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sábado, 21 janeiro 2017 14:00

TROPA - REGIMENTOS MILITARES. 5

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TROPA, 5

Retomo aos "REGIMENTOS" de D. Sebastião para acrescentar uma informação absolutamente indispensável à compreensão da forma de "recrutamento militar" neles previsto. Diz respeito às NOTIFICAÇÕES dos "vassalos" que, habitando no Reino, não importa em que cidade, vila ou aldeia, se recusavam  a incorporar a ORDENANÇA e fugir aos recrutadores.

 

Sebastião - REDZ Já aludi aos dois casos que, por tradição oral, se mantiveram em memória viva até à geração do meu pai, que nasceu em 1906, casos que incluí no meu livro «Cujó, uma terra de Riba-Paiva», editado em 1993. Mas, pela minúcia como foram redigidas, na Lei, a diligências relativas às NOTIFICAÇÕES, tudo indica que, por este Reino em fora, certos "vassalos" não se sentiam honrados e beneficiados em integrar tal força militar e, como coelhos conhecedores de todas as luras existentes nas redondezas, em penedias, barrancos e encostas, corriam a esconder-se nelas, mal pressentissem que o perigo rondava por perto.

E os recrutadores, ao serviço do Capitão-mor da área geográfica adstrita à sua responsabilidade,  não tinham vida fácil no desempenho das suas funções, sobretudo nos meios rurais, para não dizer que rural era quase Portugal inteiro. Basta colar aqui o que disse Aquilino Ribeiro de si próprio quando, em 1928,  fugiu do Fontelo, Viseu, e se foi refugiar em Soutosa, aldeia que ele compara a "uma madrigueira de raposa", cheia de ruas, vielas e becos onde seria muito difícil ser encontrado pelo Administrador do Concelho ou o Cabo de Ordens. E quem, como eu, conhece bem a geografia humana das serras do Montemuro e da Nave, cujos poviléus, no meu tempo de mocidade, eram cobertos de colmo, ruas de terra batida, habitações assobradadas com as pesoas  por cima e animais por baixo, com palheiros, eiras e canastros a cerzirem essas mantas de retalhos que cobriam as serras e abrigavam gentes e animais, melhor compreenderá quão difícil era chamar ao redil a ovelha tresmalhada. Oram vejam como eram apertadas malhas Lei: 

Notificação.Redz 

NOTIFICAÇÕES

«O dito escrivão  lhe irá fazer a dita notificação a tempo que provavelmente os possa achar em casa e não os achando a suas mulheres sendo casados, ou a seus criados, obreiros, ou familiares e não os tendo, ou não os achando, fará a dita notificação a um vizinho mais chegado e no dia e hora do termo limitado, estará o dito  Capitão em sua casa com o dito escrivão da Companhia e ouvirão o descargo que cada um der e sendo tal que lhe pareça que o deve escusar da pena, o fará. E não sendo tal o descargo para ser escuso, ou não vindo os tais soldados a casa do Capitão, sendo-lhes notificado e requerido pela maneira acima dita, os condenará nas penas do Regimento somente (...)»

Se ao historiador fosse permitido o anacronismo, bem podíamos dizer que só faltava aqui a notificação através de carta registada com aviso de receção.

Dito isto, aproveito para dizer que um amigo meu, pouco afeito à escrita e menos ainda a exprimir o que pensa em público alargado, me perguntou, nas conversas de café, se a minha intuição não teria ido longe demais ao dizer que a CAPA proibida durante os exercícios militares das ORDENANÇAS  era a CAPUCHA serrana, aquela que chegou aos nossos dias e que, na minha criação (meados do século XX)  era usada por homens e mulheres. Claro que eu não digo que tal capa seja exatamente a mesma, na forma e feitio, mas, começando por excluir as capas de estudantes, capa dos mosqueteiros, e a dos filmesde  capa e espada (cá está o anacronismo a acicatar-me o miolo),pois essas não deslustrariam a Ordenança, mas bem pelo contrário, que outra capa poderia ser?

A conversa ficou-me no ouvido e vai daí, apesar de já serem públicas as minhas conclusões e há muito ter dito no vídeo que alojei no Youtube sobre a "capucha, manto de pastora, de santa ou de bruxa"  (herança turdetana, celta ou lusitana), apressei-me a ir consultar Dr. Google, aquele que, nos nossos dias, "sabe tudo". Bati na porta «CAPAS MILITARES» e, depois de passar os olhos pelo átrio, avancei para a portada das IMAGENS. Olhei vagarosamente o mostruário e, eis senão quando, deparei com uma foto algo surpreendente. Classificada, vejam só, «CAPA MILITAR POPULAR» (1) Ai é, pois então para quem duvida da intuição e do produto da investigação, apressei-me a copiá-la e a  a casá-la com a foto que, em 2014,  tirei a uma senhora de Cujó, em Castro Daire, usando a respetiva CAPUCHA. Ei-las.

Capa Militar Popular.2016

(1) Reino Unido, Marca Ponche, 2016, Outono.

 LINK DO VÍDEO  https://youtu.be/wp6HXsvGOa0

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.