Não. Não é o título do belo poema de Pedro Homem de Melo, cantado e recantado pelas grandes vozes portuguesas, que soa bem no ouvido de todas as pessoas da minha geração. Não. Este povo são as mulheres de Cujó que, nos meus tempos de criança, iam lavar a roupa para aquela poça do rio Calvo, a jusante da ponte que existia e existe no caminho que levava e leva aos terrenos de Vale de Carvalho, Touça, Rio Mau, Moirisca, e todos os montes que estavam para lá do Santo António e do Senhor da Livração. Sítio conhecido, agora, como então, por PONTE, aquela passagem que deu o nome ao moinho hidráulico que existe perto dela e, recentemente, ao templete que abriga uma imagem da Nossa Senhora, a SENHORA DA PONTE.
Perguntar-me-ão a razão por que, aos 74 anos de idade, faço esta incursão na memória. Eu dir-vos-ei que é a sina de quem, mergulhado no estudo do passado, esbarra não só com os documentos escritos, com edifícios, solares, castelos e igrejas, casas cobertas de colmo, choupanas espalhadas por lameiros e tapadas, património material construído, mas também com os documentos orais, artefactos arqueológicos de comunicação, tão frequentes nessa «ágora» feminina, onde as mãos das mulheres «bate-que-bate, esfrega-que-esfrega», lavando a roupas suadas do esforçado trabalho do campo, também «bate-que-bate» com a língua, lavavam a vida e os pecados da aldeia.