Nas Inquirições de D. Afonso III, datadas de 1258, encontram-se várias referências ao Rio Paivó (Pavoo) e, numa delas, este rio aparece associado ao lugar da Relva, dito assim:
«Donus Pelagius, de Folgosa juratus e interregatus dixit quod Petrus Pellagii pater ejus testavit ecclesia de Castro unam hereditatem forariam Regis in termino de Felgosa, in loco qui dicitur Petra Nigra, tempore Domini Regis Sancii, fratibus istius Regis; et addit quod ille in vita sua dedit eidem ecclesia alliam hereditatem forariam Regis in termino de Pavoo, in loco qui dicitur Relva».
Se o leitor, sentado à frente do seu monitor, se der ao trabalho de botar os olhos no «Google Earth» e escrever CUJÓ no espaço destinado à investigação, verá aparecer e rodar o globo terreste e, depois de parar, deixar ante si a povoação que procura. E verá ao seu lado direito uma linha verde escura, de norte para sul, orlada de arvoredo, que mais não é senão um regato que, na terminologia e geografia local, é conhecido pelo nome de rio «CALVO».
1 - O CORTEJO -1950
A recuperação e restauro do prelo que imprimiu os jornais em Castro Daire, em tempos idos (tarefa de que fui incumbido orientar de modo que ele não perdesse a sua identidade) obrigou-me a vasculhar algum do produto calcado pela sua «platina» e levou-me até ao ano de 1950, mesmo ao meio do século XX. E para quem não se preocupa apenas com a espuma dos dias, dizer mal do que se por aí passa hoje, do Governo e coisas mais, alguns deles a dizerem que antigamente é que era bom, nada melhor do que, mostrar em fotografia, o artigo que ficou escrito nas colunas do jornal «A Voz do Paiva», nº 420 de 7 de Abril de 1951, decalcando o Relatório assinado pela Mesa da Santa Casa da Misericórdia, em 24 de Fevereiro de 1951, relativo a um cortejo que teve lugar no dia 12 de Novembro de 1950.
No meu livro «Cujó, uma terra de riba-Paiva», publicado em 1993, deixei um capítulo sobre o «topónimo» discordando da explicação inserta na «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira», cujo autor remete para o étimo latino «culiolum>cuios>cu(i)jo», termo ligado à plantação de nogueiras, coisa bastante inverosímil na zona, já que, em todo o tempo, o que ali abunda são carvalhos, castanheiros e amieiros, aos quais se juntou, depois, o pinheiro. Em alternativa, propus, julgo que mais acertadamente, o étimo «caseus>queijo>cuijo>cujo» (justificando a proposta), opinião que retomei e desenvolvi mais tarde com respaldo no saber do latinista, Professor Dr. Francisco Cristóvão Ricardo, que se deu ao trabalho de explicar a possível evolução fonética da palavra, na qual aparece de permeio «quijo» antes de «cujo». (cf. site «www.trilhos-serranos.com»)
Eles, e mais uns tantos, integravam uma turma que não raro, em Conselhos de Turma, eram apelidados de «rebeldes e insuportáveis» por parte de alguns colegas meus, mais acostumados a debitarem as matérias do que a explicá-las. Em tais circunstâncias sempre chamei a mim a sua defesa, fazendo ver aos colegas que não podíamos chamar «rebeldia» à «exigência e ao interesse» que eles manifestavam em querer saber mais, puxando pelo professor, obrigando-o a reformular as questões e, quantas vezes, a dar novo rumo à aula planificada.