Trilhos Serranos

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sexta, 19 fevereiro 2016 13:43

VILA NOVA DE PAIVA - MINAS DA QUEIRIGA

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«NO MINÉRIO TRABALHAVA, TRABALHAVA...»

Nestas minhas andanças nos trilhos serranos, digo, nos trilhos da vida, dei por mim nas Minas da Queiriga, concelho de Vila Nova de paiva.

O meu primo Manuel Carvalho Soares, sabendo-me interessado em tudo o que respeita à História e à vida, levou-me até lá, até aquele outeiro esventrado, esburacado, de portas abertas, abandonado. Aquele outeiro que, em meados do século XX, foi um formigueiro humano de trabalho e de sonhos.

 Minas-1Entrámos. Lá dentro, numa galeria iluminada por vários óculos abertos na vertente do monte virada a Poente, vêem-se e contam-Minas-2se as volumosas colunas naturais que a engenharia mineira moldou com vista a escorar o tecto e permitir a exploração do minério. Fosse esse tecto abobadado e dir-se-ia estarmos num claustro de Mosteiro, onde, a cada momento, ressoa o cântico gregoriano, ou, então, atentos ao trabalho que ali se desenrolou, naquelas entranhas da terra, a refletir luz e sombra, poços de água lá no fundo, ouve-se a algazarra dos mineiros, ouve-se o tilintar compassado das marretas e camartelos, ouve-se o matraquear das brocas a perfurar a terra. Adivinha-se o alento, o conforto, a alegria e o contentamento de cada uma daquelas toupeiras humanas ansiosas de verem convertido o produto do seu suor em escudos, em dinheiro vivo. Adivinha-se a bebedeira certa ao fim do dia, da semana e do mês. Ouve-se o desalento traduzido na cantiga que prevaleceu através dos tempos: «eu no minério trabalhava, trabalhava/todos ganhavam só eu não ganhava nada».

Ouve-se o mando e comando do concessionário, do capataz, ouve-se, lá longe, o troar dos canhões feitos com o volfrâmio exportado para os contendores da 2ª Grande Guerra - Ingleses e Alemães. Naquelas minhas está aberta uma página da vida humana. Uma lição de geologia, de história, de técnica, de cultura, de trabalho, de vida. E virá o tempo em que elas entrarão num qualquer roteiro turístico dirigido às pessoas que na vida querem ver mais do que igrejas,  pelourinhos, castelos, mosteiros ou alminhas.

É isso. Ali, todo o homem culto, informado e sensível à problemática da vida humana, verá, sob o manto diáfano de um jogo de luz e de sombra, num bailado de luz e contra-luz,  a nudez fria do rochedo, da verdade, do trabalho, da vida. 

Minas-3

 NOTA. Este texto foi publicado no meu velho site, em 2008, e transferido para aqui, hoje mesmo, 19/02/2016.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.