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sábado, 19 março 2016 20:58

TEMPOS COLONIAIS - LINHA DA FRENTE

Escrito por 

MASSANGANO-MOÇAMBIQUE

Sobre este tema sigo a CRONOLOGIA de que disponho graças ao laborioso trabalho de M. Simões Alberto e Francisco A. Toscano, deixada no livro «O Oriente Africano Português", editado em 1942, em Beja, nas oficinas da Minerva Comercial de Carlos Marques & cª Ldª. É uma CRONOLOGIA dos acontecimentos históricos que tiveram lugar em Moçambique, com o rigor de quem manuseou os documentos citados.

 
 
1867
- 1 de julho. Era governador de Tete o capitão Miguel Augusto de Gouveia, que nesta data entrega o governo ao capitão José Antunes da Cunha, saindo de Tete com a primeira expedição a Massangano, composta de tropas de Tete e escravos armados.

SeloEm 8 de julho deu-se a primeira derrota infligida por António Vicente da Cruz, o "Bonga", sargento-mor de Massangano, às tropas portuguesas saídas de Tete sob o comando do capitão Miguel Augusto de Gouveia, sendo presos e mortos todos os oficiais. (em ofício n. 19, de 10 de julho deste ano, informa o capitão Antunes da Cunha, dirigindo-se ao governador de Quelimane, que neste rscontro tinham ficado prisioneiros ou mortos: o capitão Gouveia, tenente Pratt, alferes Mendes, Barradas, Sousa, Queiroz e o farmacêutico Araújo e dos 67 europeus faltavam 26. Perderam-se todas as armas, artilharia, embarcações, munições e mantimentos. O capitão Antunes da Cunha toma posse nesta data do governo de Tete e a 1 de meio de 1868 é substituído por uma junta governativa de que ele era o presidente, composta por cinco membros e que governou 19 dias, entregando o governo a 20 de maio ao capitão António Maria Travassos Valdez, que fi ou encarregado do governo).

1874 - 27 de fevereiro. Próximos de Massangano são nesta data atacados por gente do "Bonga" o tenente quartel-mestre Mont'Alvares e o alferes Silva, que se salvam, mas ficaram sem bagagens.

1879 - 8 de setembro. Morre em Massangano o célebre sargento-mor António Vicente da Cruz, o " Bonga", aue por assim dizer viveu smepre independente da autoridade portuguesa e muitíssimo nos hostilizou, tendo, a pedido de um seu irmão,  ido ali um padre para assistir ao funeral e uma escolta de soldados para lhe prestarem honras fúnebres.

Sucedeu-lh seu irmão Luis Ramos da Cruz, o "Muchenga" que foi pouco depois deposto por o "Inhamissinga", que o "Bonga" tinha desterrado para o Bárue. 

Este Vitorino morreu em setembro de 1885, sucedendo-lhe um outro irmão de nome António, o "Chatara". Desde 1879 a 1885 houve umapaz relativa na Zambézia.

1888 - 23 de maio. Nesta data foi  Massangano ocupado pelo pelo "Motontoura", que em setembro do ano anterior havia entregado o seu irmão Chatara às autoridades portuguesas manietado.

Em 21 de junho, o governador de Tete, Oliveira Gomes, tendo partido para o Luenha com 1500 cipais no intento de tomar a aringa do "Motontoura", em Mazumba, é nesta data derrotado por ele.

Em 5 de setembro o governador geral Augusto Castilho ordena, nesta data, o cerco à aringa do "Pindirire" principal chefe de guerra do rebelde de Massangano. A aringa foi incendiada.

Em 29 de novembro.  Às seis horas damanhã, o governador geral de Moçambique, Augusto de Castilho, manda arvorar a bandeira nacional na aringa de Massangano. O inimigo teve mais de seis mil mortos.

A aringa de Massangano foi ocupada definitivamente, sendo mais tarde construído o forte "D. Amélia", na serra que domina as ruínas.

De Tete foram depois mandados para o museu de Moçambique os seguintes troféus tomados pelas nossas forças: biribire, ou batuque de guerra, que foi do régulo Gaude e cuja aringa era na foz do rio Muira; bastão do mambo Kater-Sá; bastão do  pandoro Inhaude; duas bandeiras portuguesas encontradas na aringa; batuque de guerra do "Motontoura" e duas espingardas.

1890 - 23 de junho. Portaria provincial desta data em que se estabelecem dois prémios pecuniários, um de duzentos e outro de cem mil reis, aos funcionários da colónia que melhor falassem e escrevessem qualquer dos dialetos da língua "Bantu"

LINHA DA FRENTE

Vi hoje mesmo, dia 19 de março de 2016, o programa LINHA DA FRENTE da RTP1, logo a seguir ao TELEJORNAL das 20 horas. Mostrou a fuga, quer de Moçambique, quer de Angola, de alguns PORTUGUESES que nesses territórios ganhavam honestamente a vida ligados ao mar e à pesca. 
Por força da DESCOLONIZAÇÃO, receosos do futuro, sem crença nos novos governantes, meteram-se nas suas traineiras e rumaram a Portugal no sentido inverso do seguido por Bartolomeu Dias, Vasco da Gama e tantos outros navegadores que enchem de glória as páginas da HISTÓRIA PÁTRIA.


Comovi-me!


Eu, que também por lá andei, e à Pátria retornei pelos mesmos motivos (mas de avião) não pude deixar de ver naqueles homens e mulheres os PORTUGUESES de quinhentos, só que, agora, em vez de registos escritos deixados por João de Barros, Diogo de Couto e todos os outros cronistas dos DESCOBRIMENTOS, vi-os ali, em carne e osso, a falar, em registos filmados, idade e voz fixadas em fotogramas, as aventuras e os riscos que correram. À minha comoção juntou a daquele comandante de marinha que, quis o destino, se cruzassem ocasionalmente, no trajeto e que lhes serviu de apoio de retorno a Portugal. Da frota salvaram-se a Marlene, o Amazon e Mar Azul.
É o jornalismo a "fazer história". E eu, que tenho andado a reler e a publicar alguns textos sobre a história da COLONIZAÇÃO, a conquista de Ceuta em 1415, a expansão África abaixo, Cabo das Tormentas, África acima, penetração nos sertões, encontro e recontro dos povos que chegam com os povos nativos, não pude deixar de associar-lhe estes episódios da DESCOLONIZAÇÃO e ver naqueles homens e naqueles barcos a frota do FIM DO IMPÉRIO.
Por força da profissão que escolhi como forma de ganhar a vida despegado do rabo da enxada, fui obrigado estudar e a ensinar HISTÓRIA: as conquistas, as descobertas, o nome dos protagonistas, os lugares por onde andaram, as grandezas e as pequenezas humanas que sempre existem quando um povo domina outro, seja pela diplomacia, seja à força de bombarda. Mas faltava no meu registo a heroicidade destes homens, a sua determinação em se fazerem ao mar, metidos nos pequenos barcos desprovidos das tecnologias que lhes permitisse uma navegação certa e segura. Não buscavam novos territórios, novas gentes, escravos, marfim, ouro puro, especiarias e o quinhão que lhes cabia na empresa Índia-vai, Índia-vem. Também não eram os homens e as mulheres, aquela escória social, que os governantes e as leis de outrora, remetiam para aquelas terras longínquas condenados ao degredo perpétuo ou por anos. Eram somente PORTUGUESES que, livres e honrados, retornavam à velha Pátria. Eram 160 homens, 7 mulheres e 2 crianças, esses «heróis do mar» do século XX, que de longes terras partiram e cá chegaram, magros, barbudas e extenuados...mas chegaram!

1-2-3-REDZ. - Cópia

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.