ODE À POBREZA - MANEL DA CAPUCHA, PEDINTE ANDARILHO
Como professor que fui de HISTÓRIA e de PORTUGUÊS na Escola Preparatória de Castro Daire, sempre preocupado em ligar a História e a Literatura à vida, seleccionei, para leitura, propositadamente, o conto de Sophia de Mello Breyner Andresen que tem por título «O Búzio», aquele PEDINTE ANDARILHO que esmolava, correndo a praia, abaixo e arriba.
“A terra era sua mãe e sua mulher, sua casa e sua companhia, sua cama, seu alimento, seu destino e sua vida. Os seus pés descalços pareciam escutar o chão que pisavam (...)».
Após a leitura e interpretação do conto, perguntei aos meus alunos se conheciam alguém no concelho de Castro Daire que lhes fizesse lembrar “O BÚZIO”.
- Que sim, senhor! “Era o Manel da Capucha».
Estava atingido o primeiro objectivo da aula. Ligar a literatura à vida real e sabermos que os protagonistas dos contos literários podiam andar entre nós, fora dos livros, pessoas que nos rodeiam, que conhecemos, que falam connosco, que nos cumprimentam e que nos sorriem.
E eles, alunos e alunas troxeram à TURMA a figura do PEDINTE ANDARILHO, tal qual o conheciam: “é um velho; é um pobre; pede na vila e nas aldeias; é meio careca; não se penteia; tem barba feia; tem defeitos no pescoço; cheira mal; tem roupa suja; usa uma capucha velha; não toma banho; tem sapatos rotos; anda muito direito; tem um bornal; às vezes leva um pau; é simpático; pegou-me ao colo uma vez; sorri para toda a gente. Eu gosto dele. Eu não gosto dele, etc. etc.”
Pronto. Tinhamos matéria plástica para um CONTO semelhante ao CONTO que acabávamos de ler. Tinhamos assunto para discorremos sobre a ESTRUTURA DA NARRATIVA e dela extrairmos os RETRATO FÍSICO e o RETRATO MORAL dos PROTAGONISTAS, matéria programada e obrigatória, nas aulas de PORTUGUÊS.