Trilhos Serranos

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terça, 19 março 2024 14:30

DOCENTE NA ESCOLA E FORA DELA

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ESCOLA PREPARATÓRIA DE BEJA

A pedido do Conselho Diretivo desta Escola, realizou-se nos dias 23, 24 e 25 de Março um curso sobre «TRABALHO DE PROJECTO» orientado por duas monito­ras, uma vinda de Delega­ção Regional de Faro e ou­tra de Lisboa. Para além de professores da Escola foram participan­tes professores das escolas de Serpa, Ferreira, Aljustrel e Escola Secundária n.° 1 de Beja.

 j.alentejoDefinidos que foram os objetivos do curso pelas monitoras que disseram ser mais de «sensibilização» do que de interiorização, acaba­da a metodologia do «Tra­balho de Projecto», inicia­ram-se as atividades com a divisão em grupos dos pro­fessores presentes, a cada um dos quais coube, em se­guida, sugerir «problemas» para estudo.

Escolhido que foi o vasto e complexo problema «DE­SINTERESSE PELA ESCOLA» e formulados que foram, lo­go depois, «problemas mais concretos», mas estreita­mente relacionados com aquele, não tardou muito que cada grupo agarrasse no pe­queno problema que sugeriu e escolhesse a melhor estraté­gia  para o estudar e, enfim, procurasse tirar proveito do trabalho e do tempo.

Houve inquéritos, entrevistas, gravações. Regista­ram-se opiniões de alunos, professores, encarregados de educação e de mais pes­soas ligadas à Escola. Hou­ve, enfim,  trabalho de campo.

Comunicado o andamento dos trabalhos às monitoras, recebidas sugestões e esclarecimentos, a presentado um relatório-síntese das ati­vidades. o curso viria a ter­minar com a apresentação dos resultados alcançados, que se processou de formas diferentes: a) exposição sim­ples, b) exposição acompanha­da de projeção, c) exposição acompanhada de cartazes e, finalmente, d) dramatizações.

Estas últimas, pelo impro­viso (?), nervosismo e ini­bição por parte de alguns in­tervenientes, abriram um hiato no ritmo sério dos professores-atores e dos professores-espetadores.

A rir, se puseram algumas interrogações muito sérias relacionadas com o desin­teresse pela escola. A rir, os professores se aperceberam como podem buscar uma maior bagagem para a pro­fissão, uma maturação pes­soal e como exercitar o es­pírito crítico.

Não se tenha, porém, a pre­tensão de que a «sensibi­lização» dada por este curso a um número restrito de pro­fessores, dispensados para o efeito das suas aulas, fa­ça um milagre na Escola,

Deslocar dos cérebros dos professores metodologias e relações de trabalho apren­didas e praticadas durante vidas e vidas, não é fácil. Como é que o professor aceita (é uma pergunta) o ensino centrado em problemas – os projetos, se ele lhe retira o seu papel tradicional de apresentar aos alunos os factos bem ordenados e o consciencializa de que não domina em pormenor o que acontece no ensino?

diplomaEste curso deverá ser seguido de outros. Muitos outros, nessa feliz iniciativa de formação de formadores. Só assim (não é a curto prazo) a Escola se tornará uma «estratégia de mudança», um «centro pedagógico próprio», «um centro de ação cultu­ral e social» como preconiza, a par da metodologia do «TRABALHO DE PROJEC­TO», o «PROJECTO GLOBAL DA FORMAÇÃO DE PRO­FESSORES EM EXERCÍCIO».

A visão da escola futura através da legislação e da documentação que a funda­menta, tudo põe em causa: são os métodos de ensino-aprendizagem, os conteú­dos, as relações de trabalho.

É preciso que «formadores e formandos, docentes e dis­centes se sintam, em mútua humildade, no processo edu­cativo, dado que, tanto uns como outros, se veem atingi­dos, ainda que de forma di­ferente, por um mundo em acelerada transformação só­cio cultural, científica e tec­nológica».

Pedagogia por conteúdos, pedagogia or objetivos, pedagogia por problemas, eis as grandes questões que se põem aos professores e responsáveis pela educa­ção e formação dos homens e mulheres de amanhã. Reflectir nelas é meio caminho andado.

Beja, 28/3/81.

Abílio Pereira de Carvalho

In «Jornal do Altentejo, nº 173 de 23- 04-1981


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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.