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sábado, 26 novembro 2016 14:08

PELOURINHO DE ALVA

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O NOSSO PATRIMÓNIO E OS SEUS TRATOS

Classificado «monumento nacional» por decreto nº 23.122 de 11-10-1933, (Alberto Correia, in «Castro Daire, Roteiro Turístico»,1987), o Pelourinho de Alva, vá lá saber-se quando, por quê e por quem, foi retirado do lugar público arejado onde se encontrava,  deixando de ser o símbolo da JUSTIÇA e da MUNICIPALIDADE, para ser metido num  curral a servir de suporte a uma trave de sobrado, numa casa em Souto de Alva. Prisioneiro e condenado a viver no escuro (nos pelourinhos, antes deles passaram à fase simbólica da Justiça, eram presos e expostos os delinquentes sociais,ao ar livre, em plena luz do dia) ali permaneceu durante décadas no escuro até ao momento em que foi resgatado v.g. no p.p. dia 22-11-2016.

 Apeado foi metido numa garagem onde, deitado, aguardará o arranjo do espaço público da aldeia para nele  ser levantado e no qual voltará a adquirir o valor simbólico de que foi despojado, todo este tempo. Prisioneiro no curral, não só serviu de coluna de apoio à trave do sobrado, mas também objeto com marcas evidentes dos animais o utilizarem para tirarem a coceira. Basta ver o polimento do fuste nos sítios onde os quadrúpedes chegavam com o pescoço ou com as costelas.

1- Alva-três-a - REDZAndando eu na peugada dele há anos, alertado que foi para isso o atual Presidente da União de Freguesias de Mamouros, Alva e Ribolhos, José Pereira Almeida, depois de algum tempo no terreno após a sua posse como autarca, foi com grande satisfação que ele, de colaboração com os seus amigos e moradores na área administrativa que está sob a sua responsabilidade política, me transmitiu a notícia de ter descoberto o «monumento», face ao que proclamei, para mim próprio, igualmente satisfeito: Ecce Homo que na sua simplicidade e humildade de  Presidente da Junta, sem passar pela Universidade, nem bancar ao título de licenciado e de doutor, mostra sensibilidade para a investigação,  descoberta, salvaguarda, preservação e restauro do nosso património histórico material e imaterial. Gosto de trabalhar com pessoas assim e elas podem contar com a minha colaboração, ciente de que para fazer a História, em  casos destes,   me dispenso de ir à Torre do Tombo ou de me meter nos Arquivos do Vaticano.2-Pelourinho-REDZ

Já alojei no Youtube dois vídeos sobre tão insólito caso. O primeiro, com o título «ALVA PELOURINHO» alojado em 19-06-2016, fazendo o devido enquadramento histórico-geográfico. O segundo, com o título «ALVA PELOURINHO SEGUNDA FASE», alojado em 22-11-2016, a mostrar o «resgate da peça do sítio onde, oculto e silenciado, permaneceu até agora. E não se admire o leitor se eu lhe disser que não foi caso único no concelho de Castro Daire. Não. Não estamos no Entroncamento mas, às vezes, até parece. Semelhantemente a ele, por mim descoberto recentemente, se encontra o Pelourinho de Castro Daire, também ele classificado «monumento nacional» por decreto 23.122 de 11-10-1933 (ob.cit. acima) com duas diferenças assinaláveis: em vez de estar num curral, a segurar uma trave e a tirar a coceira aos animais, está numa adega também a servir de suporte a uma trave, mas a ver escorregar o licor dos deuses pelas goelas dos homens.

3-GARAGEM-1Já escrevi duas crónicas sobre o caso, aqui mesmo nesta minha página.E  alertei para ele o atual Vereador do Pelouro da Cultura, Dr. Rui Braguês, que, tanto quanto sei, já encetou diligências junto do atual proprietário da moradia para proceder a igual "resgate". Oxalá que assim seja. E estou certo que o proprietário onde se encontra truncado esse «monumento» será sensível ao seu resgate e restauro, por forma a que Castro Daire disponha novamente do seu PELOURINHO em espaço aberto. Nada vale andar a pregar turismo cultural no concelho,  ter espaço adstrito e adequado à interpretação da nossa história, geografia e cultura e nada fazer pela descoberta e preservação do nosso património histórico, natural, construído, material e imaterial.4-GARAGEM-2

Dito isto e isto feito sobre o «PELOURINHO DE ALVA» não faltará agora quem opine e dê palpites sobre o local onde é que ele deve ser levantado. As opiniões virão daqueles que «nada opinaram», ou tão pouco se importaram em saber onde se refugiou este «monumento nacional», mas que agora tudo sabem sobre ele. Cá por mim, desde já digo que, para lhe devolver a dignidade e o valor simbólico da JUSTIÇA e da MUNICIPALIDADE, para compensá-lo dos anos que passou prisioneiro  na escuridão de um curral, darei o meu aval ao sítio arejado e nobre que for escolhido pelo atual Executivo da JUNTA. Ele deu mostras de ter sensibilidade sobeja para valorizar o património existente na autarquia que merecidamente ganhou no acto eleitoral de 2013.

Post Scriptum: Já depois da publicação desta crónica e no prosseguinto das obras de restauro, o «Pelourinho» tomou lugar público na porovação do Souto de Alva e, de pé, rematado por uma bola,  pode ser visto por todos aqueles que se interessam pela HISTÓRIA e pelos nossos simbólicos monumentos. 

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.