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domingo, 22 setembro 2024 13:00

ESTAR E NÃO ESTAR

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ESTAR E NÃO ESTAR

Fisicamente estava ali, naquele lugar

Mas não, não era assim mentalmente

Sempre, sempre, sempre a desejar

Estar no sítio donde estava ausente.

Conhecia, em redor da minha aldeia,

Penedos, encostas, rios e fontes

Tudo muito perto, para a minha ideia

Ávida de voar para outros horizontes.

 

Mudar de sítio, assim, continuamente

Era, julgo eu, uma clara obssessão

Uma marca da minha irrequita mente

Sempre a levitar, a descolar-me do chão.

 

Se eu estava nos montes sozinho

Ansiava por ausentes companhias

Fosse em vereda, carreiro ou caminho

Era assim o meu sentir de todos os dias.

 

Uma forma de “estar e ser” angustiante

Isto de viver dessa maneira em criança

Punha-me numa situação interpelante

E aprendi que “pensar muito” também cansa.

 

Vieram os livros, as leituras, o estudo

Da psicologia e outras ciências afins

Li muito, autores vários, quase tudo

Sem resposta que, satisfatoriamente,

Esclarecesse aquela irrequieta mente

Desse meu juvenil “estar e não estar

Ali, naquele sítio e noutro sítio a pensar.

 

Assim em criança, assim a vida inteira

“Estar e não estar” e já não vejo maneira

De ser difente o meu “ego”. De tal sorte

Que nem psicologia e outras ciências afins,

Me convenceram de não ser assim até à morte

Esse meu levitar e desaparecer nos confins.

Abílio/setembro/2024

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.