Trilhos Serranos

GENTES DA SERRA

Um senhor transmontano, HERMENEGILDO BORGES, natural de Loivos, foi metido recentemente  no meu rol de amigos mercê das linhas que tecem as «redes sociais».  Ligado a intituições judiciais e com obra publicada sobre a matéria,  entusiasmado com a minha escrita envidou todos os esforços para adquiir o meu livro «JULGAMENTO» editado em 2000. E conseguiu essa façanha pela arte a manha de quem conhece as linhas usadas pelo alfaiate. Logo a seguir sugeriu para eu fazer uma NOVA EDIÇÃO, pois via ali conteúdo de interesse, não só literário, mas também de conhecimento histórico e social. Desiludi-o. Apesar de estar no pleno gozo dos meus direitos de autor, por incumprimento vergonhoso dos deveres contratuais da editora, cujo nome omito intencionalmente, disse-lhe que não  iria investir algo mais que fosse nessa matéria.  E por ali nos ficámos.

Acontece que, dando voltas aos meus arquivos digitalizados encontrei o texto que resolvi partilhar aqui, pois é matéria que deu corpo a esse meu «romance histórico»  publicado e esgotado. Foi e é assim:

 

HISTÓRIA

Já fiz extensa crónica sobre a MESA DE CENTRO (de marmorite) com elementos escultóricos decorativos chineses, quer na base, quer na coluna, quer no tampo. Interroguei-me sobre o número de figuras em relevo patentes no seu todo, nomeadamente, três dragões  (na base), três elefantes (no meio da coluna)  e três beldades femininas (na parte cimeira)  que sustentam o tampo. Ao todo, somam  NOVE, número tão usado na CULTURA OCIDENTAL, patente que está nas NOVENAS CRISTÃS e ritos afins. Falei nas nove BADALADAS DAS TRINDADES (3+3+3=9), falei nos NOVE responsos a que aludem alguns testamentos, falei nos “TRÊS VINTÉNS”, tesouro que a donzela devia levar ao altar no dia do casamento e aludi ao facto de, perdidos que fossem os TRÊS VINTÉNS, daí a NOVE MESES, se a natureza seguisse o seu curso normal, teríamos nova vida. Concluindo que o número NOVE está, seguramente ligado à vida, à fertilidade e, consequentemente, arrimo e amparo de crentes e supersticiosos.

A NATUREZA

Neste meu rudo

Esforço de leitura

Escrita e estudo,

Por estas bandas da serra

Do Montemuro,

“HISTÓRIA, EMPATIA E CULTURA

Acabava eu de tomar o pequeno almoço na “Pastelaria Charme”, em Castro Daire, no passado dia 2, cerca das 10 horas, e estava a escrevinhar uma crónica sobre o “PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL DE MOÇAMBIQUE”, Capitão General Francisco de Melo e Castro (em serviço nos anos 1752-1755), baseado num estudo assinado pelo meu ex-professor ALEXANDRE LOBATO, na Faculdade de Letras da Universidade de Lourenço Marques (há muito falecido), crónica onde registei o meu desalento de “ver, definitivamente, calados, sem voz nem palavra, tantas amigos que eu ouvia e me ouviam, que me liam e eu os lia,  que estimava e me estimavam”, quando junto de mim chegou o amigo, Fausto Teixeira, de Pendilhe, há muito conhecedor dos trilhos de investigação que piso e deixo pegada, perguntando-me, naquela sua atitude tímida e simples, se podia interromper-me a tarefa e eu lhe dispensava um minuto. 

RETORNO SAUDOSO 

Prestes a chegar aos meus 84 anos de vida  (v.g. no próximo 10 de junho) quando vejo  ficar, definitivamente, calados, sem voz nem palavra, tantas amigos  que eu ouvia e me ouviam, que me liam e eu lia,  estimava respeitava, sabe-me bem retornar às décadas de 60-70 e, cheio de vigor e vida, entrar no barco que, rasgando as águas do ÍNDICO, tinha ao leme o PROFESSOR ALEXANDRE LOBATO.