E isso não se deveu a um capricho meu de docente, nascido em mim espontaneamente como na natureza nascem os lírios do campo ou as ervas daninhas. Deveu-se sim, à pretensão de exercer o melhor possível a profissão que abracei e de transmitir aos meus alunos os saberes que a mim me foram transmitidos pelos mestres e pedagogos que tive enquanto aluno que fui num dos Estabelecimentos de Ensino muito credenciado em toda a cidade de Lourenço Marques. Aprender o ensinado e aplicar conhecimentos velhos a situações novas.
E vem isto à colação tão só porque, passeando-me, ocasionalmente (consoante as necessidades de pesquisa) pelas estantes da minha biblioteca, esbarrei com dois cadernos de APONTAMENTOS que me transportaram, num ai, a quilómetros de distância. Nada menos que a Moçambique, à cidade de Lourenço Matques (hoje Maputo), mais exatamente ao estabelecimemto de ensino conhecido por EXTERNATO MARQUES AGOSTINHO. Nele fui, primeiramente aluno e, depois, logo de seguida, professor. O então DIRECTOR, cujo nome deu ao estabelecimento, agradado com as minhas prestações de estudante, mal entrei na Universidade, logo me contratou como professor, fazendo-me, assim, colega dos antigos mestres. E quão veloz é o pensamento, senhoras e senhores! Lembrar-me deles todos e dos colegas de carteira foi um só momento. E nele incluída a “descolonização” que dispersou todos pelo mundo a perder de vista.
Observei a CAPA plastificada, folheei os cadernos pausadamente e apareciei a esquematização manusescrita que neles deixei dos SABERES administrados e aprendidos. Ali sim!. Ali estudava-se e aprendia-se. A prova material disso, aqui fica devidamente documentada.
Ora, como tenho gastado muito do meu tempo de vida a «escrevinhar» e a falar de livros escritos por pessoas que de mim esperam “umas palavrinhas” sobre as obras que produzem (é só navegar neste meu espaço etéreo) não resisti a fotocopiar a CAPA de um desses CADERNOS (nº 2) e algumas das suas páginas, onde se podem ler os APONTAMENTOS que me habilitaram a assumir a difícil tarefa de PROFESSOR e, cumulativamente, a de humilde lenhador na floresta das letras, aquele que, de podão em punho, se arrisca a pisar trilhos, carreiros, veredas e abrir nela - nessa floresta - algumas clareiras por forma a honrar e a dignificar os estabelecimentos de ensino e os professores que me honro de ter tido, sejam os liceais, sejam os universitários.
Na rosto da CAPA vemos o logotipo do ESTABELECIMENTO e constatamos que este CADERNO se destinava aos APONTAMENTOS DE PORTUGUÊS nas aulas do 7ºANO, turma “A”. A rematar o meu apelido manuscrito “Carvalho”.
Isso mesmo. Era por este apelido que eu respomdia à chamada, lá longe, naquelas terras banhadas pelo Índico. O nome próprio - Abílio - esse só seria retomado cá, nas terras transtaganas de Castro Verde, onde assentei arraiais com o estatuto de “retornado”. Lá e aqui, no meu concelho de origem onde regressei no ano lectivo de 1983/84.
Nas páginas do “miolo” (caderno com com linhas), eis-nos localizados no século XIX debruçados sobre o ROMANTISMO, sobre a significação do termo e as características que reveste esse movimento literário.
Esquematizado em números e alíneas, só não “aprende” quem não lê, ou quem considera que expor o seu pensamento num qualquer suporte de escrita, dispensa o conhecimento da HISTÓRIA DA LITERATURA PORTUGUESA e dos autores cuja obra os notabilizou nesse ramo de saber e arte. Ora veja-se e ajuíze-se.
APONTAMENTOS manuscritos com caneta de tinta permanente, eu me espanto com a minha caligrafia. Eu me espanto por ter deixado de usar essa ferramenta de escrita e, tal como estou a fazer agora, a clicar no teclado digital do meu Ipad, e a deixar aqui escritas estas ideias, sem fazer uso de caneta, papel ou tinta.
Ao que chegou a ciência, minha gente! E quanto devemos nós a essa forma arcaica de “manuscrever” pensamentos, ideias, técnicas. Nós, os que ainda temos a capacidade de olhar para o passado e reconhcer os caminhos que andámos até aqui chegarmos.
Curiosa coisa esta. Optei por deixar aqui os APONTAMENTOS sobre o ROMANTISMO e o REALISMO, dois movimentos literários ligados à VIDA e à ARTE.
a) O PRIMEIRO, até parece que deixa este meu registo eivado de saudade. Pois seja. Quem de nós, 80 anos feitos, não se deixa enlear romantica e subjectivamente pela saudade dos tempos idos, lembranças de amigos perdidos que nossos companheiros foram nas encruzilhadas da vida?
b) O SEGUNDO, , passado esse devaneio sentimental, remete-nos para a vida real e, com os pés assentes na terra, mostra-nos que a VIDA não se fica pela LITERATURA e, de uma maneira ou de outra, tem de se enfrentar com REALISMO, tal qual é, sob pena de sucumbirmos a depressões sucessivas, ou nos tornarmos em MORTOS-VIVOS presos a um PASSADO que PASSOU.
Assim como assim, estes CADERNOS DE APONTAMENTOS são DOCUMENTOS AUTÊNTICOS que falam de um tempo e de um ESTABELECIMENTO DE ENSINO que abriu horizontes a médicos, professores, advogados, juízes, funcionários públicos e sei lá quantos profissionais mais que, seguramente, no mundo do trabalho, se honram de ter ali estudado.
É a pensar em todos eles, conhecidoss e desconhecidos, que dedico estas minhas linhas e o “fa-sìmile” destes meus APONTAMENTOS, fazendo votos que eles sejam vistos com o ROMANTISMO e REALISMO que o “estado de alma” de cada um deles lhes permita reviver o TEMPO PASSADO ou viver o TEMPO PRESENTE, com a felicidade merecidas. Onde quer que se encontrem e quem quer que sejam.