ESCOLA PREPARATÓRIA DE BEJA
A pedido do Conselho Diretivo desta Escola, realizou-se nos dias 23, 24 e 25 de Março um curso sobre «TRABALHO DE PROJECTO» orientado por duas monitoras, uma vinda de Delegação Regional de Faro e outra de Lisboa. Para além de professores da Escola foram participantes professores das escolas de Serpa, Ferreira, Aljustrel e Escola Secundária n.° 1 de Beja.
Definidos que foram os objetivos do curso pelas monitoras que disseram ser mais de «sensibilização» do que de interiorização, acabada a metodologia do «Trabalho de Projecto», iniciaram-se as atividades com a divisão em grupos dos professores presentes, a cada um dos quais coube, em seguida, sugerir «problemas» para estudo.
Escolhido que foi o vasto e complexo problema «DESINTERESSE PELA ESCOLA» e formulados que foram, logo depois, «problemas mais concretos», mas estreitamente relacionados com aquele, não tardou muito que cada grupo agarrasse no pequeno problema que sugeriu e escolhesse a melhor estratégia para o estudar e, enfim, procurasse tirar proveito do trabalho e do tempo.
Houve inquéritos, entrevistas, gravações. Registaram-se opiniões de alunos, professores, encarregados de educação e de mais pessoas ligadas à Escola. Houve, enfim, trabalho de campo.
Comunicado o andamento dos trabalhos às monitoras, recebidas sugestões e esclarecimentos, a presentado um relatório-síntese das atividades. o curso viria a terminar com a apresentação dos resultados alcançados, que se processou de formas diferentes: a) exposição simples, b) exposição acompanhada de projeção, c) exposição acompanhada de cartazes e, finalmente, d) dramatizações.
Estas últimas, pelo improviso (?), nervosismo e inibição por parte de alguns intervenientes, abriram um hiato no ritmo sério dos professores-atores e dos professores-espetadores.
A rir, se puseram algumas interrogações muito sérias relacionadas com o desinteresse pela escola. A rir, os professores se aperceberam como podem buscar uma maior bagagem para a profissão, uma maturação pessoal e como exercitar o espírito crítico.
Não se tenha, porém, a pretensão de que a «sensibilização» dada por este curso a um número restrito de professores, dispensados para o efeito das suas aulas, faça um milagre na Escola,
Deslocar dos cérebros dos professores metodologias e relações de trabalho aprendidas e praticadas durante vidas e vidas, não é fácil. Como é que o professor aceita (é uma pergunta) o ensino centrado em problemas – os projetos, se ele lhe retira o seu papel tradicional de apresentar aos alunos os factos bem ordenados e o consciencializa de que não domina em pormenor o que acontece no ensino?
Este curso deverá ser seguido de outros. Muitos outros, nessa feliz iniciativa de formação de formadores. Só assim (não é a curto prazo) a Escola se tornará uma «estratégia de mudança», um «centro pedagógico próprio», «um centro de ação cultural e social» como preconiza, a par da metodologia do «TRABALHO DE PROJECTO», o «PROJECTO GLOBAL DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM EXERCÍCIO».
A visão da escola futura através da legislação e da documentação que a fundamenta, tudo põe em causa: são os métodos de ensino-aprendizagem, os conteúdos, as relações de trabalho.
É preciso que «formadores e formandos, docentes e discentes se sintam, em mútua humildade, no processo educativo, dado que, tanto uns como outros, se veem atingidos, ainda que de forma diferente, por um mundo em acelerada transformação sócio cultural, científica e tecnológica».
Pedagogia por conteúdos, pedagogia or objetivos, pedagogia por problemas, eis as grandes questões que se põem aos professores e responsáveis pela educação e formação dos homens e mulheres de amanhã. Reflectir nelas é meio caminho andado.
Beja, 28/3/81.
Abílio Pereira de Carvalho
In «Jornal do Altentejo, nº 173 de 23- 04-1981