MOTE
Minha mãe me deu pancadas
Por eu dar o que era meu
Minha mãe governava em tudo
Mas cá nisto governo eu
I
Quem tal havia de dizer
Sendo eu de menor idade
Chorava por caridade
Não tinha nada que ver.
Depois começou-me a crescer
Umas diferentes trapalhadas
Cabelinhas encarnadas
Mamas (alto lá com isso)
Já eu tinha o meu derriço
Minha mãe me deu pancadas
II
Era vermelha como a rosa
Era branca como o leite
Era um lindo ramalhete
Era bonita e formosa.
Lembro-me que era gulosa
Por um rapaz muito judeu
Tantas meiguices me meteu
Olha que eu caso contigo!
Minha mãe ralhou comigo
Por eu dar o que era meu
III
Darei quando puder
Não me ponho muito alta
Dou pois não me faz falta
E darei quando eu quiser.
A quem conta me fizer,
Não será pra todo o mundo
Esse que for mais guedelhudo
E quiser petiscar do fruto
Então darei sem escrúpulo
Minha mãe governa tudo
IV
Sempre vivi com satisfação
Visto não ter nenhuns bens
Eu troquei os três vinténs
Para comprar um balão
Nunca mais disse que não
Porque a vergonha se perdeu
Darei sempre a quem me deu
Não quero ser muito ruim
Minha mãe governa em tudo
Mas nisto governo eu.
1 - Nota em letra diferente: «Alem da pandega 13/9/73»
Em S. Julião da Barra
M.C .Mendes (Cabo)
2 - Nota: isto foi escrito em 1873, tenho cópia do manuscrito.
3 - posto no facebook em 27 de outubro de 2016, donde migrou hoje mesmo para aqui.