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segunda, 05 setembro 2016 12:31

TESTAMENTO - CASTRO DAIRE I

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TESTAMENTO DE JOÃO PEREIRA DE MORAIS 

Deixemos as terras quentes do Alentejo, onde andámos na companhia do tabelião JOÃO ANTÓNIO FIGUEIRA,  concelho de CASTRO VERDE e subimos às terras frias do norte, concelho de CASTRO DAIRE, mais propriamente à aldeia de CUJÓ a fim de revermos o testamento de JOÃO PEREIRA DE MORAIS, que já publiquei, há anos, no meu site trilhos serranos,  mas que vem a talhe de foice repescá-lo para aqui na sequência dos registos que tenho vindo a fazer, visando fazer luz sobre assuntos que sei, sem dúvida alguma, serem, para muita gente, matéria tão escura quanto eram as noites nas aldeias portuguesas na época em que foram lavrados. Assim:

«CUJÓ, TESTAMENTO DE JOÃO PEREIRA DE MORAIS, VIÚVO, 1850*

ESTAMENTO - CUJÓ «Eu João Pereira de Morais, viúvo, lavrador, morador no lugar de Cujó, freguesia de São Joaninho, julgado e concelho de Castro Daire, achando-me adiantado em anos, determino fazer meu testamento da forma seguinte: quero ser sepultado na capela de Nossa Senhora da Conceição da minha freguesia e ofertado, segundo o uso e costume, que por minha alma se me digam cem missas e mais doze de tenção esmola ordinária e por uma só vez; que aos pobres se distribuam doze alqueires de pão cozido tirados do monte ou de toda a minha meação e será repartido até pão à porta da capela pelo melhor modo e quando meus herdeiros e testamenteiro melhor puder, mas dentro em meio ano.

 Tenho em minha companhia três filhos = Francisco = José = e Maria = e dois casados, fora, que são Josefa e António. E porque os primeiros três me têm servido e aturado devo ter com eles contemplação, por isso, nomeia a meu filho Francisco o Prazo chamado da Parede, foreiro a Tourais, e lhe deixo a belga pegada no dito Prazo e terra da Parede, bem como a espingarda que foi de José Carvalho. Deixo a meu filho José tapada do Redondel e a minha filha Maria a minha metade da lameira das Forcadas, abaixo e acima do rego, metade da lameira das Fragas e metade do tear e a todos os ditos três filhos = Francisco, José e Maria = deixo a minha metade das casas onde vivo com seus dois quinteiros fechados com uma só porta. Toda a carne de porco, unto e manteiga que houver, deixo a sorte que me compete no pão colhido ou granjeado e ainda pendente aos ditos meus três filhos, Francisco, José e Maria. Deixo a meu filho António a minha metade da lameira das Fragas e a minha metade da leira do Portinho. E deixo a minha filha Josefa a minha metade da leira do Chanderão, a de ao pé do caminho e a minha metade da lameira do Sabugueiro, abaixo da levada e aos ditos António e Josefa a minha metade da casa que foi de João da Francisca. Deixo aos ditos três filhos ? Francisco, José e Maria ? a minha sorte que me compete nos carros que existem na casa, tudo em pagamento dos serviços que me têm feito e bem como me tratam e se necessário for lho deixo dentro das forças do meu terço. Declaro que a despesa do bem de alma deve sair dos legados a proporção do que deixo a cada um, excetuando o Prazo.  E meu filho Francisco será o meu testamenteiro. E no resto de meus bens instituo por meus universais herdeiros a todos os ditos meus cinco filhos. Declaro que o pão das esmolas, como dito fica, sairá do monte, mas a cargo dos meus três filhos, Francisco, José e Maria. E por verdade pedi ao Bacharel Máximo Germano Pereira da Cunha, desta vila que este me escrevesse. Deixo a meu neto Francisco, comigo assistente, a minha metade da horta das Lameirinhas e assim tenho disposto. E por ser esta a minha vontade roguei ao sobredito escritor que este meu testamento me escrevesse o que fez conforme o seu ditame e por o achar conforme assina comigo em Castro Daire aos trinta e um dias de Agosto de mil oitocentos e cinquenta. Porém, como o dito testador lhe custasse a escrever me pediu para que de seu rogo assinasse o que eu fiz, lugar, dia, mês e ano supra. Máximo Germano Pereira da Cunha».

Seguiu-se, na mesa data, o «Instrumento de Aprovação» feito em Castro Daire, na casa do advogado, onde se deslocou o tabelião Inocêncio Teixeira do Amaral que, na presença do testador, procedeu à validação do testamento perante as testemunhas, Francisco Marques da Cunha, proprietário; António José Ferreira, lavrador; José Lourenço, taberneiro; José Figueiredo, comerciante e José de Almeida, tendeiro, todos moradores na vila e todos assinaram. O advogado assinou a rogo do testador por ele declarar que «não podia escrever em razão dos padecimentos que sofre da mão direita». 

E segue-se «Deveritatis a Tabelião = Inocêncio Teixeira de AmaralEu José da Costa Pinto, Regedor da Paróquia, reconduzido nesta freguesia de São Joaninho, certifico em como no dia dezanove de Fevereiro do ano de mil oitocentos e cinquenta e dois, pelas dez horas da manhã do dito dia, compareceu nas casas e morada do mesmo defunto, me foi apresentado este testamento que achei intacto sem entrelinha, borrão ou veio algum que dúvida fizesse o qual li e restituiu aos herdeiros do defunto e por verdade e para constar passei o presente que assino. São Joaninho, dezanove de Fevereiro de mil oitocentos e cinquenta e dois. O Regedor da freguesia José da Costa Pinto».

Sobrescrito: testamento do testador João Pereira de Morais, viúvo do lugar de Cujó, deste Julgado, fechado, cosido com três pontos de linha preta cobertos de lacre encarnado. Aprovado em trinta e um de Agosto de mil oitocentos e cinquenta por mim tabelião Inocêncio Teixeira de Amaral. E não continha mais nada. Castro Daire, 31 de Março de 1852- eu José Maria Duarte Cerdeira, escrivão da Administração o subscrevi e assinei».

E, nesta altura do campeonato, julgo ser dever do HISTORIADOR dar espaço à reflexão e comentário dos leitores. Mesmo estando eu seguro de que o mais certo é ter o silêncio por resposta. Neste tempo da Internet e Facebook para quê gastar tempo com «coisas mortas» se não faltam «bonequinhos animados, coloridos,  a rir, a chorar»,  para, ao alcance de um  «clic» remetermos aos amigos e, sem palavras, expandirmos as nossas emoções? Assim vai o mundo. Sejam felizes e espalhem a vossa felicidade, distribuindo pelos amigos «bonequinhos» e «flores» que cansam menos e divertem mais. 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.