Claro que o texto colectivo redigido sobre o MANEL DA CAPUCHA nas minhas aulas de Português, inspirado no conto «O Búzio» de Sophia de Mello Breyner, se submeteu aos tópicos que cada aluno escreveu, no quadro, sobre aquele pedinte caminheiro que, a pedibus calcantibus, conhecia todos os poviléus, aldeias, vilas e cidades implantadas nas encostas e pregas das serras do Montemuro, da Nave, da Lapa e, sei lá, se do Marão.
Penso que era um Tecktel. De cor preta, pelo curto e luzidio, orelhas de elefante caídas para o pescoço, face e lábios acastanhados, não era um baixote de pura raça, igual aqueles que por aí andam a varrer o chão com a barriga, tal como os que vejo no Google, aqueles que lhes falta em altura o que têm a mais de comprimento.
O seu dono, João Codovil, era meu amigo e economista de profissão, a desempenhar funções na Câmara Municipal de Castro Verde.
Às vezes caçávamos juntos e ele, face ao olhar pasmado dos outros caçadores quando viam o seu estranho «perdigueiro», logo fazia questão de mostrar o que ele era capaz de fazer, já que, só de vê-lo e à partida, qualquer caçador de perdizes nunca imaginaria tê-lo por companheiro a atravessar lavradios e descampados de espingarda aperrada pronta a disparar sobre a peça de pelo ou de pena que lhe saltasse à frente e ficasse ao alcance da sua mira.