
Lavrado em pedra, com uma vieira (concha) no topo da figura de Cristo, vieira que é símbolo dos caminhos de Santiago de Compostela, ela bem pode dizer-nos que este cruzeiro foi lavrado no Mosteiro da Ermida, Mosteiro que estava no roteiro de tal caminho, pois sabido é que ao Couto da Ermida pertencia S. Joaninho e Cujó a S. Joaninho pertencia.
Lavrado à força de mão, ponteiro, maceta e cinzel, ornamentado com cores postas a trincha ou pincel, este cruzeiro é um autêntico poema religioso lavrado em pedra. Não há semelhante na redondeza. O artista, podia não saber usar a caneta, podia não saber assinar o seu nome, podia somente assinar de cruz, mas deixou nesta obra, a luz da sua sensibilidade humana, a destreza do seu pensamento, a plasticidade da sua imaginação e criatividade. Basta olhar e ver. Basta que a gente, laica ou crente, pare, observe e leia o que o artista escreveu, executou e concebeu na pedra, para quem creia ou não creia no crucificado, no Senhor da Livração.
Recentemente, outro artista, pondo nele a vista, utilizando as ferramentas de desenho disponíveis hoje em dia, no talhe e no corte da madeira e da pedra, (século XXI, ano 2015, digamos que fazendo uso do milagre da ciência, tenhamos disso consciência) resolveu replicar a obra e, dominando a tecnologia dos tempos atuais, a tecnologia que nada tem a ver com o ponteiro, a maceta, o cinzel e os demais apetrechos dos canteiros de antanho, dedilhando, ora uma letra, ora um número do teclado do computador, hoje senhor do mundo, definidos os parâmetros de desenho e de corte, eis que, obedecendo aos números e à lógica, um pedaço de granito, um naco de penedo disforme arrancado da morte geológica em que jazia, toma vida e transforma-se, linha a linha, na réplica que lhe serviu de modelo, assim, tal qual se vê. Deixando o rigor da escala, da largura e da altura (pô-las, para quê?) digamos que, para ser cópia fiel, feito sem maceta e sem cinzel, só lhe falta a pintura.
E se do cruzeiro original se ignora o nome do autor, a origem e o tempo em que foi feito, da réplica, colocada no exterior a céu aberto, se sabe que, quem o fez, quem teve a ideia, a ciência e o jeito, foi o jovem Pedro Costa, natural de Cujó, com empresa de granidos e mármores montada na aldeia. A referência aqui fica para quem gosta de situar no tempo e no espaço, não uma coisa só, mas todos os eventos humanos, as obras de arte que, pela natureza dos materiais em que são feitas, duradouras, desafiam anos e anos as gerações inteiras, as gerações vindouras.