Trilhos Serranos

Está em... Início Poesia RETRATO EM PEDRA
sexta, 29 maio 2020 12:31

RETRATO EM PEDRA

Escrito por 

GRATIDÃO

O escultor Coelho Pinto

Que das pedras faz gente

(Meu amigo

De há muitos anos)

Nos seus ledos enganos

De artista

Trabalhou diligente

Uma escultura

(Está à vista)

Que, simbolicamente,

Diz ser o meu retrato

Chapado.

 C-ESCULTURA-CAo ponteiro e maceta agarrado

Num plinto

De topo quadrado

Encimado

Por uma bola de granito

(Símbolo da cabeça humana)

Sobre ela

Com primoroso gabarito

E escultural carinho

Lavrou um livro de pedra

Com outra pedra no cimo

Nas pontas enrolada

A imitar um antigo

Pergaminho.

 

E, isso feito,

A seu jeito

Deu por acabada

A obra começada.

 

B-Escultura-B-Redz. - CópiaNo seu entender

Pela forma que lhe deu

Fez-me saber

Sem alarido

Que esculpido

Ali estava eu.

 

Sabendo-me, porém, avesso

A estátuas de praça

Eterno poleiro

Da feliz cagada

Do abundante passaredo

Foi comigo travesso

E, lampeiro,

Sem medo

Aproveitou o recato

Do meu pátio primeiro

E ali, na escada,

Em menos de nada,

Pôs esse meu retrato

Em pedra lavrado.

 

BUSTO. - CópiaEu pensei no tempo,

No trabalho e pensamento

Que nessa obra ele gastou.

E sabendo

“Que a cavalo dado

Não se olha o dente”

Seria indecente

Da minha parte

Não mostrar escrevendo

A gratidão

Pela obra de arte

Que em pedra

Este cidadão

Lavrou

E, sem disfarce,

Dediquei-lhe este poema.

 

Amoreira-a - CópiaE se, com lhaneza,

Na sua bondade

De artista ele cobria

De humanidade,

Alma e cultura

Aquela escultura

De pedra inerte e fria,

Impunha-me a poesia

(Onde tudo cabe

E nada se perde)

Que ao pé dela

amoreirabEu plantasse, verde

E bela

Uma amoreira

Cuja natureza,

Trepadeira,

Agora

Entrelaça

Do topo ao plinto

Com flores e amoras

Longe de qualquer praça

A escultura do amigo

Manuel Coelho Pinto.

 

amoreirac - CópiaE assim

Feliz de mim,

O doméstico passaredo

Que de nada tem medo

E, sem demoras,

A correr ou devagarinho

Onde quer que pousa caga

Agora

Enquanto debica as amoras

Não me pinta o focinho

Nem borra

O pergaminho

Onde se lê esta saga.

 

Abílio/maio/2020

Ler 1534 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.