MASSANGANO-MOÇAMBIQUE
Sobre este tema sigo a CRONOLOGIA de que disponho graças ao laborioso trabalho de M. Simões Alberto e Francisco A. Toscano, deixada no livro «O Oriente Africano Português", editado em 1942, em Beja, nas oficinas da Minerva Comercial de Carlos Marques & cª Ldª. É uma CRONOLOGIA dos acontecimentos históricos que tiveram lugar em Moçambique, com o rigor de quem manuseou os documentos citados.
1867 - 1 de julho. Era governador de Tete o capitão Miguel Augusto de Gouveia, que nesta data entrega o governo ao capitão José Antunes da Cunha, saindo de Tete com a primeira expedição a Massangano, composta de tropas de Tete e escravos armados.
Em 8 de julho deu-se a primeira derrota infligida por António Vicente da Cruz, o "Bonga", sargento-mor de Massangano, às tropas portuguesas saídas de Tete sob o comando do capitão Miguel Augusto de Gouveia, sendo presos e mortos todos os oficiais. (em ofício n. 19, de 10 de julho deste ano, informa o capitão Antunes da Cunha, dirigindo-se ao governador de Quelimane, que neste rscontro tinham ficado prisioneiros ou mortos: o capitão Gouveia, tenente Pratt, alferes Mendes, Barradas, Sousa, Queiroz e o farmacêutico Araújo e dos 67 europeus faltavam 26. Perderam-se todas as armas, artilharia, embarcações, munições e mantimentos. O capitão Antunes da Cunha toma posse nesta data do governo de Tete e a 1 de meio de 1868 é substituído por uma junta governativa de que ele era o presidente, composta por cinco membros e que governou 19 dias, entregando o governo a 20 de maio ao capitão António Maria Travassos Valdez, que fi ou encarregado do governo).
1874 - 27 de fevereiro. Próximos de Massangano são nesta data atacados por gente do "Bonga" o tenente quartel-mestre Mont'Alvares e o alferes Silva, que se salvam, mas ficaram sem bagagens.
1879 - 8 de setembro. Morre em Massangano o célebre sargento-mor António Vicente da Cruz, o " Bonga", aue por assim dizer viveu smepre independente da autoridade portuguesa e muitíssimo nos hostilizou, tendo, a pedido de um seu irmão, ido ali um padre para assistir ao funeral e uma escolta de soldados para lhe prestarem honras fúnebres.
Sucedeu-lh seu irmão Luis Ramos da Cruz, o "Muchenga" que foi pouco depois deposto por o "Inhamissinga", que o "Bonga" tinha desterrado para o Bárue.
Este Vitorino morreu em setembro de 1885, sucedendo-lhe um outro irmão de nome António, o "Chatara". Desde 1879 a 1885 houve umapaz relativa na Zambézia.
1888 - 23 de maio. Nesta data foi Massangano ocupado pelo pelo "Motontoura", que em setembro do ano anterior havia entregado o seu irmão Chatara às autoridades portuguesas manietado.
Em 21 de junho, o governador de Tete, Oliveira Gomes, tendo partido para o Luenha com 1500 cipais no intento de tomar a aringa do "Motontoura", em Mazumba, é nesta data derrotado por ele.
Em 5 de setembro o governador geral Augusto Castilho ordena, nesta data, o cerco à aringa do "Pindirire" principal chefe de guerra do rebelde de Massangano. A aringa foi incendiada.
Em 29 de novembro. Às seis horas damanhã, o governador geral de Moçambique, Augusto de Castilho, manda arvorar a bandeira nacional na aringa de Massangano. O inimigo teve mais de seis mil mortos.
A aringa de Massangano foi ocupada definitivamente, sendo mais tarde construído o forte "D. Amélia", na serra que domina as ruínas.
De Tete foram depois mandados para o museu de Moçambique os seguintes troféus tomados pelas nossas forças: biribire, ou batuque de guerra, que foi do régulo Gaude e cuja aringa era na foz do rio Muira; bastão do mambo Kater-Sá; bastão do pandoro Inhaude; duas bandeiras portuguesas encontradas na aringa; batuque de guerra do "Motontoura" e duas espingardas.
1890 - 23 de junho. Portaria provincial desta data em que se estabelecem dois prémios pecuniários, um de duzentos e outro de cem mil reis, aos funcionários da colónia que melhor falassem e escrevessem qualquer dos dialetos da língua "Bantu"
LINHA DA FRENTE
Vi hoje mesmo, dia 19 de março de 2016, o programa LINHA DA FRENTE da RTP1, logo a seguir ao TELEJORNAL das 20 horas. Mostrou a fuga, quer de Moçambique, quer de Angola, de alguns PORTUGUESES que nesses territórios ganhavam honestamente a vida ligados ao mar e à pesca.
Por força da DESCOLONIZAÇÃO, receosos do futuro, sem crença nos novos governantes, meteram-se nas suas traineiras e rumaram a Portugal no sentido inverso do seguido por Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e tantos outros navegadores que enchem de glória as páginas da HISTÓRIA PÁTRIA.
Comovi-me!
Eu, que também por lá andei, e à Pátria retornei pelos mesmos motivos (mas de avião) não pude deixar de ver naqueles homens e mulheres os PORTUGUESES de quinhentos, só que, agora, em vez de registos escritos deixados por João de Barros, Diogo de Couto e todos os outros cronistas dos DESCOBRIMENTOS, vi-os ali, em carne e osso, a falar, em registos filmados, idade e voz fixadas em fotogramas, as aventuras e os riscos que correram. À minha comoção juntou a daquele comandante de marinha que, quis o destino, se cruzassem ocasionalmente, no trajeto e que lhes serviu de apoio de retorno a Portugal. Da frota salvaram-se a Marlene, o Amazon e Mar Azul.
É o jornalismo a "fazer história". E eu, que tenho andado a reler e a publicar alguns textos sobre a história da COLONIZAÇÃO, a conquista de Ceuta em 1415, a expansão África abaixo, Cabo das Tormentas, África acima, penetração nos sertões, encontro e recontro dos povos que chegam com os povos nativos, não pude deixar de associar-lhe estes episódios da DESCOLONIZAÇÃO e ver naqueles homens e naqueles barcos a frota do FIM DO IMPÉRIO.
Por força da profissão que escolhi como forma de ganhar a vida despegado do rabo da enxada, fui obrigado estudar e a ensinar HISTÓRIA: as conquistas, as descobertas, o nome dos protagonistas, os lugares por onde andaram, as grandezas e as pequenezas humanas que sempre existem quando um povo domina outro, seja pela diplomacia, seja à força de bombarda. Mas faltava no meu registo a heroicidade destes homens, a sua determinação em se fazerem ao mar, metidos nos pequenos barcos desprovidos das tecnologias que lhes permitisse uma navegação certa e segura. Não buscavam novos territórios, novas gentes, escravos, marfim, ouro puro, especiarias e o quinhão que lhes cabia na empresa Índia-vai, Índia-vem. Também não eram os homens e as mulheres, aquela escória social, que os governantes e as leis de outrora, remetiam para aquelas terras longínquas condenados ao degredo perpétuo ou por anos. Eram somente PORTUGUESES que, livres e honrados, retornavam à velha Pátria. Eram 160 homens, 7 mulheres e 2 crianças, esses «heróis do mar» do século XX, que de longes terras partiram e cá chegaram, magros, barbudas e extenuados...mas chegaram!