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domingo, 13 março 2016 22:48

TEMPOS COLONIAIS: FORMAÇÃO E QUEDA DE IMPÉRIOS

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O NURO

Da cultura clássica ficou-me para sempre aquela expressão lapidar de Horácio: "a Grécia conquistada conquistou Roma conquistadora".  E ficou-me para sempre porque, no estudo da formação e queda de impérios, ela me vinha sempre à mente, associada ao conhecido adágio popular: "não há bem que sempre dure e mal que nunca acabe", acrescendo a isso e à minha sensibilidade, as mil vezes que ouvi os guarda-fios negros, meus subalternos em Tete e em Lourenço Marques, em momento de desânimo, proclamarem: "Alá é grande!".
Todas as vezes que tal ouvia, vinha-me à mente o que eu tinha lido no livro "Usos e Costumes dos Bantos", do missionário/antropólogo Henri A. Junod, sobre o conceito de "nuro" que,  de certo modo, se liga a tudo o que acabo de dizer. Ora vejam:


"Nuro" é uma potência particular possuída pelo homem e por certos animais selvagens, em virtude do qual eles se vingam da pessoa que os matou (...) o facto de ter morto uma pessoa ou um animal possuidores de "nuro" coloca o matador num estado de perigosa contaminação. Parece, por vezes, que o "nuro" penetrou e vive nele, como que adormecido, pronto a despertar em certas circunstâncias. O perigo adstrito ao "nuro"  deve ser conjurado por um tratamento especial. Se o tratamento é descurado, o "nuro" provocará um acesso de loucura ou pode mesmo causar grandes males à família do matador ou do caçador".  (Henrique A. Junot, (1974) "Usos e Costumes dos Bantos",  tomo 2, pp. 70-71).

Ora, todo aquele que conhece minimamente a história de África, todo aquele que olha com imparcialidade e desapaixonadamente os tempos das conquistas, de povos conquistadores e povos conquistados, da formação e queda de impérios, enquadra facilmente no contexto da COLONIZAÇÃO E DESCOLONIZAÇÃO, este estudado conceito banto,  esta "potência possuída por homens e animais". A mim não me custa a ver o "nuro despertado" e, se a DESCOLONIZAÇÃO resultou em toda a "loucura" que conhecemos, se trouxe "grandes males à família do matador ou do caçador", foi pelo facto "ter sido descurado o tratamento devido". 
E não se fiquem por esta minha abordagem do tema, caro amigos,  se quiserem manter Horácio vivo, basta que estejam atentos e, no contexto da DESCOLONIZAÇÃO vejam "quem conquistou quem"?  Findo o império, pode perguntar-se quem é hoje dono e senhor alguns Bancos portugueses e quem domina em certos órgãos de comunicação social, em Portugal.  Será preciso eu dizê-lo? Vá lá, façam os vossos trabalhos de casa. E não falo de Macau e da China. Sobre isso já escrevi em 2003 uma informada e extensa crónica que está disponível e ilustrada nos meus sites (velho e novo) novo, com o título "OS CHINESES".

 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.