Trilhos Serranos

HONRARIAS EM PRATA E PEDRA

Todo o historiador, isto é, todo o estudioso que tenha dilatado os seus estudos de HISTÓRIA para além dos conteúdos que dão corpo aos compêndios liceais, ou mesmo os conteúdos administrados em certas Escolas Superiores de Educação, donde saíram muitos professores habilitados a ensinar História nas nossas escolas básicas, sabe bem a forma como, ao longo do tempo, certas honrarias sociais foram obtidas por forma a que os seus detentores se pavoneassem com ares de superioridade perante aqueles que tais honrarias não tinham, nem sonhavam ter.

GENTES DA SERRA

Um senhor transmontano, HERMENEGILDO BORGES, natural de Loivos, foi metido recentemente  no meu rol de amigos mercê das linhas que tecem as «redes sociais».  Ligado a intituições judiciais e com obra publicada sobre a matéria,  entusiasmado com a minha escrita envidou todos os esforços para adquiir o meu livro «JULGAMENTO» editado em 2000. E conseguiu essa façanha pela arte a manha de quem conhece as linhas usadas pelo alfaiate. Logo a seguir sugeriu para eu fazer uma NOVA EDIÇÃO, pois via ali conteúdo de interesse, não só literário, mas também de conhecimento histórico e social. Desiludi-o. Apesar de estar no pleno gozo dos meus direitos de autor, por incumprimento vergonhoso dos deveres contratuais da editora, cujo nome omito intencionalmente, disse-lhe que não  iria investir algo mais que fosse nessa matéria.  E por ali nos ficámos.

Acontece que, dando voltas aos meus arquivos digitalizados encontrei o texto que resolvi partilhar aqui, pois é matéria que deu corpo a esse meu «romance histórico»  publicado e esgotado. Foi e é assim:

 

HISTÓRIA

Já fiz extensa crónica sobre a MESA DE CENTRO (de marmorite) com elementos escultóricos decorativos chineses, quer na base, quer na coluna, quer no tampo. Interroguei-me sobre o número de figuras em relevo patentes no seu todo, nomeadamente, três dragões  (na base), três elefantes (no meio da coluna)  e três beldades femininas (na parte cimeira)  que sustentam o tampo. Ao todo, somam  NOVE, número tão usado na CULTURA OCIDENTAL, patente que está nas NOVENAS CRISTÃS e ritos afins. Falei nas nove BADALADAS DAS TRINDADES (3+3+3=9), falei nos NOVE responsos a que aludem alguns testamentos, falei nos “TRÊS VINTÉNS”, tesouro que a donzela devia levar ao altar no dia do casamento e aludi ao facto de, perdidos que fossem os TRÊS VINTÉNS, daí a NOVE MESES, se a natureza seguisse o seu curso normal, teríamos nova vida. Concluindo que o número NOVE está, seguramente ligado à vida, à fertilidade e, consequentemente, arrimo e amparo de crentes e supersticiosos.

A NATUREZA

Neste meu rudo

Esforço de leitura

Escrita e estudo,

Por estas bandas da serra

Do Montemuro,

“HISTÓRIA, EMPATIA E CULTURA

Acabava eu de tomar o pequeno almoço na “Pastelaria Charme”, em Castro Daire, no passado dia 2, cerca das 10 horas, e estava a escrevinhar uma crónica sobre o “PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL DE MOÇAMBIQUE”, Capitão General Francisco de Melo e Castro (em serviço nos anos 1752-1755), baseado num estudo assinado pelo meu ex-professor ALEXANDRE LOBATO, na Faculdade de Letras da Universidade de Lourenço Marques (há muito falecido), crónica onde registei o meu desalento de “ver, definitivamente, calados, sem voz nem palavra, tantas amigos que eu ouvia e me ouviam, que me liam e eu os lia,  que estimava e me estimavam”, quando junto de mim chegou o amigo, Fausto Teixeira, de Pendilhe, há muito conhecedor dos trilhos de investigação que piso e deixo pegada, perguntando-me, naquela sua atitude tímida e simples, se podia interromper-me a tarefa e eu lhe dispensava um minuto.