Trilhos Serranos

Está em... Início Poesia TRÊS VINTENS
sábado, 27 outubro 2018 09:12

TRÊS VINTENS

Escrito por 

POESIA POPULAR

Retomo as "décimas populares" às quais me referi há dias, desta vez para mostrar que, muito à maneira medieval das "cantigas de amigo", o poeta assumiu o papel feminino e falou como se mulher fosse. Nesta "décima" refere-se aos "três vinténs" que uma moça, contra a vontade da sua mãe, deu ao "guedelhudo" que lhe apareceu e de quem se agradou. Já em crónicas anteriores referi que os "TRÊS VINTÉNS" eram um tesouro que toda a menina e família que se prezasse "devia levar ao altar". Outros tempos....outros tempos...outros tempos. Olhem! reparei agora que repeti a expressão TRÊS VEZES!


MOTE

Minha mãe me deu pancadas
Por eu dar o que era meu
Minha mãe governava em tudo
Mas cá nisto governo eu

                                                                   I

Quem tal havia de dizertrês vintens - 2-Cópia - Cópia
Sendo eu de menor idade
Chorava por caridade
Não tinha nada que ver.
Depois começou-me a crescer
Umas diferentes trapalhadas
Cabelinhas encarnadas
Mamas (alto lá com isso)
Já eu tinha o meu derriço
Minha mãe me deu pancadas

II

Era vermelha como a rosa
Era branca como o leite
Era um lindo ramalhete
Era bonita e formosa.
Lembro-me que era gulosa
Por um rapaz muito judeu
Tantas meiguices me meteu
Olha que eu caso contigo!
Minha mãe ralhou comigo
Por eu dar o que era meu

III

Darei quando puder
Não me ponho muito alta
Dou pois não me faz falta
E darei quando eu quiser.
A quem conta me fizer,
Não será pra todo o mundo
Esse que for mais guedelhudo
E quiser petiscar do fruto
Então darei sem escrúpulo
Minha mãe governa tudo

IV

Sempre vivi com satisfação
Visto não ter nenhuns bens
Eu troquei os três vinténs 
Para comprar um balão 
Nunca mais disse que não
Porque a vergonha se perdeu
Darei sempre a quem me deu
Não quero ser muito ruim
Minha mãe governa em tudo
Mas nisto governo eu.


1 - Nota em letra diferente: «Alem da pandega 13/9/73»

Em S. Julião da Barra

M.C .Mendes (Cabo)


2 - Nota: isto foi escrito em 1873, tenho cópia do manuscrito.

3 - posto no facebook em 27 de outubro de 2016, donde migrou hoje mesmo para aqui.

 

 

Ler 1300 vezes
Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.