Mas o Dantes é vassalo
Faz vénias, curva a espinha
Vende-se por dez-reis-de-mel-coado
Olha a todas as conveniências pessoais
Vira-se a troco de qualquer mercê
O «Dantes» é o que é
O «Dantes» não presta
Fora com o «Dantes»
Pim!
O «Dantes» é misseiro
Não é crente, é fanático
É familiar do Santo Ofício
Tem uma mentalidade retrógrada
Apega-se às imagens do passado
Desconhece a realidade política
A realidade social e cultural do século.
O «Dantes» movimenta-se em capelinhas
É calculista, é cacique
É a continuidade em pessoa
Com o «Dantes» não há mudança
Do «Dantes» não sai coisa boa
O «Dantes» é o que é
O Dantes não presta
Fora com o Dantes
Pim!
O «Dantes» é ignorante
Vive no tempo das bruxas e lobisomens
Acredita nas rezas, benzeduras e quejandos
Tem uma mente incendiária
Já não atiça as fogueiras da Inquisição
Porque não pode.
Se pudesse, era o primeiro a correr com o fogacho
Era o primeiro a levantar o dedo
Era o líder da populaça ignara
Ávida de festa e de carne torrificada
O «Dantes» não é futuro, é passado
O «Dantes» é o que é
O »Dantes» não presta
Fora com o Dantes
Pim!
O «Dantes» anda "ócêtrás"
Não é do mundo actual
É do submundo de sempre
Do submundo dos cambalachos
Das falcatruas, da corrupção
Mas as suas falinhas mansas
O seu aspecto sério
O seu porte angélico
Sá engana os tolos, os incautos
Os que pensam e agem como ele,
Ou melhor, os que não pensam
Ou os que estão habituados que pensem por si
O «Dantes» é o que é
O Dantes não presta
Fora com o «Dantes»
Pim!
O «Dantes» parou no tempo
Com «Dantes» o tempo parou
O tempo com o «Dantes»
É uma peça arqueológica
Calcinada, enferrujada, parada
É uma peça de museu
Serve para estudo
Mas não serve para mais nada
Para mais nada, que digo eu?
Serve, serve, animada
Por outras peças de museu
Que estão na mesma caminhada
O «Dantes» é o que é
O «Dantes» não presta
Fora com o Dantes
Pim!
O «Dantes» não serve a Democracia
Serve-se dela
E na sua mentalidade senil
Não há Primavera, não há ABRIL
Não se renova a Natureza.
No tempo das viagens planetárias
E das velocidades rodoviárias
O mundo anda a passo de mula.
O dinheiro tudo regula
O «Dantes» trata da sua vidinha
É passado sem futuro
Mas é também presente
Presente nas artes da corrupção
Presente no vício, em vez de virtude
Presente na demagogia, em vez de pedagogia
Presente na máscara, em vez de rosto
O «Dantes» é a negação dos valores.
O «Dantes» é mudo
Perante a opinião pública.
O público não sabe que ideias tem
Que destino almeja para a Humanidade.
De muitas tretas
E poucas letras
Não conhece Almada Negreiros
É a negação de Almada Negreiros
Poeta de «Orfeu, futurista e tudo...»
O «Dantes» é o que é
O «Dantes» não presta
Fora com o Dantes
Pim!