Aconteceu que, num rasgo de nacionalismo patriótico o ESTADO NOVO ordenou que em todas as freguesias do país fosse levantado um monumento alusivo a esses eventos históricos, neles devendo figurar as datas de 1139 (em alguns deles arredondou-se para 1140), 1640 e 1940.
Mas freguesias havia e há que incluíam diversas povoações e desprovidas de verbas para levantarem um monumento em cada uma delas, decidiram satisfazer a vontade do Governo Central, escolhendo um sítio equidistante de umas e de outras ou, à falta dele, a cota orográfica mais elevada entre elas, por forma a que todas vissem o monumento à distância e nele se sentissem representadas. Estávamos no tempo em que, ao redor de casas, aldeias e vilas, todos montes, outeiros e demais elevações de terreno estavam rapados de mato, fosse por neles pastarem os rebanhos, fosse por serem eles que forneciam aos habitantes os matos para estrumes e lenhas. A serra sempre foi uma fonte de energia. Dela se extraíam as lenhas e o carvão para aquecimento, tal como atualmente dela se extrai, através dos geradores eólicos, a energia que alimenta lareiras, televisões, telemóveis e demais tecnologia disponível à informação, entretenimento e cultura.
Conheço três casos no concelho de Castro Daire onde as Juntas de Freguesia, gerindo os parcos recursos que tinham nos seus cofres, recorreram ao princípio acima enunciando. A Freguesia das Monteiras decidiu erigir o CRUZEIRO na povoação das CARVALHAS, o povo que fica geograficamente entre as aldeias da RELVA e MONTEIRAS, com o EIDO ao lado. A Freguesia de Mões, optou por escolher o monte sobranceiro à vila, à cota de 709 m de altitude, levantado ali a ver VILA BOA e arredores, assente em degraus octogonais sobre um penedo lajeado de raiz. Sobre este monumento farei uma crónica e vídeo à parte. E a «Freguesia de Lamelas» escolheu o ALTO DA CABEÇA, à cota 773 m, sobranceiro a LAMELAS DE CÁ, e visto por tudo em redondo, inclusive Braços e Vila Pouca, que, segundo a tradição oral, também usufruíam daquele baldio em tempos idos.
De todas as obras alusivas ao evento da INDEPENDÊNCIA E RESTAURAÇÃO, não sendo a mais artística é, de todas, a mais volumosas em forma de CRUZEIRO. Constituído por vários corpos em formato quadrado, na face virada a NASCENTE tem gravada a escopro o ano de 1139, seguido da inscrição: «VIII CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA». Na face virada a POENTE o ano de 1640 e a inscrição: «III CENTENÁRIO DA RESTAURAÇÃO». Na face virada a NORTE temos : «AVE, CRUX SPES UNICA» e na face virada a SUL: «A CRISTO PORTUGAL AGRADECIDO 1940».
Atualmente rodeado de pinheiros passa despercebido à maioria das pessoas e convencido estou haver professores e jovens na freguesia que ignoram a sua existência. Sei lá se até mesmo autarcas! Mas a quem não passou despercebido, há anos, foi ao antigo Presidente da Junta da Freguesia de Castro Daire, António Vicente, que me levou a vê-lo e a limpeza que mandou fazer em seu redor na mesma altura que ordenou pôr a descoberto o sítio da Fonte Santa, no Monte da Lapa, escondida entre matos e silvedos, já por mim referida em texto e em vídeo, com vista a que o atual EXECUTIVO MUNICIPAL não deixe perder uma «água pública» e a ponha ao serviço do público. E também não é ignorado pelo senhor Narciso Pinto, a quem sempre recorro quando preciso de localizar o que, sendo do meu conhecimento, se me esfumou da memória. Foi o que fiz desta vez. E ele, sempre prestável, conduziu-me ali com a afabilidade que toda a gente lhe reconhece. (Ver link de vídeo anexo no fim do texto)
A HISTÓRIA é uma permanente descoberta. Nunca é um livro fechado e acabado. Cabe, pois, a cada um de nós, que ainda mantemos de pé este pedaço de Portugal periférico, registar as MEMÓRIAS que até nós chegaram por forma a permitir que os vindouros prossigam a investigação e, com isso, enriqueçam a HISTÓRIA LOCAL de modo a termos um melhor esclarecimento do nosso passado coletivo através dos traços físicos e mentais deixados pelos nossos antepassados em pensamentos e obras.
link do vídeo
https://youtu.be/Gyp7MoBGXDA
NOTA: Pessoa amiga e atenta àquilo que escrevo disse-me em privado que LAMELAS não era Freguesia como eu escrevi no texto. Agradeci a atenção e alerteio-o (trata-se um amigo que gosta de me ler) para a forma como escrevi a expressão "Freguesia de Lamelas", em itálico e entre aspas. Pretendi assim (esclareço agora para evitar mais confusão) mostrar que Lamelas, não sendo freguesia administrativa, mas somente eclesiástica, quis marcar a sua presença religiosa e deixar no ALTO DA CABEÇA a legenda "A CRISTO PORTUGAL AGRADECIDO" e as restantes.