ABRIL
Palestras, manifestações
Águas separadas dia a dia
Nas ruas, nas instituições
Questiona-se a democracia.
Ele é a corrupção
Ele é o compadrio
Ele é a partidocracia
Ele é o clientelismo
(Vestido sempre de "ismo")
Ele é a Justiça e a prescrição
De crimes grandes, a grandes
E por onde quer que andes
No o país, de fio a pavio,
Ele é a Saúde
Ele é a Educação
Ele é o gordo rio
Que corre sem açude
A estancar a podridão
Será que foi tudo em vão?
E tanto ano passado
Com encanto e desencanto
Eu, nem surdo, nem mudo
Depois de ver tudo
Muito bem explicado
Por gente entendida,
Muito ilustrada,
Encavalitado no meu verso
Simples, verso que vale nada
Nele berro em rouca voz
Quarenta anos após
E setenta e quatro de vida:
Falado, cantado, comemorado
Em cerimónia aveludada e solene
Mesa muito floreada
Tudo muito engravatado
Ou gritado em popular repertório,
Por multidão embandeirada,
Desse Abril histórico
Prenhe de mudança
A rebentar de esperança
Com tanta virtude e defeito
Só entendeu o significado
Perene
Quem o viveu de facto
E ufano da paixão
Vivida de verdade
Nunca tirou do peito
A Liberdade, a igualdade, a fraternidade
Plantadas no fundo do coração.
Abílio/Abril de 2014
NOTA: publicano no mural do Facebook no dia 24-04-2014