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sábado, 15 agosto 2015 14:21

PENEDO LEGENDADO NA SERRA DA LAPA

Escrito por 


OSSOS DO OFÍCIO

- Ainda bem que cá está. Vim aqui de propósito para saber quando tem disponibilidade para ir comigo ver um penedo com números e letras, lá arriba na serra da Lapa.
Eu estava à espera do almoço, sentado à mesa e, num repente, aparece-me o senhor Narciso, industrial de padaria (Lamelas/Castro Daire) que, passando já da meia idade, gosta de rever, a cavalo, os sítios que, na infância, calcorreou a pé, nas cercanias de Lamelas.


PENDEO-1
 
 
 
 
 
- Pode ser agora? Interpelei.

- Pode.

Fiz sinal à empregada para suspender o meu almoço e, sem entretantos,  arrancámos na carrinha dele em direção ao penedo datado e legendado.

Este meu amigo, industrial do PÃO, cujo curriculum vitae poder ser visto no vídeo que alojei, há anos, no Youtube, com o título FORNO DA SERRA, tem mais sensibilidade para estas coisas da Investigação do que alguns diplomados que por aí exercem a profissão de professores de HISTÓRIA.

Chegados ao sítio, começou por dizer-me que o penedo foi deslocado do sítio original, que está deitado e coberto de musgo. Que ele não lhe mexeu para eu ver o estado e o lugar em que o encontrou.  E disse que sítio original era as uns dez metros de distância, ali onde se cruzam os caminhos rurais que atravessam a Lapa: um, no sentido nascente/poente/Vale Cuterra/Lamelas e outro em direção norte/sul/Vilar/Vila Pouca/Castro Daire.

Deitado, com o musgo a tapar as letras e os números, passei a mão e pus ambas a descoberto. Data: 1944. Legenda: J.F. LAMELAS.

Pedi-lhe para se sentar nele e tirei a fotografia que ilustra este texto. O registo aqui fica. Ele pode servir para explicar a "demarcação"  entre "baldios", outrora usufruídos e disputados pelas povoações vizinhas, por causa das lenhas e gados. E hoje, por for força da evolução dos tempos, pastorícia e agricultura abandonadas, aquele marco divisório foi tornado inútil, arrancado do sítio, sem significado algum para o condutor da retroescavadora que lhe meteu a pá por baixo e lhe fez dar um pinote de metros. Mas igual atitude não teve o meu amigo Narciso. Montado na sua égua nas horas de lazer, amante da natureza, revivendo os lugares onde cresceu e lhe atestam a sua identidade, ao passar por ali teve um REBATE de memória: «por aqui havia um penedo com letras e números. Era aqui. Não está cá».

Apeou-se seguro de que não estaria longe. E não tardou a encontrá-lo e a dar-me conhecimento do achado. Houvesse muitos Narcisos em Castro Daire, sempre a olhar por onde passa com OLHOS DE VER e a nossa HISTÓRIA e o nosso PATRIMÓNIO estariam mais ricos e mais esclarecedores.

Regressámos ao ponto de partida. Agradeci-lhe ter-me interrompido o almoço e que nunca deixasse de desafiar-me a ir de encontro às suas descobertas na serra.
Que sim, senhor. Assim faria.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abílio/agosto2015
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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.