RIO PAIVA – PENEDO DA ARGOLA
Neste ano de 2024, acompanhado do meu amigo António Gonçalves, percorri, com muita dificuldade, o troço do RIO PAIVA, sito a montante da PONTE PEDRINHA, ali, onde desagua o PAIVÓ, que habitantes mais idosos da vila de C. Daire, designam por “rio das mulheres”, o “rio dos homens” e o “penedo da argola”.
DE VENTO EM POPA
O Facebook tem destas coisas. Já muito escrevi sobre este espaço democrático onde tomam assento «pensamentos» dignos de «pensar» e «futilidades» que fazem felizes as pessoas que por elas se ficam. Cada qual no seu mundo. E neste mundo veio a fazer parte do meu rol de amigos «digitais» uma senhora de seu nome ODETE CORREIA, que, volta e meia, pranta na página «LITERATURA E POESIA» administrada pelo PROFESSOR Amadeu Carvalho Homem, poemas seus e pinturas suas no estilo IMPRESSIONISTA que muito me têm impressionado. Recentemente remeteu-me pelo correio normal um livro de poesia com o título «As Minhas Raízes».
Escrever “çedilha” com a dita
É um erro flagrante
Escrever “força” sem cedilha
Não é coisa semelhante
Nem é coisa bonita,
É enforcar num instante
O burro, a albarda e a “çilha”.
DESILUSÃO
Seria ela? Vi-a, pareceu-me ser, mas não perguntei. Duvidei. Passaram muitos anos sem a ver. Aquela senhora, à minha frente, “tente não caias”, com calças, (sempre e vi de saias) com visível dificuldade na mobilidade, desempenada e robusta que foi outrora, tinha agora andar de ganso, ancas a pedirem descanso, sinais evidentes fadiga, de estarem velhas. Uma velha. Vista de frente, de trás ou de lado, as pernas lembram-me aduelas arcadas e desconjuntadas de pipa rejeitada, aros lassos a esguicharem em todas as direções o vigor e a vida que tiveram a cada passo dado, em tempos idos.
VERBO E VERSO
Sou avesso ao complicómetro
Simplificar tem sido o meu lema
Agito as águas como quem rema
Impelido pelo simplificómetro,
Isso, tirante o meu nascimento
Que já foi há muito, muito tempo
E dito fica, para não haver enganos,
Que foi há oitenta e três anos.
UM GESTO, UM OLHAR
Sentado
Pensativo
Dorido
Do dente tratado,
Qual Guernica, qual nada!
Essa Guarnica, uma cidade inteira
Uma cidade antiga
Totalmente destruída
Na Segunda Guerra Mundial,
Essa guerra passada
Nem a última, nem a primeira.
Mar negro, negro mar
Sempre teu nome assim ouvi.
As tuas cores nunca as vi
Nem nunca me interpelei a mim
O porquê de te chamar
Tanta e tanta gente assim.
FORMAÇÃO E QUEDA DE IMPÉRIOS
Neste anos de 2022 a Rússia, comandada por Putin resolveu pôr em prática a sua política de expansão imperial e daí rsultou a GUERRA com a UCRÂNIA. E como nestas coisas de formação e queda de impérios não há inocentes, sendo certo que quem mais sofre não são os seus mentores, mas as vítimas deles, eu, ao ver tanta destruição de habitações e os seus habitantes em fuga, adultos, crianças, cães e gatos, achei oportuno trazer a este meu site ativo um poema que escrevi e publiquei há muito nos jornais e no meu meu velho site desativado. Escrevi-o em Lourenço Marques, em 04 de novembro de 1974.
Há pegadas de vida que jamais esquecem e quando as vemos repetidas, perguntámo-nos, como é que a barbárie pode vencer a civilização?
Tanto comentador
Todos eles muitos prudentes
Sim, senhor,
Imitando os presidentes.
LITERATURA ORAL
Ontem deixei as LETRAS e dediquei-me às ARTES. E no meu mural do Facebook deixei a justificação que abre o texto do qual aqui apresento parte, assim:
Eu, modesto lenhador na floresta das letras que, de podão em punho, persiste em abrir clareiras de conhecimento e de humanidade (usando essa tosca ferramenta de antanho, bem adequada ao corte das silvas) à falta de inspiração para a escrita, desci aos fundos da moradia que habito e, botando mão ao RESTAURO da cabeceira da CAMA DE FERRO onde, em menino e jovem, dormi SONHOS E PESADELOS, cheguei ao fim do dia com o produto que mostro na fotografia ao lado.
TESTAMENTO
Neste tempo
Em que o lúcido pensamento
Está ausente
Na cabeça de tanta gente,
Quero deixar escrito
Bem claro e dito
Enquanto tenho alento
E tino
(Espécie de testamento)
Com vigor
Sereno e vero
Que, se lutador
Fui na vida inteira
Lutador morrer quero
Ao deixar a Terra.
AS ENXADAS
No tempo em que exerci funções docentes na vila de Castro Verde dei-me ao cuidado de fazer uma recolha exaustiva das ditas «décimas populares» não incorporadas nas antologias de LITERATURA institucional que me foi veiculada nos liceus e universidades. Fiz entrega dessa COMPILAÇÃO na secretaria da Câmara Municipal daquele concelho.
Já aludi a esta minha tarefa em escritos anteriores e sublinhei quanto eu aprendi ouvindo ou lendo essas «décimas» (ditas de 40 pontos) por serem composições que tinham à cabeça uma QUADRA a servir de MOTE. Este era depois glosado em QUATRO décimas, terminando cada uma delas, sequenciadamente, com um verso do MOTE. Assim:
ARREDORES DE VILA POUCA
Nos arredores de Vila Pouca
Encontrei um velho souto.
O povo, que não é louco
E na tradição sabe o que diz,
Para gente que não é mouca
Afirma dever-se a D. Dinis.
OLIMPÍADAS
Mitos, lendas, heróis
Louros, tudo coisa antiga
Vinda de outros sóis,
Outras terras e gentes.
A GRALHA (2)
Em 18 de Janeiro deste ano (2013) prantei neste meu "estado" o texto com título "A GRALHA". Não resisto a repescá-lo novamente para aqui, por me parecer que "gralha" já não é escrever ERROBOGÁBEL em vez de IRREVOGÁVEL. Isto porque se as palavras viraram "parolas" sem sentido, construindo-se com elas argumentos e textos sem nexo, também podem perder a ortografia, com ou sem acordo ortográfico.
APAGÃO
Sempre que nuvens negras de saudade
Pairam sobre a minha alma solitária e fria
Ela do triste estado se alivia
Transformando em versos a tempestade.
MANIFESTO ANTI «DANTES»
O «Dantes» julga-se rei
Tem a dinastia na alma
Tem a corte na família, compadres e amigos
Não admite sucessores em vida
Ocupa as funções por herança.
MUNDO FEITO DE MUDANÇA
Quando estava no activo
Na minha profissão docente
Usava vocabulário decente
Pois da missão era cativo.
Um instantâneo
Oportuno
Será Poeisedon
Será Neptuno?
Ele das ondas sai
E pés na areia
Num momentâneo
Olhar, eia!
Parece-me conhecê-lo.
E a sê-lo,
Eu vos digo,
É um amigo
Visto por outro amigo
Os dois primeiros
Que comigo
Fazem os “três mosqueteiros.”
Abílio/2020
Pintor
Sem dono
Nem senhor,
O outono
Puxou
Da paleta
Pincéis e tinta
E assim
Pintou
O jardim
Que vejo
E mostro aqui.
GLÓRIA À CIÊNCIA
Década de setenta.
Século vinte.
Toma o romeiro o seu cajado
E segue rumo ao santo
Afastado
Da sua devoção
O santo da sua crença.
DA SUA NATUREZA
Olho aberto
Muito aberto
Tem o esperto
Tem a esperta.
É assim,
Gosta
Porque gosta
É da sua natureza.
Se algum dia
Alguém lhe disser
Homem ou mulher
Que sangria
É vinho
E você acreditar...
Bem o souberam enganar
E por esse andar
Você mostra falta de tino.
JARDIM MUNICIPAL
(21-07-2020)
Aqui sentado no banco do jardim, em Castro Daire, com o rio Paiva ao fundo a deslizar sob a Ponte Pedrinha, depois de São Domingos, pousa junto de mim esta boinha, boieira, lavandisca, galinha de Nossa senhora...tanto nome...e, nesta sua lida, faz-me ver, aos pingos, a fita do tempo e do espaço. E nela vejo o que escrevi em 2013 sobre esse Rio e tudo em redor dele. Um pedaço de vida e de vidas.
RUGIDO DO LEÃO
Ó leoa, leoazinha
Que, acordada
Na tua caminha,
Pela selva te passeaste
E, pisando mata e chão
Em corrido andamento,
Por onde tens tu andado?
20 de abril de 2014 ·
PÁSCOA FELIZ
Páscoa feliz
É como quem diz,
Conheço-a de vender pinhas
Pela vizinhança
Apanhadas no pinhal
Alheio, pois de herança
Não tem nada de seu.
Foi criada uma PLATAFORMA ONLINE onde os cientistas podem trocar ideias e projectos conducentes ao combate do CORONAVÍRUS.
Históricos Impérios?
Eles são tantos
Na cronologia,
Na fita do tempo.
Longa é a lista
Não são de agora
Os prantos
E os mistérios
Da pandemia
De domínio e de conquista,
Tal como outrora.
Invisível
Inteligente
A gente
É o seu império.
A seu critério
Mata
Sem clemência
E escapa
Ao domínio da Ciência.
O MEDO
Neste tempo de clausura
Tudo bota faladura
A falar do que não sabe.
Fala o Papa, fala o cura
O sacristão e o abade
O civil e a autoridade.
Quando estava no activo
Na minha profissão docente
Usava vocabulário decente
Pois da missão era cativo.
MITOLOGIA HODIERNA
Minotauro se dizia
Daquele monstro que havia
Na antiga ilha de Creta.
NATAL
Cumpre o mundo seu fadário
No fio do tempo rolando
Presépios vão recordando
O que morreu no Calvário
A FORÇA DA MEMÓRIA
Estranho é o ser humano
Nestas suas andanças pela terra
Basta estudar o passado
De tanto século, dia ou ano.
ONDAS DO MAR
Em 2014 publiquei no meu mural do Facebook a versalhada que se segue. Dei-me conta, hoje mesmo, que não estava alojado neste meu espaço. Passa a estar.
CHAIMITE
Viva o Chaimite,...Pim!
A viatura
Que pôs fim
À ditadura.
BERETTA
De pé, na vertical ou deitada,
Inclinada,
Na horizontal que seja
NATUREZAS MORTAS
Saídas da paleta e pincéis
De artistas de nomeada
Emolduradas
Pintadas
Segundo os gostos seus
Enchem as galerias e museus
Do mundo.
POESIA POPULAR
Retomo as "décimas populares" às quais me referi há dias, desta vez para mostrar que, muito à maneira medieval das "cantigas de amigo", o poeta assumiu o papel feminino e falou como se mulher fosse. Nesta "décima" refere-se aos "três vinténs" que uma moça, contra a vontade da sua mãe, deu ao "guedelhudo" que lhe apareceu e de quem se agradou. Já em crónicas anteriores referi que os "TRÊS VINTÉNS" eram um tesouro que toda a menina e família que se prezasse "devia levar ao altar". Outros tempos....outros tempos...outros tempos. Olhem! reparei agora que repeti a expressão TRÊS VEZES!
SEMENTES DE AMOR
Nesta margem do rio
Agarrado
À rabiça do arado
Lavro a terra
Cansada de pousio
Cheia de vida
Ansiosa por ser arada
E produtiva.
OLHAR DE VER, CONHECER E SENTIR
PARTE - I
Rodeado de flores, olhos ébrios de cores, narinas afogadas em odores amarelos, lilases, brancos, castanhos, cinzas e pútegas por perto a espreitar na terra, ocultas sob esta casaca de toureiro e dalmática cristã, eis-me, nesta ode pagã, remoçado pegureiro, lembrado do prazer de correr e explorar os montes, vales, rios, fontes e serras...a doçura delas, mamas cheias prontas a chupar, corpos dispostos à entrega e a regalar quem regalos não tem. E nesta minha idade de 79 anos, rio-me disso tudo. Carrancudo? Nem pensar.
Aos olhos do poeta o seios são sempre belos.
GERINGONÇA
Com significado pejorativo
Uns certos amigos da onça
Batizaram de geringonça
O actual processo governativo.
Há o feio e há o belo.
Há a alegria e a tristeza
Há o sonho bonito-surpresa
E também o pesadelo.
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