Trilhos Serranos

De currículo público lacrado, recostado nesta minha cadeira da terceira idade, eu mantenho-me sempre atento às gentes que me rodeiam e comigo falam. Esporadicamente leio os "textos" anónimos que falam tanto da política e políticos locais, que nem todos os galos do campo a anunciarem as manhãs. 

Leio e reflito sobre os NOMES e a razão da sua existência. Não é preciso fazer grande pesquisa para sabermos que os "nomes" servem para identificar as COISAS e as PESSOAS

Do terraço ou da varanda da casa onde moro, em Lourenço Marques, pasmo, sofro e choro.Vejo o mundo apressado, cada um na sua, confuso a correr pela rua, pelas avenidas, de lado para lado, de banda para banda. Carros camionetas camiões carregados de mobílias roupas almofadas colchões mesas cadeiras famílias inteiras refugiadas dos subúrbios da cidade chegam de todas as partes temerosas da fúria exaltada da multidão negra excitada. Confrontam-se negros e brancos. Que pensamentos que angústias que sentimentos movem tanta gente conhecida que se desconhece? É racismo é ódio recalcado pelo tempo nunca ultrapassados por colonizadores e colonizados apesar de conviverem séculos nos bancos dos jardins nas ruas e esplanadas nas casas?

Num livro das vereações da Câmara de Castro Verde, relativo ao ano de 1680, encontra-se uma decisão dos edis que ao tempo ocupavam o poder e bem assim o resultado dessa decisão, feita no ROL DOS PARDAIS que ficou registado na contracapa de pergaminho do mesmo livro. Eu transcrevo com todo o sabor da época.

Cores? Elas são tantas. Tantas quantas os amores e humores da gente que no mundo vive, que o mundo sente.

Das giestas, o amarelo e o branco aveludados. Do carvalho, dos sargaços e de mais arbustos rasteiros, por todos os lados dispersos, o verde nos tons diversos, de aromas, de odores impregnados, à mercê de quem quer que seja, de quem os olha, cheira e vê, pois certo é que há quem olhe e não veja.

O tempo! Que coisa estranha é o tempo! Esse fio invisível e infindável que, de braço dado com o espaço, do infinito vêm e no infinito se perdem. Quem os vê? quem os alcança? quem os mede?