Trilhos Serranos

SABER ESCREVER E CONTAR

27-05-2012 23:16:26

O meu colega, Dr. Arménio da Fonseca Sobral, teve a amabilidade de me oferecer, recentemente, o seu livro «Contos Simples»,apondo nele a gentil dedicatória «para o Abílio, meu colega de muitos anos, com estima e amizade»o que muito me sensibilizou.

EU FALO A SÉRIO

Recentemente, nos meus “TRILHOS SERRANOS”, a propósito da linguagem e atitudes das nossas gentes, quando tratei do trabalho do “CANTÉS”, esse profissional que, de aldeia em aldeia, cosia “louça, guarda-sois e penicos, zic-zac” escrevi o seguinte texto:

ANDANDO POR AÌ...

Quando em 1995, na sequência da minha licença sabática, publiquei o produto escrito dela, isto é, o resultado da “investigação aplicada” levada a efeito sobre a “arqueologia industrial” relativa a muitos moinhos e azenhas de azeite que laboraram no concelho, arrolei muitos desses equipamentos com o cubo na perpendicular e somente TRÊS com o cubo na vertical.

O MUNDO DE ONTEM

Lavrado numa pedra retangular, dois furos paralelos abertos interiormente na vertical, integrado num dos lados de uma poça, assente ao alto, vários nomes encontrei para designar a mesma coisa. E que coisa é essa? Nada menos do que uma peça utilizada no nosso sistema de rega tradicional, cuja cantaria incorpora, em si própria, muita imaginação, inteligência e arte humanas.

ARTES TRADICIONAIS

O fascínio da investigação feita fora da Torre do Tombo, das bibliotecas e espaços afins, chancelarias e cartórios notariais, longe dos manuscritos, escrituras e testamentos, peças recheados de mofo e ordens dadas pelo testador ao testamenteiro sobre a futura administração de heranças e legados pios, bens materiais terrenos testados em troca do bem-estar celeste, sobre muitos dos quais já queimei as pestanas em estudos anteriores. O fascínio desta investigação, dizia eu, está nas “estórias de vida” com hálito de gente viva, contadas pela boca das pessoas idosas, autênticas bibliotecas ambulantes abarrotadas de calor humano, formas de dizer, jeitos e trejeitos, recheadas de saberes, artes e técnicas com patine secular, transmitidas de geração em geração, por imperativo da polivalência laboral imposta pelas leis da sobrevivência e da governança.