PRIMEIRA PARTE
No chão da minha varanda
Sem vitalidade ela pousou
Abriu as asas, mas não voou
Ali teve fim a sua demanda.
E nesta sua vida breve
O baile alado terminou
Mas leve, muito leve
A sua beleza nos deixou.
Morta, sem vida, fotografada
Pelo mundo inteiro voa ainda
Colorida, bela, coisa linda
Numa eterna viagem alada.
É um milagre da tecnologia
Dar vida à natureza morta
E a mim muito me importa
A vida e a morte em poesia.
SEGUNDA PARTE
Leve, muito leve
Não sei porque caminhos
Na sua vida breve
Ziguezagueando pelos ares
Escreveu odes, escreveu hinos
(Versos sem conta, aos milhares)
Somente lidos
Por aurelianos e poetas.
Mas, desfalecida,
Aparentemente morta
Sem vida
Quedou-se no chão
Da minha varanda
De asas abertas,
Ali mesmo, na pedra fria,
Isso que lhe importa?
Tudo nela me encanta.
Observei-a demoradamente
De baixo para cima
De trás para a frente
De lado para lado
E quedei-me na simetria
Da sua figura
Na simetria da pintura
Naturalmente distribuída
Por toda ela.
E com ela
Como se fosse gente,
Num só instante,
Ziguezagueante,
Cruzei todos os céus
Ao alcance
Dos olhos meus.
Uma beleza!
Aquele milagre da natureza
Merecia
Uma fotografia.
Fotografei-a.
E, eia!
Os meus olhos atentos
Caíram fascinados
Nos dois farolins
Acesos nas pontas das antenas.
Pormenores, pormaiores
Coisas grandes, coisas pequenas
Dois faróis
Dois sóis
Dirigidos aos confins
De outros mundos
Perdidos no universo.
Mundos mais pacíficos, mais humanos
A anos luz da Terra.
Muitos anos,
Lá longe, onde haja mais verso
Mais borboletas
Menos guerra
E espoletas.
Abílio/março/2025