Ainda há pouco, poucochinho
Quando na biblioteca eu lia
Nada em redondo bulia
E eu em silêncio seguia
O enredo do romancinho.
Quem bate, assim, fortemente
Com tão estranha natureza,
Que tão bem se ouve e sente?
É a chuva, não é gente,
E vento também com certeza.
Fui ver. A chuva forte caía
Em bica do plúmbeo céu
Abundante, puxada e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs todos os frutos no chão
Não passa gente e se passa
Ocorre-lhe ao pensamento
Algo estranho, uma desgraça
De ver caídos, fora de tempo
Diospiros e mostajos, no chão.
Fico olhando esses sinais
Das climáticas mudanças
E noto, sem notas mais
Aquelas belezas naturais
De tamanho adulto e de criança.
Sem folhas, ali caídos
A terra deixa inda vê-los
Redondinhos e coloridos
Espalhados a esmo no chão.
Mas nos tempos que lá vão
Alimento eram de passarinhos.
A chuva as árvores despia
Mas os frutos ficavam nela
De cor laranja ou amarela
O gado alado de longe via
O manjar da noite e da ceia.
Que eu, militante pecador,
Deixe de comê-los, enfim…
Mas os passarinhos, Senhor
Porque lhe dobrais o labor
Porque os matais assim?
Sem sair deste meu chão
Vejo o globo terreal
E nada do que vejo me encanta.
Cai chuva no meu quintal
Caiem bombas na terra santa
Bíblico campo do Armagedão.