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segunda, 20 outubro 2025 12:14

HINO AO VINHO - O DEUS BACO

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O VINHO NA TRAJETÓRIA HUMANA

Adquiri, hoje mesmo, um CÁLICE (copo) de estanho que, em torno do bojo, tem lavradas, em alto relevo, três cenas distintas ligadas ao vinho. No interior da base, também em relevo, podemos ler a palavra  “GRONNINGLAH”.

 

1-Baco2-BadoAdquiri esta bela peça em Lamelas no Estabelecimento do senhor Agostinho Silva que “compra e vende velharias e antiguidades”. Muito interessante é ela para quem procura saciar a SEDE DO CONHECIMENTO e não se satisfaz, na vida, somente em saciar a SEDE FÍSICA. Para quem fala com as coisas ou põe as coisas a falar, como aconteceu recentemente nos trabalhos que fiz sobre a FONTE DOS PEIXES, em Castro Daire, onde, curiosamente, o CAPITEL que remata a COLUNA TREVOLADA metida na água do tanque, também ele TREVOLADO,  tem a forma aproximada do CÁLICE que agora adquiri.

Sobre essa FONTE (que saciou a SEDE FÍSICA a muita fente) já disse o bastante, ainda que mantenha o anseio de voltar a esse CAPITEL onde estão lavrados a escopro e maceta, DOIS PARES DE PEIXES, boca com boca, formando ambas um OITO na horizontal. Nada está ali por acaso. O MESTEIRAL DA PEDRA sabia muito de LETRAS, sobretudo das SAGRADAS LETRAS.

Mas falemos deste CÁLICE de estanho. As cenas, que não estão numeradas, deixam-me a liberdade de pô-las em sequência, assim:

1 - Como que a sair de um templo com arcos de volta perfeita, eis o deus Baco, criança ainda, com a mão direita a segurar um cacho de uvas e na esquerda, braço ao alto, em curva, uma TAÇA inclinada a botar o vinho para a sua boauinha juvenil. Montado num barril, torneira aberta a espichar vinho, aí vai ele pelo mundo a levar ao ser humano o licor de que é SENHORIO.

2 - Rodando o CÁLICE no sentido dos ponteiros de um relógio, um novo espaço com fundo acortinado, mais de laboratório do que de consumo, vemos dois homens, numa postura intrigante. De vestuário burguês, uma mistura de proprietários, estudiosos ou camponês, um deles segura o meditativo cachimbo e o outro destampa, religiosamente, um jarro. O seu rosto espelha bem a alegria que lhe vai na alma. E parece-me ouvi-lo dizer: “mas que pomada!”. Talvez seja o enólogo de outros tempos. O aroma, o bafo, que lhe penetrava as narinas chegava para avaliar a qualidade do produto.

3-BacoCAPITEKL-2-3 - Na cena seguinte, não há dúvidas. O vinho chegou à taberna. Na parede ao fundo, um nicho mostra um grande jarro e, em torno da mesa, quatro homens, de vestimenta diversa, do religioso ao profano, preparam-se para saborear o paladar e o aroma da safra aberta.

E continuando a rodar o capo, voltamos à primeira cena. Baco, montado no seu barril, canta em redor da terra, o produto que abençoa.

Cenas postas num objeto utilitário feito em formato de CÁLICE, o artista, que também sabia muito de LETRAS,  colocou em estanho o lado pagão da vida terrena, deixando para os compêndios da história a busca do Santo Graal, esse CÁLICE LENDARIO associado  “ao sangue de Cristo, que foi recolhido por José de Arimateia, e popularizou-se através de histórias medievais como as do Ciclo Arturiano”. (Internet).

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.