HISTORIADOR
Mais do que relator
Do passado
O historiador
É o pensador
Do não dito, nem pensado.
Olha para trás
Olha para a frente
Olha para o lado
E se com amor
O múnus exerce
A vida aparece
Em tudo o que vê
Lê
E escreve.
E é mesmo capaz
De pôr gente
No espaço
Fechado
Que vivo
E movimentado
Foi
Anos sem conta.
Eu vo-lo digo.
E se lhe dói
Ver o balcão desarrumado
E vazios os caixotões
De cereais
E sem nada as prateleiras
Ele vê algo mais
De peso e de monta
Nestes rincões
De relações
Sociais
Nas Beiras:
Vê o livro de fiados
Debaixo acima riscado
Sinal de conta paga
Um risco, um traço
Uma escritura
Limpa, sem assinatura
Da gente
De palavra
De antigamente.
E o passadoiro,
Na mão do merceeiro
De coxotim em caixotim,
Não passava a mercadoria
Que em cada um havia
Para o seu fim
Segundo sei
Do último ao primeiro.
Passava o oiro
De lei
A confiança que merecia
Cada cliente
Que a si recorria
Gente pobre, mas honrada.
Abílio/setembro/2020