Conhecia, em redor da minha aldeia,
Penedos, encostas, rios e fontes
Tudo muito perto, para a minha ideia
Ávida de voar para outros horizontes.
Mudar de sítio, assim, continuamente
Era, julgo eu, uma clara obssessão
Uma marca da minha irrequita mente
Sempre a levitar, a descolar-me do chão.
Se eu estava nos montes sozinho
Ansiava por ausentes companhias
Fosse em vereda, carreiro ou caminho
Era assim o meu sentir de todos os dias.
Uma forma de “estar e ser” angustiante
Isto de viver dessa maneira em criança
Punha-me numa situação interpelante
E aprendi que “pensar muito” também cansa.
Vieram os livros, as leituras, o estudo
Da psicologia e outras ciências afins
Li muito, autores vários, quase tudo
Sem resposta que, satisfatoriamente,
Esclarecesse aquela irrequieta mente
Desse meu juvenil “estar e não estar”
Ali, naquele sítio e noutro sítio a pensar.