NA CORDA BAMBA
Volvidos que somos à cerimónia a decorrer na sede do Montepio, em Lourenço Marques, no longínquo ano de 1975, vemos e ouvimos que o notário, sempre na mesma toada, circunspecto e solene, mostrava quanto valia como peça que era indispensável à máquina político-administrativa e judicial num Estado que tinha a sua segurança no pilar da burocracia e os seus agentes, com porta aberta nas Repartições de Finanças, Bairros Fiscais, Esquadras de Polícia, Tribunais, Cadeias, Julgados de Comarca etc. etc. Num Estado que usava todos os Códigos do Direito Civil, Penal, Administrativo, todos os artigos, parágrafos únicos e vírgulas que lhe davam corpo para defesa e salvaguarda dos seus interesses institucionais, mas, como se verá, omissos ficaram na escritura manuscrita em defesa dos interesses dos cidadãos que a esse Direito se submetiam, cidadãos que, de um dia para o outro, contrariamente à sua vontade, se poderiam ver, como viram, a balouçar na corda bamba das políticas e decisões desse mesmo Estado pela voz dos seus representantes maiores. Foi o caso da DESCOLONIZAÇÃO, processo a que não puderam escapar milhares de cidadãos que, sem serem ouvidos nem achados, foram impelidos a embarcar nela, a aceitá-la, sem apelo nem agravo. Continuemos, pois, a ouvir o notário: