quinta, 10 fevereiro 2022 18:12
Escrito por
Abílio Pereira de Carvalho
MARCA DOS TEMPOS
TESTAMENTO
Neste tempo
Em que o lúcido pensamento
Está ausente
Na cabeça de tanta gente,
Quero deixar escrito
Bem claro e dito
Enquanto tenho alento
E tino
(Espécie de testamento)
Com vigor
Sereno e vero
Que, se lutador
Fui na vida inteira
Lutador morrer quero
Ao deixar a Terra.
Neste tempo de pandemia,
De médicos, enfermeiros, testes
E vacinas, não espero
Ver-me nos corredores
Dos hospitais
Deitado em macas
Rodeado de batas
Tubos no nariz
E tudo o mais
E que vemos e se diz
Rodeado de profissionais
Da saúde e da morte
Senhoras e senhores
Que vão e vêm
E se veem
Para onde quer se olhe.
Não.
Tenho para mim
A recusa de tal fim
Abjuro tal sorte
E que boa morte
É aquela que se escolhe
De vontade
E não
Aquela que lentamente
Nos dão
Na situação
De dependência
Dopados
Sem consciência
Privados
Da liberdade
E dignidade
Humanas.
Abílio/2021
Publicado em
Poesia

Abílio Pereira de Carvalho
Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.