Apeado foi metido numa garagem onde, deitado, aguardará o arranjo do espaço público da aldeia para nele ser levantado e no qual voltará a adquirir o valor simbólico de que foi despojado, todo este tempo. Prisioneiro no curral, não só serviu de coluna de apoio à trave do sobrado, mas também objeto com marcas evidentes dos animais o utilizarem para tirarem a coceira. Basta ver o polimento do fuste nos sítios onde os quadrúpedes chegavam com o pescoço ou com as costelas.
Andando eu na peugada dele há anos, alertado que foi para isso o atual Presidente da União de Freguesias de Mamouros, Alva e Ribolhos, José Pereira Almeida, depois de algum tempo no terreno após a sua posse como autarca, foi com grande satisfação que ele, de colaboração com os seus amigos e moradores na área administrativa que está sob a sua responsabilidade política, me transmitiu a notícia de ter descoberto o «monumento», face ao que proclamei, para mim próprio, igualmente satisfeito: Ecce Homo que na sua simplicidade e humildade de Presidente da Junta, sem passar pela Universidade, nem bancar ao título de licenciado e de doutor, mostra sensibilidade para a investigação, descoberta, salvaguarda, preservação e restauro do nosso património histórico material e imaterial. Gosto de trabalhar com pessoas assim e elas podem contar com a minha colaboração, ciente de que para fazer a História, em casos destes, me dispenso de ir à Torre do Tombo ou de me meter nos Arquivos do Vaticano.
Já alojei no Youtube dois vídeos sobre tão insólito caso. O primeiro, com o título «ALVA PELOURINHO» alojado em 19-06-2016, fazendo o devido enquadramento histórico-geográfico. O segundo, com o título «ALVA PELOURINHO SEGUNDA FASE», alojado em 22-11-2016, a mostrar o «resgate da peça do sítio onde, oculto e silenciado, permaneceu até agora. E não se admire o leitor se eu lhe disser que não foi caso único no concelho de Castro Daire. Não. Não estamos no Entroncamento mas, às vezes, até parece. Semelhantemente a ele, por mim descoberto recentemente, se encontra o Pelourinho de Castro Daire, também ele classificado «monumento nacional» por decreto 23.122 de 11-10-1933 (ob.cit. acima) com duas diferenças assinaláveis: em vez de estar num curral, a segurar uma trave e a tirar a coceira aos animais, está numa adega também a servir de suporte a uma trave, mas a ver escorregar o licor dos deuses pelas goelas dos homens.
Já escrevi duas crónicas sobre o caso, aqui mesmo nesta minha página.E alertei para ele o atual Vereador do Pelouro da Cultura, Dr. Rui Braguês, que, tanto quanto sei, já encetou diligências junto do atual proprietário da moradia para proceder a igual "resgate". Oxalá que assim seja. E estou certo que o proprietário onde se encontra truncado esse «monumento» será sensível ao seu resgate e restauro, por forma a que Castro Daire disponha novamente do seu PELOURINHO em espaço aberto. Nada vale andar a pregar turismo cultural no concelho, ter espaço adstrito e adequado à interpretação da nossa história, geografia e cultura e nada fazer pela descoberta e preservação do nosso património histórico, natural, construído, material e imaterial.
Dito isto e isto feito sobre o «PELOURINHO DE ALVA» não faltará agora quem opine e dê palpites sobre o local onde é que ele deve ser levantado. As opiniões virão daqueles que «nada opinaram», ou tão pouco se importaram em saber onde se refugiou este «monumento nacional», mas que agora tudo sabem sobre ele. Cá por mim, desde já digo que, para lhe devolver a dignidade e o valor simbólico da JUSTIÇA e da MUNICIPALIDADE, para compensá-lo dos anos que passou prisioneiro na escuridão de um curral, darei o meu aval ao sítio arejado e nobre que for escolhido pelo atual Executivo da JUNTA. Ele deu mostras de ter sensibilidade sobeja para valorizar o património existente na autarquia que merecidamente ganhou no acto eleitoral de 2013.
Post Scriptum: Já depois da publicação desta crónica e no prosseguinto das obras de restauro, o «Pelourinho» tomou lugar público na porovação do Souto de Alva e, de pé, rematado por uma bola, pode ser visto por todos aqueles que se interessam pela HISTÓRIA e pelos nossos simbólicos monumentos.