MEMÓRIAS E DOCUMENTOS
É óbvio que os meus amigos (pouco atreitos às futilidades facebookianas diárias) sabedores e atentos «ao dito» e «não dito», repararam que ao título destas duas crónicas «QUARENTA ANOS DE PODER LOCAL» falta o apêndice «DEMOCRÁTICO». Não se tratou de um lapso meu. A questão é que, por força dos preceitos constitucionais e leis deles decorrentes, ainda que o «PODER» tenha sido devolvido ao «POVO» através das eleições, «PODERES LOCAIS» houve (e há) que de «DEMOCRÁTICO» têm apenas a forma como foram atingidos. E claro está que não me refiro exclusivamente às «AUTARQUIAS». A «DEMOCRACIA» e a forma de chegar ao PODER alargou-se a muitas outras instituições nacionais. E creio todos hoje saberem quanto «compadrio», «clientelismo», «nepotismo» e outros «ismos» enxameiam o país inteiro a coberto de eleições, passados que são QUARENTA ANOS de «DEMOCRACIA REPRESENTATIVA». E ninguém ignora também o grau de «CIDADANIA» refletido na «abstenção» verificada em cada ato eleitoral, v.g. eleições europeias, legislativas, autárquicas e demais instituições existentes.
Dito isto, hoje, como ontem, com um olhar crítico sobre o mundo que me rodeia, sempre empenhado na «educação para a cidadania», no ano letivo de 1976/1977 (vejam há quanto tempo foi isso, senhores! Nessa altura, muitos dos que se sentam hoje nas cadeiras dos poderes locais, andavam a saltitar de Tim... Tim para Tim...Tim..., ou, quando muito, a ler o «Tio Patinhas» para, em adultos, encontrarem modo de encher o mealheiro), nesse ano, dizia eu, lecionando a disciplina de HISTÓRIA nos cursos diurnos, visando pedagogicamente os objetivos da EDUCAÇÃO, solicitei aos meus jovens alunos o que tinha já solicitado aos alunos adultos sobre o funcionamento da Escola e da sua «Gestão Democrática», através de um «RELATÓRIO» com a seguinte «introdução»:
«Naturalmente, nem tudo o que se passa na tua Escola corre ao teu agrado. Vais ter agora a oportunidade de te pronunciares num pequeno relatório sobre como ela devia funcionar de modo agradar-te e também aos teus colegas, sem prejuízo dos seus objetivos fundamentais que são a tua formação e preparação para a vida.
Se fizeres uma comparação entre o seu funcionamento deste ano e dos anos passados talvez isso te ajude a opinar melhor sobre o que se deve fazer para que cada sala de aula, os corredores, o átrio, numa palavra, a Escola, seja um lugar de convívio democrático e de estudo que contribua, de facto, para os objetivos citados.
A tua opinião é muito importante, sobretudo se ela refletir dois conceitos fundamentais que são a liberdade e responsabilidade».
Aqui deixo pequenos excertos das opiniões dadas por alguns desses alunos e alunas (manuscritas e transcritas) sem desprimor para os restantes que faziam parte da TURMA, os quais aqui não incluo por questão deste meu reduzido espaço online. Hoje todos eles são gente adulta e alguns, seguramente, no exercício da sua cidadania, a integrarem os órgãos de instituições locais. Pois que o façam empenhados no BEM COMUM que, para tanto, foi o empenho educativo deste velho (então, novo) professor.
a) CRISTINA MARIA MARTINS GUERREIRO (3ª ano unificado-diurno)
«(...)Eu creio que esta escola se está a tornar um centro de viciados pelo tabaco. (...) Eu acho que as aulas deveriam de funcionar todas como as aulas de História, com o professor Abílio, porque estas aulas são dadas com muita disciplina, liberdade e também com o sentido de responsabilidade» .
b) MARIA DA PIEDADE DOMINGUES (3º ano unificado - diurno):
«(...) uma das coisas que acho mal é o rapazes terem uma casa de banho e andarem quase sempre metidos na casa de banho das raparigas, pois acho que isso não era para eles fazerem, uma vez que têm uma e no entanto eu todos os dias vejo isso.(...)As aulas (...) a melhor organizada, para mim, claro, é a de História, onde eu acho que há mais liberdade e que ela é respeitada (...)»
c) MARIA DO ROSÁRIO M. AUGUSTO (3º ano unificado - diurno):
«Na minha opinião acho que a escola este ano já está a funcionar um pouco melhor em relação aos outros anos (...) Há aulas que o seu ambiente é bastante bom, como por exemplo a aula de História, a de Francês e, em princípio, a de Português. As duas primeiras aulas que citei funcionam bem e o ambiente é agradável porque há respeito entre os alunos e os professores.
d) MANUEL FRANCISCO GUERREIRO BARÃO (3º ano unificado - diurno):
«Eu acho que a escola está a funcionar melhor em relação ao ano passado, porque não havia tanto respeito como este ano (...) A aula de História é uma aula onde há respeito entre alunos e professor. Se em todas as aulas corresse assim não tinha nada a dizer, porque quando toca a campainha para a entrada o professor entra em primeiro e quando toca para a saída os alunos saem e depois o professor, e assim não podem roubar nada".
e) MÁRIO CORREIA VAZ (3º ano unificado - diurno)
«Nas aulas de (...) tenho a apontar o método de ensinar do professor. Às vezes acontece que ele está falando e a gente diz que não percebe, ele diz para não interrompermos, que depois ele engana-se e já não sabe ou baralha-se e já não sabe o que estava a dizer; depois no fim do período para avaliar os alunos baseou-se só nos pontos, porque não tinha quase nenhuma avaliação a não ser os pontos.
Nas outras aulas já isto assim não se passa, porque os professores imitiram logo um método (...) que está a resultar muito bem, principalmente nas aulas de História, em que um fala e o outro escuta e dando matéria num dia e no outro fazendo chamada a essa mesma matéria, assim dá-nos a possibilidade de nós trazermos sempre a matéria em dia e não ir acumulando a matéria só para quando houver pontos».