pergaminho ficará fiel depositário o escrivão Eduardo Pinto Carvalho que ratifica e assina e serão passadas fotocópias a quem o exigir.

Castro Daire, 23 de Outubro de 1959

N.B. É obrigatória a comunicação ao fiel depositário deste pergaminho, de qualquer alteração na residência dos signatários, ainda que seja a última. O vinho do Porto caiu mal, oh senhor Matos!».

Nota minha: só uma carta tão enigmática  podia servir de remate a um texto sobre a Ermida do Paiva, onde cada SIGLA é um enigma, incluindo os ditos símbolos maçónicos. E PARA TODOS OS QUE NELAS VEEM SOMENTE ASSINATURA DE PEDREIROS DEDICO ESTE POOEMA AUDIOVISUAL. É SÓ CLICAR:  https://youtu.be/Sz0PC8GtL4c

 

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.