LETRAS VIVAS
Se algum dia, nos meses de maio e junho, de qualquer ano, atravessou a serra do Montemuro e arredores e lhe escapou da vista a sua vestimenta natural de cores várias próximas e distantes. Se fez isso e não sentiu os inebriantes odores lilás, amarelo, verde, branco e demais exalados por tudo o que é ornamento arbustivo que alinda montes e outeiros - deixou escapar, seguramente, a magia da montanha parida pelas giestas brancas e amarelas, sargaços cinzentos, urgueiras lilás e brancas, a queiró lilás, o tojo amarelo/verde, tudo isto, nascido a esmo, jardim natural, cosido ao chão, obra de imaginário tecelão que, seguramente, inspirou as rendas e os brocados exuberantes, prateados e dourados, das dalmáticas clericais e das jaquetas de toureiros nas suas relações lúdicas com animais e gentes.
Mas se lhe escapou tal beleza igualmente lhe escapou o valioso préstimo que todos estes arbustos têm na vida do camponês. Para além de alimento para os gados, eles servem para lenhas, estrumes e das raízes da urgueira gandarinha (“Erica Australis” na classificação de Lineu) se fazia carvão, a principal fonte de energia utilizada nas forjas de ferreiros (tantas e tantos) e lareiras de mosteiros e solares senhoriais.