Trilhos Serranos

O CONTO QUE VOS CONTO

TERCEIRA PARTE

Chegados aqui, reunidas todas as peças, constatamos que temos um pénis teso e hirto junto de um traseiro de nádegas bem redondas, juntinhos e virados ao céu. Um pouco mais afastado temos um par de seios flácidos e mamilos chupados; temos duas vaginas, uma intacta, talvez virgem, e outra com marcas evidentes de mutilação; temos uma caveira totalmente descarnada; temos duas facas que nenhum talhante hodierno se atreveria a levantar e, finalmente, um par de testículos decepados e colocados na parte mais elevada do fraguedo, qual troféu de glória.
Face a tais achados, não podendo nós contar com a «celulazinhas cinzentes» de Poirot e outros que tais, nem com as técnicas científicas forenses hodiernas,  faltava-nos alguém com lucidez bastante para dar significado ao espólio. Que fosse capaz de fazer entender, nos tempos modernos, o que terá acontecido no tempo dos ciclopes, pois todas as peças eram ciclópicas.

O CONTO QUE VOS CONTO


SEGUNDA PARTE

Cogitando nisto, pegámos nas espingardas, preparámo-nos para perseguir as perdizes, gatinhámos por um penedo arriba, mesmo ao lado do achado e, já em riba dele, demo-nos conta que estávamos sobre as nádegas bem torneadas de um corpo humano colocado de bruços, de tamanho proporcional à primeira descoberta. Ah! Exclamei de mim para mim, a coisa compõe-se. Matéria já não falta para o conto. Tivesse eu engenho e arte e daria a conhecer, pela escrita, algo inédito, algo jamais saído do tinteiro do Mestre ou da pena de qualquer outro escriba, plagiador, citador ou parafraseador, que tão bem se sentisse entre os faunos dos fraguedos,  como entre os humanos catequizados na doutrina anti pagã, para quem era pecado somente falar de sexo, quanto mais praticá-lo. 

O CONTO QUE VOS CONTO

PRIMEIRA PARTE

A magia semeada pelas montanhas e pelos bosques não falta por estes sítios. É só descobri-la e colhê-la. Nestes lugares, ora assustadores, ora deslumbrantes, há sempre algo de novo que se depara ao passante, seja ele pastor, lenhador, pedreiro, explorador, caçador ou simplesmente eremita temporário que, nos tempos modernos, tal como os da Idade Média, aqui procura refúgio, fugindo da selva humana citadina, empestada de todos os poluentes físicos e morais.
Desta vez, os nossos olhos, esvoaçando pelas quebradas da Nave atrás de perdizes, quedaram-se num penedo de forma bizarra. Ele tanto parecia um  tortulho, um gasalho na sua juventude de «frade», à espera da idade adulta para assumir a forma de chapéu de chuva aberto, como parecia um pénis humano gigante fossilizado e, ainda, algo de semelhante ao foguetão que, do Cabo Canaveral,  lançou  no o espaço a primeira nave em direcção à lua.

PROTECÇÃO AO VINHO CONCELHIO

Agora que os nossos vinhos correm mundo, cada vez mais apreciados pela sua qualidade, agora, que, na América, acabam de receber um galardão em homenagem aos «EXPLORADORES PORTUGUESES», eu cá, no meu cantinho, também vou «explorando» e divulgando o que posso e devo sobre a História Local.
Por isso digo que, decorrendo o ano de 1768, no dia 20 de Julho, os representantes políticos e forças vivas do concelho, assinaram uma «súplica» dirigida a Sua Majestade, que é do seguinte teor:

SERRA DA NAVE

Disse há dias, e mantenho hoje, que o léxico oral campestre apetrechou o meu linguajar antes do léxico dicionarizado, usado por professores, padres e doutores, que, de cabo a rabo, não distinguiam uma enxada de um exchadão, nem a relha de um arado da sua rabiça. Não Aquilino Ribeiro que conhecia tudo isso muito bem, e disse ser desejo seu «morrer com a enxada na mão, como o cavador da sua aldeia».