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quarta, 05 julho 2023 17:17

CASTRO DAIRE - REQUALIFICAÇÃO URBANA

Escrito por 

OBRAS DE SANTA ENGRÁCIA

Quem não sabe, só não sabe, porque não quer saber. É que sobre esta matéria da REQUALIFICAÇÃO URBANA e outras ADJETIVAÇÕES afins, não falta informação bastante disponível na Internet, matéria acessível aos simples curiosos e aos especialistas da régua e esquadro, mais conhecidos por ENGENHEIROS E ARQUITETOS. 

É só saber ler, navegar no “mare magnum” da WWW e, através de um simples motor de busca, num  “ai” sai-nos dos lábios um triplo “ai, ai, ai” face às novidades que, em redor de nós, se vão “requalificando”, «reabilitando» «conservando» ou «mudando». isto é, que, em redor de nós, vemos o que “era e deixou de ser”, mudança sem que tenham sido cumpridas as mais elementares regras a que isso obrigava, segundo os cónegos do específico múnus, ou seja a conciliação harmoniosa e funcional do PASSADO com o PRESENTE, por forma dar sentido e identidade ao FUTURO

Para justificar este meu espanto e desencanto deixo aqui as palavras de alguns “especialistas” que se deram ao cuidado de “ensinar quem não sabe”.

 

 PRIMEIRA PARTE

A -O QUE É A REQUALIFICAÇÃO? PRINCÍPIOS E CONCEITOS”.

“O termo, no setor da construção civil, conta com pouco mais de vinte anos. Embora recente, é possível ver projetos de requalificação de casas ou edifícios um pouco por todo o setor. Todavia, ainda levanta algumas questões. O que é requalificação e qual a diferença entre requalificação e reabilitação?

Para quem se inicia na área, ou é um curioso e quer saber um pouco mais a fundo sobre o setor da construção civil, principalmente no contexto urbano, é importante entender o que é requalificação, ou regeneração, que normalmente se faz de casas ou edifícios um pouco por toda a urbanidade”.

Lido isto e visto “aquilo”, sim “aquilo”, sem curar de saber quanto “metal sonante” quanto “ferro” saiu dos cofres municipais, isto é, do bolso dos contribuintes,  prosegui a pesquisa e não tardei a deparar-me com o texto de GRAÇA MOREIRA, Professora Auxiliar da FAUTL, sobre a REQUALIFICAÇÃO URBANA. E diz ela:

B - Este conceito designa o processo de transformação do espaço urbano, compreendendo a execução e conservação, recuperação e readaptação de edifícios e de espaços urbanos com o objetivo de melhorar as suas condições de uso e de habitabilidade, conservando, porém, o seu caráter fundamental” (DGOTDU,1981).

 SEGUNDA PARTE

PALACETEFace ao que, lido, visto e compreendido “isto”, olhando para “aquilo” e levando em conta os dois textos anteriores, assinados por DOIS especialistas nestas coisas, o primeiro, a dizer que o conceito “conta com pouco mais de vinte anos”, e o segundo, seja qual for a obra em mudança, deve-se “conservar o caráter fundamental”  dela. É ISSO. Esta observação técnica/histórica e estética, fez-me lembrar aquela ideia e aquele desenho publicados no jornal “Notícias de Castro Daire”, em 1995 (quem falava em REQUALIFICAÇÃO E ADJECTIVAÇÕES AFINS?) cuja ilustração repesco para aqui (e agora) por imperativo de cidadania. É que, por enquanto, com MEMÓRIA FRESCA e OPINIÃO FUNDAMENTADA recuso-me a imitar Santo Hilário, num templo minhoto, que, segundo me contou o meu amigo (agora falecido) senhor Manuel Araujo e Gama ex- chefe de Finançasconvenientemente, submissamente, obedientemente, subservientemente, dizia SIM, SIM, SIM, com a cabeça, à força do cordel puxado pelo sacristão de serviço. Voltarei a esse desenho mais adiante.

Não. Nada tenho de santo, nem anjinho. Fiz uma entrevista em vídeo ao responsável pelas obras, Luís Aveleira, que se fizeram no JARDIM PÚBLICO, logo no princípio, com a promessa de voltar ao assunto mais tarde. E sem ninguém me encomendar e PAGAR o sermão elogiei o facto de se ter tirado toda aquela sebe de buxo que o cercava, arejando assim e espaço e retirando-lhe o aspeto de um cemitério para todo o passante na ESTRADA NACIONAL N. 2. Mas a pensar que o JARDIM continuaria JARDIM e não virava um EIRADO ou uma PRAÇA onde se mataram as FLORES e se semearam a granel lajes de granito facetado, igualzinhas aquelas que revestiram o muro de betão armado de suporte ao cemitério. Ali, virado ao Paiva, virado aos pinhais de Pepim e do Cimal. Ali, onde se podia poupar muito dinheiro fazendo um muro da rachão saído de qualquer pedreira e assente por um qualquer MESTRE DE OBRAS de aldeia. Funcional, seguro, eterno.

Deixando, porém,  essa obra-prima, “estética e ecologicamente enquadrada” (ao contrário, claro está) volto ao espaço que foi JARDIM que, como tal, correu mundo em POSTAIS ILUSTRADOS, orgulho identitário da sede do concelho. Historiei esse espaço desde as primeiras expropriações feitas em 1919 pelos autarcas de então. A sua preocupação (aquilo é que eram homens) foi expropriar as hortas, quintais e pardieiros que estavam entre a Capela de Santo António e as QUATRO ESQUINAS. Visavam e conseguiram criar um LARGO onde as pessoas se pudessem encontrar, passear, conviver, socializar. Era gente republicana e da “res publica” tinha ideias claras, sociais, estéticas e práticas.

TERCEIRA PARTE

quiosque-1Os tempos mudaram. Veio o Estado Novo e o JARDIM PÚBLICO virou JARDIM SALAZAR até ao 25 de abril. Foi “REQUALIFICADO” pelo Dr. César da Costa Santos, então Presidente da Câmara Municipal de Castro Daire. Não sem ter cometido o erro colossal de inviabilizar a extensão do escadório das Carrancas até ao Calvário, não expropriando os terrenos onde se levantaram os prédios que lá estão. Errro urbano de  palmatória. A vila perdeu para sempre um BEM utilitário e estético que só pode ser recuperado demolindo os prédios feitos nesse espaço. Fizeram-se novos sanitários, o espaço perdeu o nome SALAZAR, mas continuou a ser JARDIM mau grado um QUIOSQUE de alumínio à entrada a destoar aberrantemente do conjunto. E foi isso que me levou a conceber e a publicar o DESENHO acima referido. Aquele que ilustra a crónica com o sugestivo título; «ESTA IDEIA É DE BORLA»

Nele se previa abrir algumas “lojas” sob a rua das Carrancas destinadas à venda de jornais, serviço de turismo e produtos de artesanato. Na rua das CARRANCAS, com começo nas QUATRO ESQUINAS, far-se-ia um avançado de metro do lado esquerdo, a grade atual acompanhava o avanço e ficava lá um passeio permitindo  que os peões que ali se deslocassem entre o Mercado Municipal  e a Praça de Táxis não andassem às cotoveladas os espelhos os automóveis. Nada. A ideia «ERA DE BORLA»

Fiz o desenho, publiquei-o, mas não sem primeiro fazer um estudo de viabilidade económicafinanceira. Falei com o empresário da Serração de Casais de D. Inês, senhor António Luís de Almeida e ele me garantiu que se o EXECUTIVO aceitasse o projeto e lhe desse a concessão de exploração durante DEZ ANOS, ele suportaria  por inteiro o custo das obras. Já faleceu há muitos anos. Não foram feitas as obras e temos lá “aquilo” que vemos. Ficamos sem os espaços subterrâneos para jornais, turismo e artesanato. Agora temos «aquilo». Mas «aquilo» destoa como destoava o quiosque de alumínio. Não se enquadra. Aquilo é uma obra bicuda. Aqui a «música» é outra, assim a modos que para o QUADRADO.

Na altura, muita gente apreciou a ideia. Houve disso eco público. Mas um vereador do executivo perguntou-me se eu “queria fazer ali um centro comercial”. Não dei resposta pois pergunta trazia consigo a tacanhez de quem a fez. 

quiosque-1 - CópiaA ideia morreu no jornal, mas não na mente do HISTORIADOR  e do MUNÍCIPE  que sempre desejou o melhor para a sua terra. Que mais não tem feito senão tentar arrancá-la da “costumeira estagnação”. Não tenho sido bem-sucedido, mas nunca me deixei ir em modas de “arrivismos modernaços», como aqueles dos “passeios largos” a servir de valetas, no inverno, nem ruas “estreitas” com “agrafes” laterais, muito necessários nos meios urbanos onde se movimentam multidões de peões, mas bem escusados nos meios rurais, desertificados e sem gente. Mas temos gente e temos ideias mais CONFORMES com a nossa IDENTIDADE. Talvez o «arranjo»  que fiz «aquilo» com nome estrangeiro e tudo, esteja mais conforme com os textos dos «gurus» acima citados  referindo-se à matéria em apreço.

Em duas palavras: um HISTORIADOR  e um MUNÍCIPE que, como tem dado provas, defendendo o PROGRESSO e o DESENVOLVIMENTO material e mental das nossas TERRAS E DAS NOSSAS GENTES, mas que se recusa a ir em MODAS e a aceitar, sem crítica, o que de fora vem sem nada de IDENTITÁRIO com aquilo que fomos e somos. Guio a minha cidadania pela máxima de  Skiner: «nem tudo o que é velho é mau e nem tudo o que é novo é bom». E um livro que li, há muitos anos (sou do tempo em que se liam livros) o seu autor dizia que “uma sociedade militarizada tendia a tornar-se mais militarizada. Que uma sociedade burocrática tendia a tornar-se mais burocrática”. E eu digo agora, por experiência local,   que uma “socciedade de pedra, tende a vestir-se e a engravata-se de pedra”.  Só pedras. Pedra sobre pedra. Flores? Nem uma Margaridinha daquelas que bordejam os nossos carreiros e caminhos. 

 Esta REQUALIFICAÇÃO URBANA, assumida ou não como OBRAS DE SANTA ENGRÁCIA é, seguramente, um “case study”. Um “case study” sério, estético, histórico, funcional e financeiro.

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Abílio Pereira de Carvalho

Abílio Pereira de Carvalho nasceu a 10 de Junho de 1939 na freguesia de S. Joaninho (povoação de Cujó que se tornou freguesia independente em 1949), concelho de Castro Daire, distrito de Viseu. Aos 20 anos de idade embarcou para Moçambique, donde regressou em 1976. Ler mais.